Cineasta atribui sucesso de Bolsonaro à urgência de reerguer o Brasil
“Bolsonaro, pelo que investiguei, sempre foi um rebelde, faltava a causa”, diz Ipojuca Pontes. “E quer causa mais justa do que se indignar – e enfrentá-las – com as comanditas que exploram miseravelmente o Brasil? Tenho a impressão de que ele se fez político quando percebeu que uma boa parte da população consciente se lançou contra o establishment esquerdista. Quero dizer, aprendeu, corajosamente, a navegar a favor da maré nacionalista, patriótica e cristã que distingue a nossa população. Deu no que deu!”. Na edição desta semana da série Nêumanne Entrevista, neste blog, Ipojuca, que foi secretário nacional da Cultura no governo Collor, disse que, “para o político profissional, as bruxas podem devorar a grana saqueada do bolso do contribuinte, mas ele tem medo pânico de mexer na cova do serpentário petista. (E olha que o lema dos terceirizados do PT continua sendo o ‘Fora Temer’.) A luta para soerguer o gigante adormecido levará anos, ou décadas. Mas é urgente começar a tarefa – e Bolsonaro representa um bom e necessário começo”.
Ipojuca Pontes, jornalista e cineasta, nasceu em João Pessoa, Paraíba, e trabalhou em vários jornais e revistas do Brasil, entre os quais o Correio da Paraíba, Diário Carioca, Tribuna da Imprensa, Manchete, Jornal da Tarde e O Estado de S. Paulo, escrevendo sempre sobre cultura e política. No cinema, fez dez filmes, entre os quais Os Homens do Caranguejo, Poética Popular, Cidades Históricas, Rendeiras do Nordeste, Portrait of Vaquero, Guerrilha de Tiro Fijo e os longas-metragens Canudos, A Volta do Filho Pródigo e Pedro Mico, com Pelé e Tereza Rachel, todos premiados nacional e internacionalmente nos Festivais de Berlim, Nova Délhi, Tessalonica, Mar del Plata, Cannes, Lajes, Cartagena, Gramado e Brasília. Também escreveu os livros Cinema Cativo – Reflexão sobre a Miséria do Cinema Nacional, Politicamente Corretíssimos, Cultura e Desenvolvimento e A Era Lula – Crônica de um Desastre Anunciado, ensaios, e as peças teatrais A Manha do Barão e Brasil Filmes S/A, baixa comédia premiada em Concurso Nacional de Dramaturgia, do SNT. No teatro, produziu as peças Um Edificio Chamado 200, O Homem de La Mancha, com Paulo Autran e Bibi Ferreira, Um Bonde ChamadoDesejo e Encontro no Supermercado, ambos com Tereza Rachel, e dirigiu Os Emigrados, Prêmios Molière para os atores Sebastião Vasconcelos e Rubens Corrêa, espetáculo que compartilhou no campo teatral com o processo de anistia em curso no final dos anos 1970 no Brasil. Em 1990, foi secretário nacional da Cultura do governo Collor. No momento, Ipojuca escreve a biografia da atriz de cinema, teatro e televisão Tereza Rachel.
Nêumanne entrevista Ipojuca Pontes
Nêumanne – Em 2013, a classe média saiu às ruas para reclamar de forma veemente contra a espoliação absurda da sociedade por um Estado voraz e estroina que cobra impostos escorchantes e entrega serviços públicos deploráveis. Até que ponto o resultado do primeiro turno das eleições gerais disputado no domingo resgatou essa indignação e passou a cobrar a conta da forma insensível e cínica com que os dirigentes políticos reagiram a ela?
Ipojuca – Sem dúvida, a presença de milhões de pessoas em manifestações contra Lula, Dilma e o PT em 2013 indicavam claramente que a grande maioria do povo brasileiro, especialmente da classe média, estava indignada e disposta a varrer do mapa a gangue “organizada como um todo” – para usar aqui um jargão dos “cientistas sociais” e “formadores de opinião” das esquerdas. Nesse sentido, a genial criação do boneco inflável de Lula, o “Pixuleco”, vestido de presidiário, a percorrer o Brasil afora, foi uma demonstração cabal de que as massas não só sabiam contra quem protestavam, como, de certo modo, foram atendidas. Basta ver onde está hoje o dono do PT.
