Um Sonho de Liberdade
(The Shawshank Redemption, 1994)
Tim Robbins é o jovem banqueiro que, nos anos 1930, vai parar num presídio horrível – e só a amizade de um veterano das grades interpretado por Morgan Freeman o ajuda a suportar as décadas seguintes e a bolar um plano verdadeiramente sensacional. É o filme de prisão mais comovente e envolvente já feito: nove entre cada dez pessoas que eu conheço simplesmente não conseguem se mover do sofá quando está passando na TV.
O Babadook
(The Babadook, 2014)
Amelia convive com a morte; é enfermeira num asilo e perdeu seu marido num acidente horrível a caminho da maternidade. Agora, seu filho começa a dar sinais de quanto esse clima o afeta: Sam está obcecado pela ideia de monstros. Constrói armas para se defender deles e imagina sua proximidade. Tentando manejar o medo dele, Amelia começa, ela própria, a pressentir uma presença sinistra em sua casa. A australiana Jennifer Kent estreou na direção com uma bela demonstração de como até os elementos mais repisados do terror podem ganhar vida nova quando tratados com profundidade.
O Labirinto do Fauno
(Pan’s Labyrinth, 2006)
Na criação mais extraordinária de Guillermo del Toro até hoje (bate fácil fácil A Forma da Água), uma menina de 11 anos tenta escapar do medo, da opressão e da violência que a cercam adentrando um conto de fadas de sua criação. As imagens que Del Toro cria são magníficas; é um desses filmes que ficam impressos na memória pelos anos seguintes.
O Lagosta
(The Lobster, 2015)
Colin Farrell tem 45 dias para achar uma parceira romântica e ser aceito por ela; caso contrário, conforme determina a lei, terá de se deixar transformar num animal de sua escolha (ele elege uma lagosta; seu irmão, que falhou no processo, agora é um cão que vai pela coleira com ele). E aí Rachel Weisz aparece no seu caminho. O diretor Yorgos Lanthimos, que este ano está arrebentando com A Favorita, inventa a distopia mais engraçada – e assustadora – da década.
Spartacus
(1960)
Kirk Douglas, então o maior astro do cinema, é Spartacus, o gladiador que, nos anos 70 a.C., lidera uma maciça revolta de escravos contra o Império Romano. O elenco é uma constelação de estrelas (Laurence Olivier, Tony Curtis, Peter Ustinov etc.), e a belíssima direção vem com a assinatura de Stanley Kubrick – que tinha apenas 32 anos e já a reputação de ser um sujeito terrivelmente difícil. Fichinha para Douglas, que fizera o estupendo Glória Feita de Sangue com Kubrick três anos antes e preferia passar dor de cabeça no set a ver um resultado medíocre na tela. O roteiro é do grande Dalton Trumbo, a quem Douglas tirou da “lista negra” da perseguição anticomunista.
O Homem que Não Vendeu Sua Alma
(A Man for All Seasons, 1966)
O diretor Fred Zinneman era um craque: entre Matar ou Morrer, A Um Passo da Eternidade, O Dia do Chacal e muitos clássicos mais, adaptou a peça de Robert Bolet e dirigiu um elenco maravilhoso – Paul Scofield, Robert Shaw, Orson Welles, Susannah York etc. etc. – na única defesa que (me) convence de Thomas More, o conselheiro do rei Henrique 8º que fez o que pôde para impedir que ele se divorciasse de Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena. Com um texto de babar e a direção esplêndida, é um prazer que nunca se esgota.
Zootopia
(2016)
As princesas de Frozen que me desculpem, mas é esta a melhor animação da Disney nesta década: graciosa, movimentada, colorida e transbordando de tiradas espertas, é irresistível a história de Judy, uma coelhinha que acaba de ingressar na força policial da cidade de Zootopia e está determinada a demonstrar que o que lhe falta em tamanho lhe sobra em iniciativa. A prova? De tão intrépida, Judy se junta ao seu inimigo natural – a raposa trambiqueira Nick – para desvendar uma conspiração. Só a cena da preguiça que atende no balcão do Detran já valeria tudo.
