O espetáculo reforça a paródia de um texto quase esquecido
CAROLIN OVERHOFF FERREIRA - Folha de São Paulo
O título engana. Em sua penúltima peça, de 1973, Nelson Rodrigues (1912-1980) fez sobretudo um apanhado de todos os seus temas, personagens, da sua técnica cênica de baralhar temporalidades. Inova sequer no desfecho da trama. Poderia ser um final feliz, se não fosse tão autoirônico como toda a peça.
Na direção de Eduardo Tolentino de Araújo, o Grupo Tapa, em sua ocupação do mítico Teatro de Arena, apresenta um espetáculo que reforça a paródia deste texto quase esquecido. Demonstra conhecimento íntimo do universo rodrigueano. Seja através da trilha sonora que debocha do imaginário romântico, seja por meio do figurino (Lola Tolentino) que cita os anos 70 e expõe a breguice dos personagens.
O desafio de representar no espaço circular de arena é resolvido com interpretações de grande qualidade. Movimentando poucos móveis para criar os diferentes ambientes, o elenco dá vida ao palco.
Augusto Zacchi é Oswaldinho, o playboy mimado, filho da alta sociedade decadente. Com suas atitudes tolas, que vão do roubo das joias da mãe até a ocupação do cargo de diretor de umas das empresas da família, é presença quase constante. Sua caricatura de um mulherengo patético e infantilizado somente se esgota um pouco no final.
Como sempre nas famílias rodrigueanas, Oswaldinho é idolatrado pela mãe (Clara Carvalho) e odiado pelo pai (Riba Carlovich), que oferecem excelentes sátiras destes papéis. A cena do jantar em que a troca de insultos acaba em um balé de esgrima com os talheres é divertidíssima.
Ótimo também o pai carrancudo mas romântico (Oswaldo Mendes) da donzela Joice (Carol Cashie), que não resiste ao charme pouco discreto desta burguesia.
ANTI-NELSON RODRIGUES
QUANDO de qui. a sáb., às 21h; dom., às 19h; até 2/2
ONDE Teatro de Arena da Funarte Eugênio Kusnet, r. dr. Teodoro Baima, 94, tel. (11) 3256-9463
QUANTO R$ 20
CLASSIFICAÇÃO 16 anos
AVALIAÇÃO bom