N – Em 2014, apesar de todo o frenesi do ano anterior, a presidente Dilma Rousseff se reelegeu e desgovernou de forma tão absurda e atabalhoada que terminou sendo objeto de impeachment e deposta do cargo de forma lícita e legítima. Na ocasião, o então presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, mutilou o artigo 52 da Constituição federal para permitir que ela pudesse ocupar um cargo público. Até que ponto, apesar de ser apontada como a favorita do eleitorado para uma cadeira do Senado por Minas, ela foi aposentada por uma derrota humilhante pelo eleitorado mineiro para purgar esse deslize?
I – Ninguém de bom senso desconhece que o Executivo, o Legislativo e o Judiciário, os três Poderes que teriam a obrigação constitucional de garantir o Estado republicano, foram miseravelmente aparelhados por força do aliciamento, do suborno e, no caso do Judiciário, pelo aproveitamento dos “companheiros de viagem” e ex-integrantes do próprio PT. O ato arbitrário de Lewandowvski permitindo, mais tarde, a candidatura ao Senado de Dilma Rousseff, tida como guarda do paiol de armas das organizações guerrilheiras (terroristas), diz tudo. Nas fajutas pesquisas de opinião, a mãe do PAC, que pintava de líder nas intenções de voto, foi expelida do processo pelo voto popular, corrigindo, assim, o ato “solidário” do ministro Lew (formado pela Faculdade de Direito de São Bernardo do Campo), apoiado por dona Marisa Letícia e indicado pelo dr. Lula da Selva. É bom que se diga que o povo mineiro aproveitou a ocasião e defenestrou também o encalacrado companheiro Pimentel, ex-ministro de Dilma e candidato a se reeleger governador. Na minha opinião, foi ato duplo de inelutável sabedoria política.
N – O adversário que Dilma derrotou em 2014, o tucano Aécio Neves, saiu das urnas com o crédito de 50 milhões de votos, uma votação semelhante à que Jair Bolsonaro obteve no domingo. No entanto, ele traiu o eleitorado dedicando-se ao lazer, em vez de desempenhar a função de senador por seu Estado, e sendo ainda denunciado por ter cobrado propina de empreiteiro e açougueiro para desempenhar o papel grotesco de chefe de uma oposição de araque no cenário político nacional. Mesmo se elegendo deputado federal no domingo, o senhor diria que ele levou seu partido ao cadafalso?
I – As estripulias políticas de Aécio Neves, o Sobrinho, nunca foram devidamente esclarecidas. De minha parte, sou dos que pensam que Aécio ganhou as eleições que disputou contra Rousseff. Segundo dados irrefutáveis, aquelas urnas eletrônicas foram programadas por empresa bolivariana da Venezuela – o que diz tudo. Pior, apenas 30 pessoas tiveram acesso ao espaço de apuração dos votos – uma coisa muito estranha. Mas o fato é que Aécio, fina-flor de um partido que sempre fez tabelinha com o PT, se apressou e reconheceu, horas depois, a vitória de Dilma (embora depois tenha recuado). Aqui, nunca é demais lembrar que FHC, certa feita, antes das eleições de 2002, chamou Lula ao banheiro (de mármore com pias douradas, em reforma) do Palácio Alvorada e confidenciou: “Olhe, Lula, estou fazendo a reforma desse banheiro só pra você!”. Claro, Aécio, mesmo se elegendo deputado federal, ajudou a levar o decadente PSDB ao buraco. Mas, do meu ponto de vista, no entanto, tanto quanto o vasilinoso sociólogo FHC, seu presidente de honra, com sua eterna obsessão em se postar como um intransigente paladino das drogas. Nesse saracoteio desatinado ele só ajuda a afundar ainda mais a canoa.
