quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

É hora de ocupar o lugar do BNDES, diz presidente do Bradesco

É hora de ocupar o lugar do BNDES, diz presidente do Bradesco

Em entrevista ao site de VEJA, Luiz Carlos Trabuco afirmou que o governo deve aproveitar o momento para tranquilizar o mercado: 'é hora de corresponder às expectativas'

Ana Clara Costa, de Davos - Veja
 
 
Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco
Luiz Carlos Trabuco Cappi, presidente do Bradesco (Germano Luders)

O presidente do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco, é figura recorrente no Fórum Econômico Mundial, em Davos. Quando se desloca até a pequena estação de esqui nos Alpes suíços, troca o terno sisudo de executivo por um traje mais à vontade (casaco, camisa e calça), mas não menos apropriado para o clima gelado da cidade. “Venho a Davos para aprender. Não a trabalho”, afirmou o banqueiro, que também aproveita o encontro, que reúne as cabeças coroadas do mundo dos negócios, para conversar com investidores.

 Em entrevista ao site de VEJA, Trabuco afirmou que a redução da participação do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) no credito às empresas abrirá espaço para o mercado de capitais. “A hora é de criar condições para ocupar o lugar do BNDES. Temos um espaço bem definido no Brasil. Mas vamos, sim, ganhar mercado”, afirmou. Confira trechos da conversa:

Os investidores ainda estão desapontados com o Brasil?
O sentimento que percebo é que o Brasil se impõe, principalmente devido ao mercado interno e ao bônus de infraestrutura que temos. É um país que vai produzir 200 milhões de toneladas este ano. Isso faz diferença. Eu não vejo nenhum investidor que desconsidere o Brasil e não queira aproveitar as oportunidades. Por outro lado, o mundo está numa transição. Os Estados Unidos retomaram o crescimento e a Europa se recupera. Então o Brasil tem de se diferenciar ainda mais. O país tem que atender às expectativas e mostrar disciplina fiscal e monetária. Tem que respeitar o desejo dos investidores de participar das concessões, por exemplo.

A participação do investidor estrangeiro foi tímida nas concessões. O problema ainda é a taxa de retorno?
Não. Ela está ajustada. Houve um problema no início, mas agora isso está superado. O investidor pode ser financiador via mercado de capitais. E eles estão dispostos a marchar junto com o empresariado brasileiro nisso.

O sistema financeiro do Brasil, bem regulado, foi um dos pontos fortes da confiança externa na economia do país nos últimos anos. A participação do BNDES, Banco do Brasil e Caixa na economia trouxe dúvidas em relação a essa confiança nos bancos?
Para nós, é muito natural que o papel dos bancos públicos seja de estímulo em momentos adversos, já que eles são os mais adequados para fazer política anticíclica. Mas o ciclo de expansão do crédito público não é um voto perpétuo, pois o lastro dessa expansão é o Tesouro. O talento é saber quando diminuir os estímulos para não comprometer a solvência do Estado. Quando isso acontece, é desastroso. O BNDES já revisou seu orçamento e deu as diretrizes da nova política. Então, agora é a hora do funding via lançamentos de papéis, debêntures de infraestrutura. É hora de criar condições para ocupar o lugar do BNDES. E nós temos um espaço bem definido no Brasil. Temos negócios com mais de 2 milhões de empresas e nossa missão é ser um banco de crédito. Mas vamos, sim, ganhar mercado.

O senhor se refere a financiar empresas como JBS e Marfrig?
Essas empresas vão demandar instrumentos novos de financiamento e essa é nossa missão. Emissão de dívida, mudar o perfil dos vencimentos, alongamento de dívidas. É isso que vamos fazer.

Mesmo reduzindo a atuação do BNDES, o Brasil ainda levanta dúvidas no lado fiscal, sobretudo com o risco de rebaixamento das agencias de classificação de risco. Isso se projeta no investimento?
Isso acaba sendo um ponto de atenção. As agências de classificação de risco são soberanas. Mas, mas no final do dia, vão considerar a capacidade de solvência do país e sua disposição em fazer uma politica monetária ativa. O FMI deu projeção de crescimento superior a 2% para o Brasil, maior até que muitos economistas brasileiros. É um momento de coerência, de crença dos instrumentos que o país possui para cumprir suas metas. Mas, sem dúvida, o que agrada ao mercado é que o Estado, por mais forte que seja, abra caminho para o investimento privado. É aí que as obras acontecem, pois o capital passa a trabalhar a favor do país, aumentando a arrecadação de impostos, o emprego e a renda.

Há um pessimismo exacerbado em relação ao Brasil. A vinda da presidente Dilma a Davos tem como objetivo melhorar a imagem do país junto ao investidor estrangeiro. Acredita que seja suficiente?
A economia tem muito de psicologia. Migra-se de um polo a outro com muita facilidade. Quando isso acontece, não tem outro remédio além do olho no olho, da transparência e do foco em criar um clima de confiança, pois é ele que gera empatia do mercado. E a presença da presidente Dilma significa uma disposição do governo em falar de maneira mais aberta sobre o papel do Brasil nesse novo ciclo econômico. E isso deve ajudar muito.