O guia para que a PGR possa trabalhar em paz, procurando não encontrar nada
— O que faz o procurador-geral?
— Procura geral. O nome já diz.
— Ah, tá. Procura o quê?
— Procura não achar.
— Não é perigoso?
— Por quê?
— Dizem que quem procura acha.
— Depende. Se procurar direito, não acha.
— Entendi. E no caso é pra não achar o quê?
— Difícil te responder isso, enquanto nada for achado.
— Imagino. Você não pode adivinhar, né?
— Pois é.
— Mas você não tem nem uma hipótese?
— Sobre o quê? Me perdi.
— Normal. Quem não acha se perde mesmo.
— Que bom que você entende a angústia de um procurador-geral.
— Entendo totalmente. E vou te ajudar: estávamos falando sobre o que o procurador-geral procura não achar.
— Lembrei. É, realmente não sei.
— Foi aí que te perguntei se você não tem uma hipótese…
— Hipótese, no caso, de quê?
— Do que o procurador-geral procura não achar.
— Ah, sim. Tenho.
— Ótimo! O que seria?
— Ladrão.
— O procurador-geral procura não achar ladrão?
— Não sei. Você pediu uma hipótese.
— Claro, claro. Mas esse “ladrão” aí é código, né? Estamos falando de que na verdade?
— De ladrão mesmo.
— Ladrão ladrão?
— Isso.
— De galinha?
— Não. De dinheiro.
— Que dinheiro?
— Dinheiro público. Que não é de ninguém, aí fica mais fácil não achar.
— Faz sentido. E o que você acha…
— Não acho mais nada. Já achei demais pra quem procura não achar.
— Desculpe, tem toda a razão. E já andaram achando demais no Brasil nos últimos anos, né?
— Demais. Se perderam de tanto achar.
— Acharam até a quadrilha do Lula.
— Lula? Que Lula?
— Também não sei. Me perdi.
— Se perdeu porque não está procurando direito. Aí acaba achando.
— Verdade. Quem acha se perde.
— Aí é a Perdição-Geral da República.
— Que horror.
— Não se preocupe. Estamos corrigindo isso.
— Que bom. Ninguém aguentava mais esse achismo.
— O que é isso?
— Achismo é quando muitas coisas são achadas.
— Ah, aí é terrível mesmo. O achismo leva ao investigacionismo.
— Que leva ao punitivismo.
— Que leva ao prisionismo.
— Que leva ao legalismo.
— Chega de ismos.
— Já bastam os abismos.
— O Brasil precisa de paz.
— Amor.
— Tolerância.
— Toga.
— Hein?
— Toga. Toga para todos.
— Para todos? Será que dá?
— É… Acho que não. Desculpe, me empolguei.
— Sem problema. Na hora do discurso a gente se empolga mesmo.
— Isso. Deixa como tá.
— Como tá, não. Como era antes.
— Me referi às togas: deixa como tá, pra voltar como era antes.
— Perfeito. Acho que encontramos o ponto.
— Jamais repita isso! Procurar, sempre; encontrar, jamais.
Revista Oeste