N – Depois de seu líder mais importante, Fernando Henrique Cardoso, ter sido acusado de ter comprado a própria reeleição e o então governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, ter empurrado goela abaixo a candidatura de João Doria Jr. a prefeito de São Paulo em 2016, o “picolé de chuchu” teve pífios 4% dos votos numa eleição presidencial em que pregou o voto útil. A seu ver, uma coisa decorreu da outra? E quais serão agora as chances de os tucanos sobreviverem a essa vergonha?
I – O político Geraldo Alckmin é uma figura: ele fala com o queixo duro do personagem de Erich Von Stroheim no filme Crepúsculo dos Deuses. Mastiga as palavras. Se vai dizer a palavra “responsabilidade”, diz “res-pon-sa-bi-li-da-de”. Ora, isso é tão desagradável quanto picolé de chuchu. Uma ou duas vezes, passa. Mas 20 vezes ao dia, não dá. Depois tem a questão da linguagem, ele fala que nem um robô, numa decoreba dos diabos. Creio que os paulistas chegaram a uma situação-limite com Alckmin. E o Brasil também. Ele devia ir pra casa, descansar. Pelo que vi, tem uma bela família e é médico – uma profissão distinta. De todo modo, ele comanda o PSDB, ao lado do FHC, o que torna a legenda ainda mais precária.
N – Do outro lado da polarização sob cuja égide o Brasil tem vivido desde a posse de Fernando Henrique Cardoso em 1994, o líder que o sociólogo derrotou naquela eleição no primeiro turno reinou no País de 2002 até 2014, quando seu poste Dilma Rousseff sofreu o impeachment. Agora, para voltar ao poder, esse cidadão, que promoveu o maior assalto aos cofres públicos no Brasil, tendo sido, por isso, condenado e preso, ungiu outro poste, que virou preposto e pau-mandado e atualmente é seu codinome, afundou o próprio partido num vexame eleitoral de proporções ciclópicas no primeiro turno, caso Fernando Haddad não consiga cumprir a difícil missão de derrotar Jair Bolsonaro, do PSL, no segundo turno. Quais são, em sua opinião, as chances de o PT reconquistar seu protagonismo?
I – Tomar o poder, como quer o condenado Zé Dirceu, o homem da DGI cubana, nenhuma, visto que Bolsonaro, que se incorporou ao consciente e subconsciente político da Nação, dificilmente deixará de ser eleito. Quem sabe, talvez, um novo Adélio ou a invocação de Exu, o Guardião das Trevas… (A propósito, dizem que Lula levou para o spa da Polícia Federal, em Curitiba, imagens presenteadas por uma pai-de-santo do candomblé baiano especializado em despachos da quimbanda). Quanto ao poste de Lula que no Nordeste atende pelo nome de Andrade, carrega ou carregava no bolso uma máscara para se fantasiar do dono do PT. Faz parte. É o chamado vale-tudo para iludir a massa indefesa. Entendo que as chances do PT agora são só no campo da oposição, dentro e fora de Brasília, num jogo bruto dez vezes maior do que foi imposto ao tolo e ignorante Collor de Mello.
N – Mesmo que Lula, vulgo Haddad, ganhe o turno definitivo da eleição, a visão do mapa eleitoral do Brasil hoje mostra seu partido limitado ao bolsão dos votos dos fundões do Brasil profundo, como aconteceu com os militares à época da ditadura, numa definição magistral de Tancredo Neves. Depois do massacre eleitoral de 2016, terá o PT chance de ainda fazer o papel de protagonista, dentro desse quadro de destruição da legenda fora do bastião do Nordeste?
I – Não há hipótese de o PT protagonizar mais nada. Lula e seu partido integrante da organização criminosa internacional que atende pelo nome de Foro de São Paulo transformaram o Brasil no maior – e pior – saco de excrementos do mundo ocidental. Os brasileiros sabem disso. E os brasileiros conscientes não perdoam isso. Mesmo no Nordeste, terreiro de Lula, Bolsonaro teve melhor desempenho do que qualquer outro candidato em eleições anteriores. Agora, com mais tempo para esclarecer melhor suas proposta sregionais, na certa terá votação mais expressiva. Na Paraíba, por exemplo, Bolsonaro ganhou em João Pessoa e Campina Grande, os dois principais redutos eleitorais do Estado.
