quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Com redes sociais, Obama compartilha a tribuna do Estado da União

Ashley Parker
Em Washington (EUA)
 
  • 29.jan.2014 - Jewel Samad/AFP
    Barack Obama fala no discurso anual do Estado da União, na terça-feira (29) Barack Obama fala no discurso anual do Estado da União, na terça-feira (29)
O Twitter se transformou rapidamente na câmara de compensação do saber comum e uma câmara de eco em tempo real de grandes eventos políticos, de modo que não causou surpresa na noite de terça-feira (29) quando também se tornou o fórum onde as opiniões a respeito do discurso do Estado da União do presidente Barack Obama pareciam cristalizar antes mesmo de ele terminar de falar.

"Uma mídia compartilhada onde todos podem escutar", disse Mike Murphy, um estrategista republicano.

"Uma câmara pública para a mídia e elite política", disse Erik Smith, um estrategista democrata e fundador da Blue Engine Message and Media.

O poder do Twitter de moldar o debate (para melhor ou pior) esteve em exibição pouco antes de Obama começar, quando o deputado Randy Weber, republicano do Texas, postou uma mensagem cheia de erros que chamava o presidente de "ditador socialista", o que rapidamente se tornou viral.

De fato, a capacidade do Twitter de concentrar os comentários explica por que, na competição feroz para controlar a narrativa política, legisladores, candidatos, agentes políticos e até mesmo o presidente estão cada vez mais recorrendo a ele e outras redes sociais. A batalha continua a mesma, mas agora eles tentam prevalecer 140 caracteres de cada vez.

"O senso comum é como um concreto de secagem rápida na era do Twitter --ele não demora muito para solidificar", disse o senador Charles E. Schumer, democrata de Nova York. "O Twitter é uma das formas mais rápidas de moldar a opinião."

O discurso do Estado da União gerou uma adoção bipartidária de novas plataformas de compartilhamento de foto e vídeo, e uma corrida para criar gráficos tuitáveis e hashtags sincronizadas para amplificar as mensagens. Democratas e republicanos competiram para tornar seus pontos de vista majoritários, frequentemente sem se preocupar com o que o presidente dizia de fato.

Os republicanos do Congresso se reuniram em torno das hashtags Close TheGap para enviar sua mensagem de redução da desigualdade de renda, e YearOfAction, para pedir a Obama que adotasse algumas das principais propostas deles ao longo do ano –é claro, especialmente depois de o presidente ter pedido por um "ano de ação" em seu discurso, YearOfAction decolou tanto entre republicanos quanto democratas.

E, talvez mais notadamente, os republicanos montaram "estações de gravação" no Vine, a plataforma de propriedade do Twitter para compartilhamento de vídeos de seis segundos, e no Instagram para permitir aos membros de sua bancada gravarem respostas curtas que pudessem compartilhar antes, durante e depois do discurso.

Quando Obama chegou à parte de seu discurso onde ele disse estar disposto a contornar o Congresso por meio de ordens executivas, o deputado Paul Gosar, republicano do Arizona, estava pronto. Como se aproveitando a deixa, ele tuitou um vídeo pré-gravado no Vine dele sentado atrás de sua mesa e declarando: "Se o presidente tem uma caneta e um telefone, nós temos a Constituição".

Na semana passada, os republicanos trouxeram Sean Evins, o gerente de parcerias do Twitter, para explicar as melhores formas de usar o Vine --os democratas fizeram o mesmo em novembro. A mensagem de Evins foi simples: use o Vine e outras plataformas de redes sociais para aproximar os eleitores.

"Você pode gravar um Vine ou enviar um tuíte a partir de seu bolso de um ponto de vista diferente daquele que seus eleitores teriam ao assistir a TV", disse Evins.

Um ponto de vista que os republicanos ofereceram em particular foi vislumbres de perto do astro da série "Duck Dynasty", Willie Robertson, usando uma bandana, com vários legisladores republicanos postando fotos de si mesmos ao lado dele.

"Eu apoio 'Duck Dynasty'", escreveu o deputado Steve Stockman do Texas.

Os democratas do Congresso também foram encorajados a gravar vídeos curtos repetindo os temas do governo e compartilhados nas redes sociais. Os legisladores estavam coordenando hashtags para ressaltar as principais metas democratas para o ano, incluindo, no Senado, MinimumWage (para aumento do salário mínimo por hora para US$ 10,10) e RenewUI (para renovação dos benefícios do seguro-desemprego de emergência que expiraram em dezembro).

Para não ficar para trás, a Casa Branca postou gráficos e tabelas durante o discurso de Obama, repetindo os temas que eram compartilhados no Facebook e no Twitter com um clique.

Os defensores argumentam que quando as redes sociais funcionam de modo apropriado, elas podem ter um efeito democratizante.

"Não precisa ser um detentor de cargo ou mesmo um membro da imprensa", disse Joe Trippi, consultor democrata que foi um dos primeiros a adotar as redes sociais. "Basta ser um cidadão que diz algo interessante e chama a atenção de um repórter, de um detentor de cargo ou de um blogueiro, e repentinamente isso é pego pelo Twitter e pode acabar se transformando em um dos tuítes que definem o ponto de vista das pessoas sobre o que acontece no discurso."

Uma hashtag que pareceu pegar organicamente foi SOTUinThreeWords (Estado da União em três palavras).

"Boehner rosto carrancudo SOTUinThreeWords", escreveu um usuário do Twitter. A mensagem não se tornou viral, mas era verdadeira: ao longo de grande parte do discurso, o presidente da Câmara, John A. Boehner, permaneceu sentado carrancudo e impassível atrás do ombro esquerdo do presidente.

Tradutor: George El Khouri Andolfato