O touro Jamie exibe seu porte opulento enquanto caminha pela grama na Fazenda Três Marias, em Videira, a 265 km de Florianópolis (SC). De um lado para o outro, ele se movimenta sob o sol, que faz brilhar seus pelos negros diante da câmera. Longe dali, em frente à tela do computador, o animal da raça angus é arrematado por R$ 24 mil.
O leilão realizado neste mês foi um dos inúmeros eventos que tiveram de migrar para o mundo virtual durante a pandemia do novo coronavírus. Em vez de receber os interessados na fazenda, os leiloeiros transmitem pelo YouTube, pela TV ou até por aplicativos especializados.
Os eventos levantam cifras que chamam a atenção em um período de crise econômica e se mostraram ainda mais lucrativos para os criadores de animais durante o distanciamento social. Sem as grandes vendas para até 2.000 pessoas, fazendeiros economizam os gastos com montagem da estrutura, alimentação e funcionários.
Com o leilão 100% virtual, os animais também não precisam ser transportados de uma cidade a outra para participar das vendas organizadas por entidades, como os Jockeys Clubs, por exemplo.
“Num leilão presencial, gasto até R$ 120 mil para preparar o ambiente e em marketing para atrair os visitantes. Um leilão virtual custa menos de R$ 30 mil”, explica Dorival Carlos Borga, proprietário da Fazenda Três Marias e prefeito de Videira. O dinheiro, explica, vai para pagar o sistema de som, as câmeras e a equipe responsável pela transmissão, feita pelo YouTube.
Com a redução de custo, Borga faturou R$ 818 mil no último leilão virtual, ante os R$ 680 mil do evento anterior, presencial.
Borga ofereceu uma vantagem importante para quem compra pela internet: frete grátis para seus touros das raças angus, hereford, braford e brahma. Seus compradores estavam não só em Santa Catarina como também a centenas de quilômetros dali, no Paraná e no Mato Grosso do Sul.
O leilão virtual da Fazenda Três Marias abriu espaço também para a venda de terneiras, as fêmeas, normalmente pouco valorizadas. “Conseguimos um preço muito bom. A expectativa era de R$ 4.500 e chegamos a R$ 7.200 por animal”, conta Borga.
Na venda online organizada no mês passado pela Reconquista Agropecuária, de Alegrete, a 420 km de Porto Alegre (RS), os destaques foram Cosmo, um touro arrematado por R$ 42 mil, e a comercialização de 66% de uma novilha avaliada em R$ 90 mil.
Os animais do lote foram arrematados por compradores de Bahia, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso e São Paulo.
A fazenda faturou R$ 752 mil. “Eu imaginava fazer R$ 700 mil com a venda de embriões. Mas não deu tempo de chegar no lote dos embriões e ainda assim superou a expectativa”, afirma José Paulo Cairoli, proprietário da Reconquista.
“Conseguimos novos clientes e valores bons no mês de julho, que é uma época em que normalmente não são feitas as vendas. Costumo fazê-las na primavera, mas antecipei para cuidar da lavoura”, explica Cairoli, que transmitiu o evento no YouTube.
Para o gaúcho, a questão é buscar alternativas em tempos de crise. “O virtual é mais cômodo também para quem compra. Reduz os custos de viajar para olhar o leilão.”
Cairoli diz que os canais que transmitem os leilões também aumentaram. “Há dez anos, era impossível atingir diretamente os compradores. Agora podemos fazê-lo com as redes sociais.”
O bom momento dos leilões pode ter relação também com o aumento de demanda por proteína animal. “A pecuária passa por fase de crescimento mundial. A pandemia nos atrapalhou no início, mas as coisas melhoraram”, diz Nivaldo Dzyekanski, presidente da Associação Brasileira de Angus.
Paula Sperb, Folha de São Paulo