N – Durante toda a campanha eleitoral que está em curso, políticos que sentiam o cheiro da derrota, jornalistas brasileiros ou estrangeiros apressados em seus julgamentos e intelectuais decretaram que a disputa a ser decidida nas urnas era entre direita e esquerda. Computados os votos do primeiro turno, o candidato tido como nazi-fascista teve 48,26% dos votos. Isso quer dizer que metade do povo brasileiro é radical de direita?
I – O confronto entre direita e esquerda (que o comunista moderno Manuel Castells, diluidor tardio das teses de Marshall McLuhan e guru de FHC, chama de conflito entre “populismo” e “autoritarismo”) prevalece hoje em todo mundo: Trump, Brexit, o ajuste de contas da Itália, da Hungria, etc., a decadência da Europa social-democrata e os vexames da União Europeia e da ONU, antros do parasitismo bem remunerado, são expressões do levante da “direita” contra os diversos tons da ideologia vermelha, que teima em controlar o mundo. Essa tomada de posição contra os princípios furados do marxismo e do gramscismo chegou ao Brasil há três décadas para valer. Como resultado, coortes de corporações culturais viciadas em mamar no erário para inocular o vírus do “politicamente correto” no cocuruto alheio andam em polvorosa. E com eles, milhares e milhares de subintelectuais, acadêmicos e professores universitários empenhados em repassar a gororoba “progressista” do tipo “ideologia de gênero”, gayzismo, multiculturalismo, etc., ou seja, o ideário do marxismo cultural em moda; e legiões de burocratas internalizados no aparelho do Estado para a manutenção de salários elevados e gordos privilégios; políticos mandriões engajados nas reivindicações de “igualdade e justiça social” enquanto enchem os bolsos de propinas e grossos salários, etc. – pois bem, essa gente está em pânico. Daí, a facada no único sujeito que no campo político se propôs a enfrentar essa gente de peito aberto. Quanto ao percentual de direitistas no Brasil, basta aguardar o resultado do segundo turno.
N – No começo deste ano a sociedade ordeira e produtiva do Brasil imaginou que conseguiria desmontar a máquina apodrecida da política e da gestão pública, mas teve tolhidos seus movimentos pelos chefões das organizações partidárias, que, na prática, se não impediram, no mínimo dificultaram a ação profilática de uma estrutura viciada e doente. O senhor confia que esta eleição possa extirpar esse tumor?
I – Vou ilustrar a resposta com a seguinte história. Um ingênuo assessor de Michel Temer, o hospede do Palácio Jaburu, diante do colossal déficit das contas públicas, na ordem de quase R$ 5 trilhões, perguntou ao “poseur”: “Presidente, por que o senhor não demite boa parte dos petistas que estão pendurados nos cofres do governo?”. Ao que Temer, encalacrado, respondeu: “Meu filho, eu não faço caça às bruxas. Não faço!”. Aí está: para o político profissional, as bruxas podem devorar a grana saqueada do bolso do contribuinte, mas ele tem medo pânico de mexer na cova do serpentário petista. (E olha que o lema dos terceirizados do PT continua sendo o “Fora Temer”.) A luta para soerguer o gigante adormecido levará anos, ou décadas. Mas é urgente começar a tarefa – e Bolsonaro representa um bom e necessário começo.
N – Em que momento o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro deixou de ser o líder de um movimento nostálgico da ditadura militar e passou a encarnar o justiceiro contra a rapina do PT e seus cúmplices?
I – Bolsonaro, pelo que investiguei, sempre foi um rebelde, faltava a causa. E quer causa mais justa do que se indignar – e enfrentá-las – com as comanditas que exploram miseravelmente o Brasil? Tenho a impressão de que ele se fez político quando percebeu que uma boa parte da população consciente se lançou contra o establishment esquerdista. Quero dizer, aprendeu, corajosamente, a navegar a favor da maré nacionalista, patriótica e cristã que distingue a nossa população. Deu no que deu!
N – E o Brasil tem jeito, tem?
I – O Brasil – e o mundo – tem um futuro admirável. Desde que coloque a hidra no seu devido lugar. O importante é se manter vivo e combater o bom combate.