quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Com dados mais fracos da indústria na China, dólar sobe mais de 1% e fecha a R$ 2,40

Com dados mais fracos da indústria na China, dólar sobe mais de 1% e fecha a R$ 2,40

  • Relatório da Pimco, gestora de recursos, sobre o Brasil amplificou mau humor do mercado
João Sorima Neto - O Globo, com agências internacionais
 
 Números mais fracos da indústria da China fizeram o dólar comercial se valorizar nesta quinta-feira frente a moedas de países emergentes, entre elas o real. No fim da sessão, a divisa americana se valorizou 1,26%, e encerrou cotada a R$ 2,401 na compra e R$ 2,403 na venda, a maior cotação desde o dia 22 de agosto de 2013, quando o dólar fechou a R$ 2,432. Na máxima do dia, a divisa americana foi cotada a R$ 2,405 (alta de 1,39%) e na mínima a R$ 2,371 (queda de 0,04%).

Colaborou para o pessimismo dos investidores no mercado doméstico, um relatório publicado pela Pimco, maior gestora de bônus emergentes do mundo, avaliando que o clima para investimentos no Brasil foi caracterizado em 2013 por qualquer coisa menos "Ordem e Progresso", numa alusão à inscrição da bandeira brasileira.

Moedas de países exportadores de commodities, como o dólar australiano, o dólar da nova Zelândia e o peso mexicano, recuaram frente à moeda americana nesta quinta. O dado chinês também fez as Bolsas asiáticas e europeias encerraram em queda. O índice Dax, da bolsa de Frankfurt, recuou 0,92% e o índice cac, da Bolsa de paris, perdeu 1,02%. Nos Estados Unidos, os principais índices acionários também apresentavam quedas superiores a 1%.

"Os investidores estão cautelosos após um relatório decepcionante sobre a indústria da China", disseram analistas do banco Wells Fargo numa nota.

O índice dos gerentes de compras (PMI, na sigla em inglês) sobre a atividade industrial chinesa caiu para 49,6 pontos em janeiro - menor nível em seis meses -, de 50,5 pontos em dezembro, segundo dados preliminares divulgados pelo instituto de pesquisas Markit Economics em parceria com o banco HSBC. Números acima de 50 pontos sugerem expansão da atividade, enquanto valores abaixo desse nível apontam contração.

O Banco Central fez mais dois leilões de contratos de swap cambial. No primeiro, ofereceu 4 mil contratos novos, totalizando US$ 197,8 milhões. No segundo, foram rolados 25 mil contratos que vencem em 3 de fevereiro, totalizando US$ 1,2 bilhão. Após os leilões, o dólar se desvalorizou momentaneamente frente ao real. Mas no início da tarde, o dólar retomou a trajetória de valorização.

- Por aqui, as atuações do Banco Central limitaram momentaneamente uma depreciação mais significativa do real, mas a moeda seguiu a tendência do exterior - diz João Paulo de Gracia Correa, da corretora Correparti.

Relatório da Pimco amplia mau humor dos investidores

Para amplificar o mau humor do mercado, a gestora de recursos Pimco, divulgou em seu site que a alocação de recursos para o Brasil deve ser moderada devido à volatilidade vista nos mercados emergentes pela redução dos estímulos do Federal Reserve (banco central americano) à economia dos Estados Unidos e antes da eleição presidencial no Brasil em outubro.

"O Brasil precisa ancorar a política econômica sob uma rigorosa e crível meta de superávit primário, em vez de executar o mix atual de política fiscal expansionista, empréstimos públicos subsidiados e política monetária cada vez mais apertada", escreveu o co-responsável pela equipe de gestores do portólio de emergentes da Pimco Michael Gomez.

Gomez disse ainda que embora existam ativos atrativos no Brasil, a instauração da "ordem" no mercado financeiro local é incerta a menos que políticas efetivas sejam restauradas.

"Investidores em mercados emergentes devem ser agora cautelosos com o Brasil, especialmente devido ao recente fraco desempenho", disse. Ao mesmo tempo, ele avalia que "os ingredientes para retornos atrativos em renda fixa no Brasil no longo prazo estão dados".

