A força-tarefa montada pela Polícia Federal para as investigações que resultaram na Operação Caixa Forte 2, deflagrada nesta segunda-feira, 31, identificou um "tabelamento" para o pagamento de mesadas a integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) presos, que oscila conforme serviços prestados à facção. Valores mais altos eram pagos a quem tenha assassinado agentes públicos.
Os recursos chegavam aos integrantes via contas bancárias de familiares dos presos ou pessoas contactadas pelo PCC para receber os recursos. A força-tarefa conseguiu o bloqueio de R$ 252 milhões em 252 contas. Ou seja, a corporação acredita haver até R$ 1 milhão em cada conta. A PF ainda não tem o valor bloqueado em cada uma das contas-correntes, mas informou que os bloqueios já foram realizados.
Segundo o coordenador da operação, delegado Alexander Castro, as transferências aos integrantes da facção se baseavam em três critérios. "Os valores variavam de acordo com os motivos pelos quais os integrantes da facção foram enviados ao sistema penitenciário federal. Então se ele foi remetido ao sistema penitenciário federal por pertencer à facção criminosa, recebia "x", se por exercer algum cargo de relevo na facção, "2x", e se executou alguma missão da facção recebe o valor "3x", leia-se, ter matado algum servidor público", disse.
A Polícia Federal não confirmou se Marco Willians Herbas Camacho, o Marcola, apontado como o principal líder do PCC, está entre os investigados da operação deflagrada contra a facção nesta segunda-feira. Informou, no entanto, que toda a cúpula da organização criminosa está sendo investigada. Marcola está preso em Brasília. Entre os investigados estão integrantes do PCC que estão no exterior.
A operação
A ação busca cumprir 623 ordens judiciais - 422 mandados de prisão preventiva e 201 de busca e apreensão em 19 Estados e no Distrito Federal. As ordens foram expedidas pela 2ª Vara de Tóxicos de Belo Horizonte que determinou ainda o bloqueio de até R$ 252 milhões dos investigados.
Dos mandados de prisão e busca e apreensão, a maior parte, 100, estão sendo cumpridos no Paraná. Em São Paulo são 52. Em Santos, na casa de um dos investigados, foram apreendidos total de R$ 6 milhões entre reais e moeda estrangeira. Os mandados foram emitidos em Belo Horizonte porque, conforme o delegado Alexander, a facção tem atuação em todo o país. "Poderia ter sido em qualquer lugar", disse.
A PF informou estar atenta a possíveis retaliações que podem ser feitas pela organização criminosa a partir da operação deflagrada nesta segunda-feira. A PF aponta a Caixa Forte 2 como a maior operação no combate a facções criminosas já realizada no país.
A corporação diz ainda que a Caixa Forte 2 é um marco na atuação da PF. "A operação visa quebrar a parte financeira da organização criminosa. Não estamos mais no viés de prender membros de escalões inferiores da organização ou apenas apreender drogas", disse o delegado e coordenador geral de Repressão a Drogas e Facções Criminosas da Polícia Federal, Elvis Secco. Conforme o delegado, outras operações semelhantes vão ocorrer.
A PF informou que a ação envolve cerca de 1.100 agentes e é realizada por meio da Força Integrada de Combate ao Crime Organizado - grupo coordenado pela PF com participação da Polícia Civil de Minas, da Polícia Rodoviária Federal, e do Departamento Penitenciário Nacional. A ofensiva é aberta no dia do ‘aniversário’ da facção, que foi fundada em 1993.
Os Estados onde são realizadas as atividades da Caixa Forte 2 são: Acre, Alagoas, Amazonas, Ceará, Goiás, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Pará, Pernambuco, Paraná, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Roraima, Rondônia, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e São Paulo. Segundo a Polícia Federal, parte das ordens também são cumpridas no Chile.
Leonardo Augusto, O Estado de S.Paulo