MARCELO LEITE - Folha de São Paulo
Se os rolezinhos forem mesmo um movimento de protesto contra o apartheid social, como querem alguns setores progressistas, a pesquisa Datafolha sobre o fenômeno do verão vem confirmar que a população da cidade é bem conservadora: 82% dos paulistanos se dizem contra os encontros de jovens da periferia em shopping centers.
A condenação da atividade é geral, sob qualquer recorte que se faça da pesquisa com 799 moradores da capital maiores de 16 anos.
A média dos que apoiam as reuniões é de meros 11% e aumenta muito pouco -considerada a margem de erro da pesquisa, de quatro pontos percentuais, para baixo ou para cima- mesmo entre aqueles dos quais seria de esperar certa aprovação.
Moradores da zona leste, o maior bolsão de exclusão social da cidade? Apenas 8% de aprovação, a menor de todas. Jovens? Só 18% dos que têm até 24 anos se declaram favoráveis aos rolezinhos.
Além deles, os maiores contingentes de apoio -ainda assim, uma franca minoria- se encontram entre os mais ricos (16% entre os que ganham mais de dez salários mínimos mensais) e mais escolarizados (14% dos que têm nível universitário).
A hipótese mais provável para essa aprovação ligeiramente superior entre os de maior renda e maior escolaridade é que haja entre eles um número maior de pessoas "de esquerda". Ou seja, mais propensas a adotar a explicação de que os rolezinhos são uma reação organizada de jovens contra a exclusão social e a discriminação racial.
PRAIA TRANQUILA
O Datafolha atesta o lugar-comum de que os centros de compras são a praia dos paulistanos: 73% vão ao shopping pelo menos uma vez por mês (e 25%, toda semana). E quem vai à praia quer tudo menos algo que se pareça, mesmo de maneira remota, com um arrastão.
As atitudes que mais incomodam os paulistanos nesse ambiente são as correrias (70%), gritarias (54%) e aglomerações (46%). Sua tradução preferida para o verbo "zoar", muito usado nas convocações de rolezinhos pelas redes sociais, é "provocar tumulto" -verdadeiro objetivo das reuniões para 77% dos ouvidos pelo Datafolha.
O propósito declarado dos adeptos dos rolezinhos -"apenas se divertir"- convence não mais que 18% dos paulistanos. Tamanha desconfiança é o que deve estar por trás da constatação de que 83% dos entrevistados que têm filhos menores de 25 anos não concordariam com sua participação num desses encontros.
SEM VIÉS RACIAL
Nada nessas opiniões dos paulistanos, por certo, exclui a possibilidade de que na raiz dos rolezinhos esteja uma certa irrelevância social de legiões de jovens de periferia, muitos dos quais não estudam nem trabalham. É plausível, dada essa condição, que queiram apenas "causar", chamar a atenção -como não deixam dúvida suas roupas e suas músicas.
O que o Datafolha revela é que, na população, as interpretações mais benignas do fenômeno, por assim dizer sociológicas, parecem contar com pouca simpatia. De outra maneira, como explicar que tantos defendam a pura repressão das reuniões?
Para 80% dos entrevistados, os lojistas agem corretamente ao buscar a Justiça para proibir os encontros. Outros 73% consideram que a Polícia Militar deve ser acionada para impedi-los. E 72% acham que não há preconceito de cor na reação dos shoppings, em aberta contradição com a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros (PT), para a qual há "discriminação racial explícita".
O grupo que avalia haver, sim, preconceito racial na atitude dos lojistas não ultrapassa um quarto dos entrevistados (exatos 25%). Como seria de esperar, entre os que se declaram da cor preta é maior o número dos que identificam reação preconceituosa, mas ainda assim menos de um terço do total (32%). E entre os que se autoclassificam como pardos, supostamente também mais visados, só 23% têm essa opinião.
