quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A espantosa irresponsabilidade dos que confundem direito com militância

A espantosa irresponsabilidade dos que confundem direito com militância

Blog Reinaldo Azevedo - Veja

Ouvi há pouco no Jornal Nacional que os advogados dos manifestantes — quem contrata quem nesse caso? — que representavam Fabrício Proteus Chaves, o rapaz baleado por PMs depois de resistir à prisão e ameaçá-los com um estilete, foram destituídos pela família. Proteus passará a ser defendido apenas pela Defensoria Pública.
 
O rapaz prestou depoimento nesta quarta. Sim, ele admitiu que avançou sobre os policiais com um estilete, mas diz que o fez depois de ter tomado um primeiro tiro. Acredite quem quiser. Admitiu também que os badulaques da mochila (próprios para o confronto com a PM) eram mesmo seus, exceção feita aos explosivos. O depoimento desmoraliza a história da luta de um coitadinho contra uma PM assassina. A família sabe disso. A Defensoria Pública sabe disso. A estratégia agora é a de redução de danos.
 
E o que fizeram os tais advogados que servem à causa? Afirmaram que Proteus prestou depoimento sob efeito de… morfina — sugerindo que não estaria plenamente consciente dos seus atos. É um escândalo moral. Já se tratou com morfina, leitor amigo? Eu já. Sim, dá uma felicidade imensa, sabem? Mas porque tira a dor. Só por isso. O uso hospitalar da droga, sob controle médico, não altera a consciência de ninguém. Trata-se de uma acusação delinquente.
 
Durante o depoimento, além dos advogados, estavam presentes familiares do rapaz e o defensor público Carlos Weis, que não pode ser considerado exatamente um amigo da polícia.
 
Os tais advogados estão bravos porque, acho eu, no fundo, eles estão pouco se lixando para o ex-cliente. Proteus havia se transformado numa causa. Como o seu depoimento — mesmo com aquela história de que só sacou o estilete depois do primeiro tiro — desmoraliza a história da carochinha da luta entre o paladino da liberdade a a PM carniceira, então eles se saem com essa história ridícula e, acho eu, eticamente grave.
 
Já que a OAB tem o monopólio da concessão do registro profissional, acho que a sua Comissão de Ética deveria se interessar pelo caso. Clientes não podem ser instrumentos de manipulação em favor de causas — por mais nobres que possam ser. E advogados não podem, do nada, acusar a Polícia, a Defensoria Pública e os familiares do cliente de participarem de uma farsa — e foi isso que eles fizeram. Estariam todos compactuando de um crime. A propósito: não está caracterizada aí a falsa comunicação de um crime, uma conduta prevista do Código Penal, que também vale os para os advogados? Não custa notar: eles não fizeram uma acusação no melhor interesse do seu cliente, não é?