quarta-feira, 30 de janeiro de 2019

Dúzia de treze: alguns filmes muito bons que entraram há pouco na Netflix, por Isabela Boscov

Um Sonho de Liberdade
(The Shawshank Redemption, 1994)
Tim Robbins é o jovem banqueiro que, nos anos 1930, vai parar num presídio horrível – e só a amizade de um veterano das grades interpretado por Morgan Freeman o ajuda a suportar as décadas seguintes e a bolar um plano verdadeiramente sensacional. É o filme de prisão mais comovente e envolvente já feito: nove entre cada dez pessoas que eu conheço simplesmente não conseguem se mover do sofá quando está passando na TV.
Um Sonho de Liberdade
 (Warner/Divulgação)

O Babadook
(The Babadook, 2014)
Amelia convive com a morte; é enfermeira num asilo e perdeu seu marido num acidente horrível a caminho da maternidade. Agora, seu filho começa a dar sinais de quanto esse clima o afeta: Sam está obcecado pela ideia de monstros. Constrói armas para se defender deles e imagina sua proximidade. Tentando manejar o medo dele, Amelia começa, ela própria, a pressentir uma presença sinistra em sua casa. A australiana Jennifer Kent estreou na direção com uma bela demonstração de como até os elementos mais repisados do terror podem ganhar vida nova quando tratados com profundidade.
O Babadook
 (Screen Australia/Divulgação)

O Labirinto do Fauno
(Pan’s Labyrinth, 2006)
Na criação mais extraordinária de Guillermo del Toro até hoje (bate fácil fácil A Forma da Água), uma menina de 11 anos tenta escapar do medo, da opressão e da violência que a cercam adentrando um conto de fadas de sua criação. As imagens que Del Toro cria são magníficas; é um desses filmes que ficam impressos na memória pelos anos seguintes.
O Labirinto do Fauno
 (Warner/Divulgação)

O Lagosta
(The Lobster, 2015)
Colin Farrell tem 45 dias para achar uma parceira romântica e ser aceito por ela; caso contrário, conforme determina a lei, terá de se deixar transformar num animal de sua escolha (ele elege uma lagosta; seu irmão, que falhou no processo, agora é um cão que vai pela coleira com ele). E aí Rachel Weisz aparece no seu caminho. O diretor Yorgos Lanthimos, que este ano está arrebentando com A Favorita, inventa a distopia mais engraçada – e assustadora – da década.
O Lagosta
 (Sony/Divulgação)

Spartacus
(1960)
Kirk Douglas, então o maior astro do cinema, é Spartacus, o gladiador que, nos anos 70 a.C., lidera uma maciça revolta de escravos contra o Império Romano. O elenco é uma constelação de estrelas (Laurence Olivier, Tony Curtis, Peter Ustinov etc.), e a belíssima direção vem com a assinatura de Stanley Kubrick – que tinha apenas 32 anos e já a reputação de ser um sujeito terrivelmente difícil. Fichinha para Douglas, que fizera o estupendo Glória Feita de Sangue com Kubrick três anos antes e preferia passar dor de cabeça no set a ver um resultado medíocre na tela. O roteiro é do grande Dalton Trumbo, a quem Douglas tirou da “lista negra” da perseguição anticomunista.
Spartacus
 (Universal/Divulgação)

O Homem que Não Vendeu Sua Alma
(A Man for All Seasons, 1966)
O diretor Fred Zinneman era um craque: entre Matar ou MorrerA Um Passo da EternidadeO Dia do Chacal e muitos clássicos mais, adaptou a peça de Robert Bolet e dirigiu um elenco maravilhoso – Paul Scofield, Robert Shaw, Orson Welles, Susannah York etc. etc. – na única defesa que (me) convence de Thomas More, o conselheiro do rei Henrique 8º que fez o que pôde para impedir que ele se divorciasse de Catarina de Aragão para se casar com Ana Bolena. Com um texto de babar e a direção esplêndida, é um prazer que nunca se esgota.
O Homem que Não Vendeu Sua Alma
 (Sony/Divulgação)

Zootopia
(2016)
As princesas de Frozen que me desculpem, mas é esta a melhor animação da Disney nesta década: graciosa, movimentada, colorida e transbordando de tiradas espertas, é irresistível a história de Judy, uma coelhinha que acaba de ingressar na força policial da cidade de Zootopia e está determinada a demonstrar que o que lhe falta em tamanho lhe sobra em iniciativa. A prova? De tão intrépida, Judy se junta ao seu inimigo natural – a raposa trambiqueira Nick – para desvendar uma conspiração. Só a cena da preguiça que atende no balcão do Detran já valeria tudo.
Zootopia
 (Disney/Divulgação)

