Folha de São Paulo
Que fim vai ter este tumulto ninguém parece saber, nem mesmo os donos e administradores do dinheiro grosso do mundo. Motivos específicos também não estão claros, se é que existem.
No entanto, a coisa começou a desandar na metade do mês, parece, silenciosamente.
Era então que as Bolsas americanas começavam a balançar, nada nem de longe grave, como ainda não o é agora. Nos mesmos dias, as taxas de juros de títulos da dívida pública americana passavam a cair (isto é, houve mais compras desses títulos, refúgios em momentos de incerteza ou desastre).
O que acontecia ali pelo dia 15? Nada de relevante.
Uma semana depois, haveria más notícias, mas nada assim de balançar o coreto. Houve uma prévia ruim da produção industrial chinesa. Houve a decisão do banco central da Turquia de não mexer nos juros, apesar do deficit externo e da inflação ruins.
Sabe-se que muitos países, os ditos "emergentes", estão com alguns problemas econômicos, em geral excesso de consumo. Mas essas febres estão altas faz tempo.
O clima não estava bom, está certo. Mas pode ter ocorrido simplesmente que alguns donos do dinheiro tenham decidido reorganizar suas aplicações, lucrar noutras freguesias ou com outros tipos de ativo financeiro ("investimento").
Aconteceu no ano passado: com a mudança da política monetária americana, houve uma liquidação de ativos financeiros de países emergentes, como o Brasil.
Como se recorda, o valor do real, entre o de outras moedas, despencou de junho a agosto. Depois, ficou bom fazer negócio, comprar na baixa (para fazer uma simplificação grossa), e o clima melhorou.
A diferença em relação aos dias tumultuados de agora é que falta um detonador mais claro da movimentação de dinheiro. A segunda rodada de redução de estímulo monetário nos EUA, decidida ontem, também não era novidade (assim como os casos de China e Turquia).
Teria sido a confirmação simultânea das tendências recentes de mudança na economia global que teria causado o revertério? Quer dizer, estaria agora de vez evidente que haverá menos dólar para "emergentes" e ativos de risco em geral porque o BC dos EUA vai continuar a apertar a torneira aberta desde 2008, porque a China vai comprar menos mercadorias dos "emergentes" dependentes. O crédito, pois, ficará escasso, ainda mais para quem está endividado e/ou consumindo demais.
Não é novidade. Mas é o que temos, de menos misterioso.
O tumulto, como de costume, se retroalimenta. Na dúvida, muita gente entra na liquidação, vendendo tudo o que se pareça: Turquia, Argentina, Brasil, África do Sul, Índia. Quando o mercado vai separar o roto do muito esfarrapado?
Há ainda o risco de acidentes. Nessas liquidações, há risco de gente já com água pelo nariz sofrer prejuízos. Fundos de investimento (ora no centro da ação) que fizeram apostas erradas perdem dinheiro. Pode ser que se afoguem sozinhos, pode ser que devam para muito mais gente, quiçá bancos.
Não há notícia desse tipo de ruína, mas de onde se menos espera é que vêm desastres. Para ficar num caso doméstico, recorde-se como várias boas empresas brasileiras foram à breca em 2008 porque faziam uma farra irresponsável com derivativos cambiais.