‘FT’: investidores perdem US$ 285 bi no Brasil em três anos
- Intervenção do Estado na economia está piorando a situação do país, avaliam especialistas
O GLOBO - O Globo
Nos últimos três anos, quase US$ 285 bilhões em investimentos estrangeiros “evaporaram” entre janeiro de 2011 e novembro de 2013, informou o jornal “Financial Times” (FT), numa análise crítica, citando números do Banco Central. A cifra leva em conta o fluxo de entrada de capitais no período (pouco mais de US$ 260 bilhões) e a redução no saldo de ativos em posse de estrangeiros (de US$ 1,351 trilhão para US$ 1,327 trilhão, queda de US$ 24 bilhões). O “FT” somou esta retração no estoque (US$ 24 bilhões) aos US$ 260 bilhões que entraram no país para chegar ao valor de capital “destruído” no período.
Trata-se de uma destruição de valor sem precedentes, diz o jornal, e analistas temem que o processo continuará a não ser que o crescimento global ganhe ritmo rapidamente ou haja um virada na política econômica, o que é improvável até as eleições de outubro, afirma o periódico.
As perdas se deveram à desvalorização de ativos no país e à desvalorização cambial. O jornal afirma que alguns atribuem a situação desfavorável à condições da economia global, mas outros dizem que o Brasil vai especialmente mal devido ao advento de “um tipo local de capitalismo de estado”. A intervenção estatal é apontada, em partes, como causa da própria crise brasileira.
O diretor de mercados emergentes do Citibank, David Lubin, declarou ao jornal: “Um problema para os investidores é a dificuldade para confiar no modelo de crescimento do Brasil”. Ele aponta o intervencionismo do governo como um problema sério, o que pode ser verificado na mudança de papéis de bancos privados e públicos. “Na valorização dos anos anteriores à crise, bancos privados representavam dois terços do crédito no Brasil e o bancos públicos, um terço. Mas enquanto os bancos privados ficaram nervosos com a extensão do endividamento para consumo e restringiram as concessões, o governo mandou os bancos públicos avançarem. Agora, eles respondem por mais da metade de todo o crédito — muito dele em empréstimos subsidiados fornecidos pelo BNDES, o banco de desenvolvimento com o hábito de tentar escolhar vencedores corporativos.”
A tendência intervencionista também afeta a Turquia e a África do Sul, diz Lubin, do Citi, mas o Brasil foi mais afetado pela desvalorização cambial (30% em três anos). O estrategista para mercados emergentes do Deutsche Bank, John-Paul Smith, faz coro, afirmando que os efeitos nocivos da mão pesada do estado nos negócios ainda estão para aparecer.
Mas o “FT” lembra que nem todos os investidores perderam dinheiro no Brasil. e que, em anos anteriores, o país entregou retornos apetitosos. “Durante 2009, de acordo com o banco central, o valor de ativos em posse de estrangeiros aumentou de US$ 150 bilhões para US$ 376 bilhões — um incremento de cerca de US$ 227 bilhões, num ano em que os fluxos de entrada foram de apenas US$ 37 bilhões, implicando criação de valor de US$ 190 bilhões apenas em ativos durante o período.”
A queda no valor do dólar de investimentos estrangeiros no Brasil ocorreu pelas variações nas taxas de câmbio, que afetam o valor em dólares de ativos e variações nos preços em moeda local desses ativos, que são convertidos de volta em dólares nos dados do Banco Central. Etre janeiro de 2011 e novembro de 2013, o real perdeu quase 30% do seu valor em relação ao dólar. No mesmo período, o principal de São Paulo índice de bolsa de valores perdeu um quarto do seu valor em moeda local.