Mesmo com as incertezas jurídicas e indicadores financeiros ruins, as distribuidoras da Eletrobrás representam uma grande oportunidade de negócios para os investidores, na avaliação de autoridades do setor elétrico.
Entre os principais interessados nas distribuidoras, estão os grupos Energisa, Equatorial, Neoenergia, CPFL e Enel, além de fundos de investimento, empresas chinesas e indianas. Os riscos relacionados ao Congresso e ao Judiciário favorecem as empresas que já atuam no País e já sabem lidar com esses aspectos, avaliam fontes do setor, em detrimento de novos entrantes.
A diretora da Thymos Energia, Thais Prandini, acredita que haverá lances para todas as distribuidoras da Eletrobrás, mesmo que o leilão tenha que ser adiado. A consultoria assessora investidores interessados na aquisição das companhias. “Se tudo for resolvido no Congresso e no Judiciário, deveremos ter propostas para todas as empresas”, avalia.
Paradoxalmente, segundo ela, quanto pior estiver a empresa em termos de indicadores financeiros e de qualidade do serviço, maior pode ser o retorno do investidor que comprá-la. Ela prevê operações de fusão no setor de distribuição nos próximos anos, mas avalia que as melhores oportunidades estão nas distribuidoras da Eletrobrás.
“Quem tiver capacidade de fazer uma boa gestão vai conseguir melhorar a situação das empresas e obter resultados em cima disso”, diz a executiva. “Quanto pior a empresa estiver, maior pode ser a oportunidade. Claro que há risco, mas também muita oportunidade.”
Nova gestão. Coordenador do Grupo de Estudos do Setor Elétrico (Gesel) da UFRJ, Nivalde de Castro acredita que um empreendedor que tenha capacidade de gestão e recursos financeiros pode reverter rapidamente perdas e ineficiências das distribuidoras.
Castro cita como exemplo empresas como a Cemar, no Maranhão, e a Celpa, no Pará, adquiridas pela Equatorial, que hoje prestam serviços de qualidade e dão retorno aos acionistas, assim como as distribuidoras que pertenciam ao grupo Rede, compradas pela Energisa. “O potencial das distribuidoras da Eletrobrás é muito bom. Essa melhoria nos serviços acontece rápido, assim como o retorno.”
Para o coordenador do Gesel, a tendência é que a atividade de distribuição de energia deixe de ser estatal e passe a ser eminentemente privada. “O cenário de médio e longo prazo é no sentido de que as estatais não estão preparadas nem qualificadas para o tipo de gestão administrativa, financeira e operacional que as distribuidoras exigem.”
Na avaliação dele, essa tendência é mais evidente para a Eletrobrás, mas também para empresas estaduais de distribuição. “Não é uma questão ideológica, é de análise econômica”, diz. “O modelo do setor elétrico é robusto, consistente, tem um marco regulatório seguro, baixo risco e contratos de longo prazo. Os financiamentos do BNDES não são mais tão necessários, pois o modelo é capaz de atrair investidores privados.”
Anne Warth, O Estado de S. Paulo