CARACAS - Milhares de venezuelanos saíram às ruas nesta quarta-feira, 30, para protestar contra Nicolás Maduro, apoiar o governo de transição e pedir novas eleições. O autoproclamado presidente interino da Venezuela, Juan Guaidó, apoiado por EUA e diversos outros países, conclamou os militares a se “rebelar contra Maduro” e pediu a eles que “permitam a entrada de ajuda humanitária” no país.
Empunhando cartazes que diziam “chegou Guaidó e a esperança voltou”, “Força Armada, recupere sua dignidade”, e “Maduro usurpador”, milhares de pessoas se reuniram em Caracas. “A oposição voltou a encontrar uma maioria poderosa que pode mudar o país”, disse Guaidó aos manifestantes na Universidade Central, em Caracas, “Não atirem contra um povo que também pede por sua família. É uma ordem, soldado da pátria! Basta! Pensaram que provocariam medo, mas estamos em 5.000 pontos do país.”
O líder opositor voltou a defender que militares “se rebelem contra Maduro e deixem de perseguir a população”, e afirmou que a melhor solução para não agravar a crise na Venezuela é a “criação de um corredor humanitário” no país. “Estamos trabalhando para que a ajuda humanitária chegue o mais breve possível, uma coalizão internacional vai ser criada para atender à emergência”, anunciou Guaidó na manifestação.
Entre as opções estudadas pelos Estados Unidos para enfrentar o colapso da Venezuela está a abertura de um corredor humanitário. O assessor da Casa Branca para América Latina, Mauricio Claver-Carone, disse nesta quarta-feira, 30, que “o presidente legítimo, Juan Guaidó, pediu ajuda humanitária e todos bem sabemos a urgente necessidade que existe para essa ajuda na Venezuela”. Washington disse ter prontos US$ 20 milhões para enviar em alimentos e remédios.
A ideia de abrir um canal ou corredor humanitário foi respaldada pela Assembleia Nacional da Venezuela, de maioria opositora, e por 14 países que integram o Grupo de Lima em diferentes comunicados.
O chavismo considera a criação de um “corredor humanitário” uma porta de entrada para forças estrangeiras interessadas em uma intervenção militar. O governo Maduro atribui a escassez de alimentos e remédios às sanções dos Estados Unidos. “Maduro está dissociado da realidade, não reconhece a emergência nacional”, disse Guaidó.
O presidente dos EUA, Donald Trump, telefonou a Guaidó para parabenizá-lo por “sua posse histórica” e reiterar o apoio americano à oposição venezuelana. Em comunicado, a porta-voz da Casa Branca, Sarah Sanders, disse que Trump “falou com o presidente interino, Juan Guaidó, para reforçar o forte apoio à luta da Venezuela para recuperar sua democracia e reiterar o compromisso com a ajuda humanitária ao país”.
O presidente Maduro se disse disposto a organizar eleições legislativas antecipadas e a manter um diálogo com a oposição, mas rejeitou convocar eleições presidenciais.
“Não aceitamos ultimatos de ninguém, não aceitamos a chantagem. As eleições presidenciais já ocorreram na Venezuela e, se os imperialistas querem novas eleições, que esperem até 2025”, disse Maduro em uma entrevista à agência de notícias russa RIA Novosti.
“Estou disposto a comparecer à mesa de negociações com a oposição, para falar, pelo bem da Venezuela, pela paz e pelo futuro”, declarou Maduro. “Seria muito bom organizar eleições legislativas antes, seria uma boa forma de discussão política, uma boa solução através do voto popular.”
Espanha, França, Alemanha, Reino Unido, Holanda e Portugal deram a Maduro um prazo de oito dias, no sábado passado, para convocar eleições. Caso contrário, devem reconhecer Guaidó como presidente da Venezuela para que organize novas eleições.
Nesta quarta-feira, 30, o Parlamento Europeu discutiu e aprovou o reconhecimento ao governo interino da Venezuela, e deve anunciar nesta quinta-feira o apoio a Guaidó. O líder do Parlamento, Antonio Tajani, disse que Guaidó é o “único interlocutor do Parlamento Europeu”.
México e Uruguai, que se descrevem como “países neutros” na questão da Venezuela, convocaram nesta quarta-feira, 30, uma “conferência internacional de diálogo”, com representantes dos principais países e organismos internacionais. A conferência foi marcada para o dia 7, em Montevidéu, e os organizadores afirmaram que esperam contar com a presença de pelo menos dez países.
A ofensiva de Guaidó continuará no fim de semana, com uma manifestação no sábado, quando se completam 20 anos da “revolução bolivariana”, iniciada por Hugo Chávez./ AFP, REUTERS e EFE
O Estado de S.Paulo