Os Outros
(The Others, 2001)
Histórias de fantasmas dificilmente ficam mais arrepiantes do que esta aqui, em que Nicole Kidman está para enlouquecer de tanto ficar trancada com os filhos – que têm alergia à luz – numa mansão escura e isolada, com a companhia apenas de seus estranhíssimos empregados (destaque para Fionnula Flanagan, que tem o dom de meter medo seja qual for o seu papel). Uma perfeição assinada pelo espanhol Alejandro Amenábar, que nunca mais faria outro trabalho à altura deste.
Os Outros
 (Imagem Filmes/Divulgação)

Amor a Toda Prova
(Crazy, Stupid, Love, 2011)
Julianne Moore pede o divórcio de Steve Carell, que entra em parafuso. Emma Stone rejeita Ryan Gosling, que nunca foi rejeitado antes e fica intrigado. E Jonah Bobo, de 13 anos, tenta declarar a Analeigh Tipton, de 17, a sua paixão. Entretecendo esses desencontros, a dupla de diretores Glenn Ficarra e John Requa (de O Golpista do Ano, em que Jim Carrey e Ewan McGregor vivem um amor também ele tortuoso), tira uma comédia romântica não apenas charmosa, como cheia de observações interessantes sobre a natureza das ligações amorosas.
Amor a Toda Prova
 (Warner/Divulgação)

Chef
(2014)
Um chef badalado dá um piti de tal proporções que acaba expulso do próprio restaurante. A solução? Cair na estrada com um food truck, na companhia do filho de 10 anos e de um ajudante de cozinha que é uma figura. No cardápio, queijo derretendo dentro de pão tostado com muita manteiga, pernil bem assado e desfiado, churrasco abafado durante toda a noite, mandioca frita. Um sonho. Em Chef, é essa a verdadeira gastronomia: a que preenche, reconforta e une. E, ensanduichando esta delícia baratinha entre os Homem de Ferro e os Mogli, Jon Favreau, que dirige e interpreta o chef, reencontra seu gosto pelo cinema simples e saboroso.
Chef
 (Imagem Filmes/Divulgação)

Kubo e as Cordas Mágicas
(Kubo and the Two Strings, 2016)
No Japão medieval, o valente Kubo, de 11 anos, caminha todos os dias do penhasco em que mora até a aldeia próxima, para entreter os moradores com histórias de bravura encenadas com origamis mágicos, que ganham vida quando ele dedilha as cordas de seu shemisen: cego de um olho desde bebê, Kubo tem de se esconder do avô e das tias, feiticeiros poderosos que desejam roubá-lo, e cuidar da mãe, que nunca se recuperou da batalha que travou para protegê-lo. Em certo momento, porém, o inevitável acontece: Kubo tem de iniciar uma jornada junto de alguns companheiros bondosos mas muito peculiares. Lindo até dizer chega, o desenho da pequena produtora americana Laika é de comover até as lágrimas.
Kubo e as Cordas Mágicas
 (Paramount/Universal/Divulgação)

Garota Exemplar
(Gone Girl, 2014)
Ben Affleck deixou Nova York e voltou para a sua estagnada cidadezinha natal; deixou sua vida dar em nada, e seu casamento com a Miss Perfeição encarnada por Rosamund Pike azedar – azedar feio. Agora ela desapareceu e ele, claro, é o principal suspeito. David Fincher usa toda a sua monumental excelência técnica, e sua visão desassombrada e quase perversa da natureza humana, na adaptação do best-seller de Gillian Flynn, roteirizada pela própria autora.
Garota Exemplar
 (Fox/Divulgação)

A Grande Aposta
(The Big Short, 2015)
Esta semana entra em cartaz Vice, o novo filme do diretor Adam McKay (sim, o mesmo de O Âncora e Tudo por um Furo) com Christian Bale. Prepare-se para o estilo aloprado de McKay, que conta histórias muitas sérias de olho do absurdo que elas contêm, com este thriller/comédia sobre como o mercado financeiro americano ruiu em 2008 e arrastou mais de meio mundo consigo. Margot Robbie, no banho de espuma, explica o que é subprime, e todo mundo entende (como não?). Ryan Gosling, Steve Carell, Brad Pitt e por aí vai completam o elenco. (Quer saber mais? Clique aqui para ver o vídeo.)
A Grande Aposta
 (Paramount/Divulgação)
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