Com China, Ibovespa recua

O Ibovespa, principal índice do mercado de ações brasileiro, seguiu o pessimismo do mercado externo e fechou em queda de 1,99% aos 48.320 pontos e volume negociado de R4 6,8 bilhões. A Bolsa brasileira também foi influenciada pelos dados da economia da China, com impacto especialmente as ações da Vale e da Petrobras, e pelo relatório da Pimco.

- Hoje o fiel da balança foi a China. Saíram números mais positivos do desemprego nos EUA e, no mercado doméstico, o IPCA-15 veio abaixo do esperado. Mas mesmo assim, houve uma queda generalizada nas Bolsas globais, por causa do dado mais fraco da indústria da China. Nosso mercado está muito volátil - afirma Rogério Oliveira, especialista em bolsa da corretora Icap.

O número de novos pedidos de seguro-desemprego nos Estados Unidos subiu em 1 mil na semana encerrada em 18 de janeiro, para 326 mil, após ter registrado 325 mil na semana anterior, segundo dados do Departamento do Trabalho. O número foi um pouco melhor do que as estimativas, já que analistas esperavam alta para 327 mil novas solicitações.

Pela manhã, o Ibovespa chegou a ficar no azul, puxado pela alta de ações ligadas aos setores de consumo e construção, após um dado mais fraco de inflação medida pelo IPCA-15. Mas a abertura negativa dos mercados americanos, com o dado mais fraco da indústria chinesa e da própria indústria americana, fizeram o índice retomar a tendência de desvalorização do início do pregão. Na reta final do pregão, o relatória da Pimco azedou ainda mais o humor dos investidores.

Segundo o instituto Markit, o setor industrial dos Estados Unidos reduziu o ritmo de crescimento no início de 2014. O Índice dos Gerentes de Compras (PMI, na sigla em inglês) saiu de 55 em dezembro para 53,7 em janeiro. Foi a primeira queda do indicador desde outubro, embora ele se mantenha acima de 50 pontos, o que sinaliza expansão da economia.

Os da Vela e da Petrobras foram os que mais sofreram. Os papéis PNA da Vale recuaram 2,61% a R$ 28,19, enquanto as ações preferenciais da Petrobras perderam 2,33% a R$ 15,51. Já entre as ações de bancos, Itaú Unibanco PN teve queda de 1,98% a R$ 29,66 e Bradesco PN perdeu 2,25% a R$ 26,90.

A maior alta do Ibovespa foi apresentada pelas ações ordinárias da construtora Brookfield, com ganho de 20,72% a R$ 1,34. De acordo com um operador, a ação subiu diante de rumores de que a empresa pode fechar seu capital.

- O papel da Brookfield é um dos três mais alugados no mercado, com os investidores apostando na queda do papel. Muita gente com papéis alugados foi às compras após os rumores do fechamento de capital. Isso fez as ações dispararem - disse o operador.

Juro futuro tem queda com alívio no IPCA-15

Hoje o Banco Central também divulgou a ata da reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), realizada na semana passada, em que a Selic (taxa básica de juros) foi elevada em 0,5 ponto porcentual, a 10,50% ao ano. No documento, o Comitê afirmou que a "política monetária deve permanecer especialmente vigilante". Segundo o BC, a inflação ainda mostra resistência "ligeiramente acima da que se antecipava", o que sinaliza novas altas da taxa de juro.

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) informou que a inflação medida pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo - 15 (IPCA-15) desacelerou para 0,67% em janeiro, ante taxa de 0,75% registrada em dezembro. As taxas de juros dos contratos de Depósitos Interfinanceiros (DIs) estão em queda, refletindo o dado do IPCA-15. As taxas subiram bastante após o Copom ter elevado a taxa de juro Selic na semana passada. A taxa do contrato de janeiro de 2015 recuava de 11,05% para 10,98% e o papel com vencimento em janeiro de 2017 recuava de 12,47% para 12,39%.