De todo modo, a repulsa à discriminação é geral: 73% afirmam que os shoppings não têm o direito de escolher quem pode e não pode entrar neles. A não ser, é claro, que a galera da periferia apareça fazendo confusão
Se os rolezinhos forem mesmo um movimento de protesto contra o apartheid social, como querem alguns setores progressistas, a pesquisa Datafolha sobre o fenômeno do verão vem confirmar que a população da cidade é bem conservadora: 82% dos paulistanos se dizem contra os encontros de jovens da periferia em shopping centers.
A condenação da atividade é geral, sob qualquer recorte que se faça da pesquisa com 799 moradores da capital maiores de 16 anos.
A média dos que apoiam as reuniões é de meros 11% e aumenta muito pouco -considerada a margem de erro da pesquisa, de quatro pontos percentuais, para baixo ou para cima- mesmo entre aqueles dos quais seria de esperar certa aprovação.
Moradores da zona leste, o maior bolsão de exclusão social da cidade? Apenas 8% de aprovação, a menor de todas. Jovens? Só 18% dos que têm até 24 anos se declaram favoráveis aos rolezinhos.
Além deles, os maiores contingentes de apoio -ainda assim, uma franca minoria- se encontram entre os mais ricos (16% entre os que ganham mais de dez salários mínimos mensais) e mais escolarizados (14% dos que têm nível universitário).
A hipótese mais provável para essa aprovação ligeiramente superior entre os de maior renda e maior escolaridade é que haja entre eles um número maior de pessoas "de esquerda". Ou seja, mais propensas a adotar a explicação de que os rolezinhos são uma reação organizada de jovens contra a exclusão social e a discriminação racial.
Editoria de Arte/Folhapress | ||
PRAIA TRANQUILA
O Datafolha atesta o lugar-comum de que os centros de compras são a praia dos paulistanos: 73% vão ao shopping pelo menos uma vez por mês (e 25%, toda semana). E quem vai à praia quer tudo menos algo que se pareça, mesmo de maneira remota, com um arrastão.
As atitudes que mais incomodam os paulistanos nesse ambiente são as correrias (70%), gritarias (54%) e aglomerações (46%). Sua tradução preferida para o verbo "zoar", muito usado nas convocações de rolezinhos pelas redes sociais, é "provocar tumulto" -verdadeiro objetivo das reuniões para 77% dos ouvidos pelo Datafolha.
O propósito declarado dos adeptos dos rolezinhos -"apenas se divertir"- convence não mais que 18% dos paulistanos. Tamanha desconfiança é o que deve estar por trás da constatação de que 83% dos entrevistados que têm filhos menores de 25 anos não concordariam com sua participação num desses encontros.
SEM VIÉS RACIAL
Nada nessas opiniões dos paulistanos, por certo, exclui a possibilidade de que na raiz dos rolezinhos esteja uma certa irrelevância social de legiões de jovens de periferia, muitos dos quais não estudam nem trabalham. É plausível, dada essa condição, que queiram apenas "causar", chamar a atenção -como não deixam dúvida suas roupas e suas músicas.
O que o Datafolha revela é que, na população, as interpretações mais benignas do fenômeno, por assim dizer sociológicas, parecem contar com pouca simpatia. De outra maneira, como explicar que tantos defendam a pura repressão das reuniões?
Para 80% dos entrevistados, os lojistas agem corretamente ao buscar a Justiça para proibir os encontros. Outros 73% consideram que a Polícia Militar deve ser acionada para impedi-los. E 72% acham que não há preconceito de cor na reação dos shoppings, em aberta contradição com a ministra da Igualdade Racial, Luiza Bairros (PT), para a qual há "discriminação racial explícita".
O grupo que avalia haver, sim, preconceito racial na atitude dos lojistas não ultrapassa um quarto dos entrevistados (exatos 25%). Como seria de esperar, entre os que se declaram da cor preta é maior o número dos que identificam reação preconceituosa, mas ainda assim menos de um terço do total (32%). E entre os que se autoclassificam como pardos, supostamente também mais visados, só 23% têm essa opinião.
De todo modo, a repulsa à discriminação é geral: 73% afirmam que os shoppings não têm o direito de escolher quem pode e não pode entrar neles. A não ser, é claro, que a galera da periferia apareça fazendo confusão