terça-feira, 31 de julho de 2018

'Estou desesperado por caixa', diz Giannetti em e-mail obtido pela Polícia Federal


E-mail enviado por Roberto Giannetti a Vladimir Spindola - Reprodução


Uma mensagem eletrônica encontrada pelos investigadores da Operação Zelotes revela novos destalhes da relação do economista Roberto Giannetti da Fonseca com um dos operadores do esquema de venda de decisões do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), o advogado Vladimir Spíndola. Os dois foram alvos de mandados de busca e apreensão durante a última fase da operação, deflagrada na semana passada.

Os investigadores apuram se Giannetti atuou em parceria com Spíndola e com Meigan Sack Rodrigues, uma ex-integrante do Carf, para beneficiar a Paranapanema, empresa do setor mineral que respondia a um processo de R$ 650 mihões no órgão. A quebra de sigilo bancário do trio revelou que eles chegaram a dividir entre si uma bolada de R$ 8 milhões paga pela empresa após obter vantagens no Carf. O caso está sendo conduzido pela Divisão de Investigação da Corregedoria-Geral do Ministério da Fazenda.

No e-mail de 13 de agosto de 2014, batizado com o nome de “Paranapanema”, Giannetti diz ao operador do esquema no Carf que está “desesperado” com a situação financeira de sua empresa, a Kaduna Consultoria, e cita um pagamento de R$ 8,6 milhões. “Não preciso te dizer que, devido a algumas cobranças judiciais em cima da Silex (uma empresa de um familiar de Giannetti), eu estou desesperado por caixa e prefiro garantir R$ 8,6 M agora, do que ficar postergando esta situação”, escreveu Giannetti a Spíndola.

Quase um mês depois da mensagem em que revela seus desespero pelo dinheiro, em 3 de setembro, a Paranapanema – que, segundo a Zelotes, se livrou de débitos de R$ 650 milhões no Carf com a ajuda de Giannetti – começou a depositar nas contas da empresa do economista as parcelas de um repasse total de R$ 8 milhões.

Após receber as parcelas, Giannetti dividiu os valores igualmente entre ele, Spíndola e a então conselheira do Carf, que também é investigada. Na prática, cada ficou com R$ 2,2 milhões, descontados os impostos.

Roberto Giannetti ainda não respondeu aos questionamentos da reportagem sobre o episódio. A defesa de Spíndola afirmou que ainda não teve acesso aos autos e que, por isso, não irá comentar.


Bela Megale e Mateus Coutinho, O Globo