segunda-feira, 1 de outubro de 2018

Nobel de Medicina vai para descobertas por americano e japonês que estão ajudando a revolucionar a luta contra o câncer





Secretário do Comitê Nobel de Medicina, Thomas Perlmann anunciando os vencedores do prêmio de 2018 Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP
Secretário do Comitê Nobel de Medicina, Thomas Perlmann anunciando os vencedores do prêmio de 2018 Foto: JONATHAN NACKSTRAND / AFP

O americano James Allison e o japonês Tasuku Honjo ganharam o Prêmio Nobel de Medicina ou Fisiologia de 2018 por descobertas que estão ajudando a revolucionar a luta contra o câncer. Allison e Honjo estudaram mecanismos do sistema imunológico que freiam ou bloqueiam a ação do organismo contra as células cancerosas, abrindo caminho para o desenvolvimento de novas terapias, conhecidas como inibidores de checagem imunológica, contra a doença que estão permitindo estender significativamente a vida dos pacientes, ou mesmo curá-los.
"Durante mais de cem anos os cientistas tentaram engajar o sistema imunológico na luta contra o cãncer",  lembrou o Instituto Karolinska, da Suécia, responsável pela escolha, em comunicado sobre a premiação, divulgado na manhã desta segunda-feira. "Mas até as descobertas fundamentais dos dois laureados, o progresso nos desenvolvimentos clínicos foi modesto. As terapias de checagem imunológica agora reviolucionam o tratamento do cãncer e mudaram a maneira que vemos como a doença pode ser administrada".
Hoje professor do Centro de Câncer MD Anderson da Universidade do Texas, Allison começou seus estudos de uma proteína conhecida como CTLA-4 nos anos 1990, quando era pesquisador da Universidade da Califórnia em Berkeley. Localizada na superfície das células T, uma das principais do sistema imunológico, a proteína funciona como um freio de sua ação.
Até então, os cientistas buscavam explorar o mecanismo da CTLA-4 para o tratamento de doenças autoimunes, Allison, porém, percebeu seu potencial na luta contra o câncer. Tendo criado um anticorpo capaz de bloquear seu funcionamento, ele mostrou que era possível destravar este freio, desencadeando o sistema imunológico para atacar os tumores.
Já Honjo, professor da Universidade de Kyoto desde 1984, descobriu alguns anos antes uma segunda proteína na superfície das células T conhecida como PD-1. Em uma série de experimentos, ele demonstrou que a proteína, a exemplo da CTLA-4, também funciona como um freio do sistema imunológico, mas com um mecanismo diferente.
"Das duas estratégias de tratamento, as terapias de checagem imunológica contra a PD-1 se provaram as mais eficazes, e resultados positivos têm sido observados em diversos tipos de câncer, incluindo cãncer de pulmão, renal, linfoma e melanoma ( um tipo de cãncer de pele)", destacou o Instituto Karolinska. "Novos estudos clínicos indicam que uma terapia combinada, tendo como alvo ambas CTLA-4 e PD-1, pode ser ainda mais eficaz, como já foi demonstrado em pacientes com melanoma. Assim, Allison e Honjo inspiraram esforços de combinar diferentes estratégias para soltar os freios do sistema imunológico com o objetivo de eliminar as células tumorais de forma ainda mais eficaz. Um grande número de ensaios clínicos de terapias de checagem imunológica estão em curso atualmente contra a maioria dos tipos de câncer, e novas proteínas estão sendo testadas como alvos".
Pelo Nobel de Medicina, Allison e Honjo vão dividir 9 milhões de coroas suecas (cerca de R$ 4,1 milhões).  O prêmio da categoria é tradicionalmente o primeiro a ser concedido a cada ano. Nesta terça, será anunciada a escolha na área de Física, enquanto na quarta o Prêmio Nobel  de Química encerra a lista no campo das ciências.
Já o Prêmio Nobel da Paz será divulgado na sexta-feira, com Ecnomia fechando a lista de 2018 na próxima segunda-feira. Este ano, excepcionalmente, o Prêmio Nobel de Literatura não será anunciado , com a escolha ficando para 2019, em razão de um escândalo de assédio sexual que atingiu a Academia Sueca, responsável pela escolha.
Cesar Baima, O Globo