A Polícia Federal (PF ) cumpriu, na manhã desta quinta-feira, três mandados de prisão em uma investigação que apura o pagamento de propina do Grupo Estre, uma das maiores empresas de serviços ambientais do Brasil, para executivos da Transpetro , subsidiária da Petrobras responsável por transporte de combustível. Apelidada de "Quinto Ano", esta é 59ª fase da Operação Lava-Jato.
Acionista e ex-presidente de empresas do grupo, Wilson Quintella Filho é um dos presos. Ele é acusado de pagar, em espécie, propina para Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro que virou delator da Lava-Jato. Também foi detido o advogado Mauro de Morais, que teria usado seu escritório para fazer contratos falsos com os envolvidos no esquema e, assim, esconder a origem da propina.
Até as 8h30, a PF não tinha localizado outro executivo do grupo também alvo de mandado de prisão. Policiais também cumpriram 15 mandados de busca e apreensão para buscar documentos que possam ser utilizados para aprofundar a apuração dos delitos.
As investigações já identificaram o pagamento de R$ 22,3 milhões em verbas ilícitas que passaram pelo escritório de advocacia. Esse dinheiro faria parte de um acerto entre Machado e Quintella por 36 contratos do Grupo Estre com a Transpetro. Somados, os negócios chegariam a R$ 682 milhões entre 2008 e 2014, segundo a PF.
Os policiais notaram que, logo após a realização dos depósitos nas contas controladas por Morais, ocorriam saques fracionados em espécie. A tática de dividir saques ou depósitos é utilizada para burlar os controles do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf). Depois dos saques, de acordo com a delação de Machado, o dinheiro era entregue a ele no próprio escritório de Morais.
Na delação, Machado afirmou que recebeu R$ 2 milhões de propina por ano no período investigado, além de R$ 70 milhões no exterior. Segundo a PF, há indícios de que "diversas empresas" pagaram vantagens indevidas de "forma sistêmica".
"Calcula-se que foram repassados no período mais de uma centena de milhões de reais a agentes políticos", diz a PF.
O MPF afirma que o esquema do Grupo Estre pode ter chegado a outras empresas da Petrobras, segundo o depoimento de outros delatores: Paulo Roberto Costa, Luiz Fernando Nave Maramaldo e Adir Assad.
— Na maioria dos esquemas de corrupção identificados pela Lava Jato, foi constatado o comprometimento de importantes agentes públicos amparados por um braço político-partidário. O esquema de corrupção cuja investigação se aprofunda hoje não foge a essa regra. O ex-presidente da Transpetro, indicado e mantido no cargo pelo então PMDB , explicou que parte das propinas que recebeu foi destinada a importantes políticos do partido. É essencial que as investigações avancem e os fatos sejam completamente esclarecidos —, afirma o procurador da República Roberson Pozzobon.
Os investigados responderão pela prática dos crimes de corrupção passiva e ativa, lavagem de dinheiro e associação criminosa.
iago Dantas, O Globo