terça-feira, 15 de janeiro de 2019

"Profissionalmente de férias", pior Nizan Guanaes

Viajar dá três coisas fundamentais à vida, repertório, network e visão global



Eu levo essa históri a de viajar muito a sério. Este ano tem poucos feriados, mas eu, disciplinado que sou, já programo as férias no início do ano para bem aproveitá-las e ver o que está acontecendo no mundo.
Neste 2019, estão na minha lista a imperdível Bienal de Veneza, a megaexposição da Dior em Londres e o musical disruptivo que está chacoalhando a Broadway, “Choir Boy”, sobre um garoto negro que canta num coral e abala as estruturas de uma escola tradicional dos EUA.
 
 
Volto energizado desses lugares. Eles alimentam a minha imaginação e a minha alma. Eu descanso, e a minha cabeça trabalha.
Neste ano vou correr duas maratonas: a de Londres, em abril, e a de Berlim, em setembro. Vou aproveitar a semana em Londres para fazer um curso na School of Life. Depois de Berlim, vou dar um pulo em Veneza para ver a Bienal.
Sou workaholic. Acordo às 5h, treino duas horas, e isso me dá energia e estamina para trabalhar apaixonadamente. Chego ao escritório às 8h da manhã e saio às 8h da noite.
Eu vivo da minha criatividade, eu vivo da minha cabeça. É preciso alimentá-las constantemente. E só com muita disciplina eu arrumo tempo para alimentar a cabeça e refrigerar a alma viajando. Meus clientes sabem que faço isso em benefício deles.
Viajar dá três coisas fundamentais à vida: repertório, network e visão global.
A gente aprende tanto vendo o futuro quanto vendo o passado. Foi Florença que me inspirou a passar férias na Califórnia. O Vale do Silício e Los Angeles são hoje a encarnação da cidade renascentista de Florença de 1542, quando nasceu Leonardo da Vinci, que, como bem demonstrou Walter Isaacson, é o Steve Jobs de seu tempo, e vice-versa.
“O mundo é bão Sebastião”, como diz a música. Eu viajo por ele não só viajando propriamente dito mas lendo livros, revistas, jornais, assistindo à Netflix de maneira feroz. E é tanta coisa para ler que aprendi com meu genro um app sensacional chamado Blinkist, que resume os livros do momento de maneira impecável. 
Eu tento ler um livro a cada 15 dias. Não é muito. Fernando Pessoa lia um livro por dia. Mas é impossível ler todos os livros que eu gostaria. Por isso o Blinkist é uma mão na roda.
Apesar de tudo isso, existem momentos no ano em que eu procuro lugares para não fazer nada. Como Saint Barth. Lá, ninguém me conhece. Eu passo o dia de calção e Havaianas. Procuro desligar do celular (isso é quase verdade) e ficar com a natureza. A natureza é uma bela leitura, uma bela pintura, uma bela canção.
A cidade de Saint Barth é pequenina. Por ser de difícil acesso, suas praias estão intocadas, e as pessoas ficam protegidas também. Por isso, todo fim de ano estão lá famosos como Michael Jordan, Paul McCartney e Leonardo DiCaprio, que passeiam como anônimos como eu.
Faço maratona e triatlo, e meus treinadores têm uma frase que é fundamental: descansar também é treino. Antigamente, as pessoas se gabavam de não tirar férias, de dormir pouco, de não cuidar da saúde. Isso é coisa do passado.
Aprendi nesses 40 anos de empreendedorismo e muito trabalho que, se você quer que algo seja feito, dê a tarefa a uma pessoa muito ocupada. Elas têm tempo para tudo. Os desocupados não têm tempo para nada. Sou superocupado, mas sempre encontro tempo para viajar e me divertir.
Esta coluna foi feita depois de correr 10 km e está sendo escrito na deliciosa sombra de uma árvore. Viajar é uma grande decisão empresarial. Por isso, repito uma frase da superworkaholic e bem-sucedida Diana Vreeland: os olhos precisam viajar.
Nizan Guanaes
Publicitário, fundador do Grupo ABC

Folha de São Paulo