Os Outros
(The Others, 2001)
Histórias de fantasmas dificilmente ficam mais arrepiantes do que esta aqui, em que Nicole Kidman está para enlouquecer de tanto ficar trancada com os filhos – que têm alergia à luz – numa mansão escura e isolada, com a companhia apenas de seus estranhíssimos empregados (destaque para Fionnula Flanagan, que tem o dom de meter medo seja qual for o seu papel). Uma perfeição assinada pelo espanhol Alejandro Amenábar, que nunca mais faria outro trabalho à altura deste.
Amor a Toda Prova
(Crazy, Stupid, Love, 2011)
Julianne Moore pede o divórcio de Steve Carell, que entra em parafuso. Emma Stone rejeita Ryan Gosling, que nunca foi rejeitado antes e fica intrigado. E Jonah Bobo, de 13 anos, tenta declarar a Analeigh Tipton, de 17, a sua paixão. Entretecendo esses desencontros, a dupla de diretores Glenn Ficarra e John Requa (de O Golpista do Ano, em que Jim Carrey e Ewan McGregor vivem um amor também ele tortuoso), tira uma comédia romântica não apenas charmosa, como cheia de observações interessantes sobre a natureza das ligações amorosas.
Chef
(2014)
Um chef badalado dá um piti de tal proporções que acaba expulso do próprio restaurante. A solução? Cair na estrada com um food truck, na companhia do filho de 10 anos e de um ajudante de cozinha que é uma figura. No cardápio, queijo derretendo dentro de pão tostado com muita manteiga, pernil bem assado e desfiado, churrasco abafado durante toda a noite, mandioca frita. Um sonho. Em Chef, é essa a verdadeira gastronomia: a que preenche, reconforta e une. E, ensanduichando esta delícia baratinha entre os Homem de Ferro e os Mogli, Jon Favreau, que dirige e interpreta o chef, reencontra seu gosto pelo cinema simples e saboroso.
Kubo e as Cordas Mágicas
(Kubo and the Two Strings, 2016)
No Japão medieval, o valente Kubo, de 11 anos, caminha todos os dias do penhasco em que mora até a aldeia próxima, para entreter os moradores com histórias de bravura encenadas com origamis mágicos, que ganham vida quando ele dedilha as cordas de seu shemisen: cego de um olho desde bebê, Kubo tem de se esconder do avô e das tias, feiticeiros poderosos que desejam roubá-lo, e cuidar da mãe, que nunca se recuperou da batalha que travou para protegê-lo. Em certo momento, porém, o inevitável acontece: Kubo tem de iniciar uma jornada junto de alguns companheiros bondosos mas muito peculiares. Lindo até dizer chega, o desenho da pequena produtora americana Laika é de comover até as lágrimas.
Garota Exemplar
(Gone Girl, 2014)
Ben Affleck deixou Nova York e voltou para a sua estagnada cidadezinha natal; deixou sua vida dar em nada, e seu casamento com a Miss Perfeição encarnada por Rosamund Pike azedar – azedar feio. Agora ela desapareceu e ele, claro, é o principal suspeito. David Fincher usa toda a sua monumental excelência técnica, e sua visão desassombrada e quase perversa da natureza humana, na adaptação do best-seller de Gillian Flynn, roteirizada pela própria autora.
A Grande Aposta
(The Big Short, 2015)
Esta semana entra em cartaz Vice, o novo filme do diretor Adam McKay (sim, o mesmo de O Âncora e Tudo por um Furo) com Christian Bale. Prepare-se para o estilo aloprado de McKay, que conta histórias muitas sérias de olho do absurdo que elas contêm, com este thriller/comédia sobre como o mercado financeiro americano ruiu em 2008 e arrastou mais de meio mundo consigo. Margot Robbie, no banho de espuma, explica o que é subprime, e todo mundo entende (como não?). Ryan Gosling, Steve Carell, Brad Pitt e por aí vai completam o elenco. (Quer saber mais? Clique aqui para ver o vídeo.)