Dois anos de recessão econômica, seguidos por uma recuperação pouco consistente, fizeram a participação da indústria brasileira na produção global de produtos manufaturados cair para menos de 2% pela primeira vez em quase três décadas.
Segundo estudo feito pela Confederação Nacional da Indústria (CNI), com base em estatísticas e estimativas da Organização das Nações Unidas para o Desenvolvimento Industrial (Unido) e obtido com exclusividade pelo Estadão/Broadcast, as fábricas brasileiras responderam por apenas 1,98% do total de manufaturados produzidos no mundo em 2017, o menor porcentual numa série histórica iniciada em 1990.
A indústria brasileira perde espaço no cenário internacional desde meados da década de 1990, quando chegou a representar 3,43% de toda a produção de manufaturados do mundo. Mesmo no fim da década de 1990, sob os estragos provocados por duas grandes crises financeiras internacionais, a participação brasileira ainda se mantinha ao redor de 3%.
O encolhimento do Brasil entre os grandes fabricantes do mundo se acentuou, contudo, a partir de 2014, quando o setor entrou em sua crise particular, um ano antes de a recessão atingir toda a economia. Desde então, sua parcela na produção industrial mundial já caiu em 0,56 ponto porcentual – quase metade da perda em duas décadas –, o que fez o Brasil ser superado pela França, responsável por 2,27% da produção global, entre as maiores indústrias do mundo. Hoje, o Brasil ocupa a nona posição no ranking, com a Indonésia (1,84%) na sequência.
Indústria americana
Nos últimos dois anos, o Brasil só perdeu menos espaço do que os Estados Unidos se levada em conta apenas a atividade fabril dos onze principais parceiros comerciais das empresas brasileiras. Responsáveis por 15,32% da produção mundial, o que lhes dá o posto de segundo maior fabricante industrial, atrás apenas da China, os EUA perderam 0,58 ponto porcentual em participação na indústria global. No Brasil, a queda acumulada em 2016 e 2017 foi de 0,34 ponto porcentual.
Na avaliação da CNI, a recessão acelerou um processo de perda de importância do Brasil na indústria global que já estava em curso por conta de gargalos estruturais históricos– entre eles, déficits em infraestrutura; insegurança jurídica; excesso de burocracia e complexidade do sistema tributário. Entenda: Grandes e pequenos empresários apontam dificuldades para empreender no Brasil
Ainda assim, a necessidade de buscar mercados internacionais para aliviar os efeitos da crise doméstica, combinada a uma maior competitividade permitida pelo câmbio, levou as fábricas brasileiras, mais recentemente, a uma inserção ligeiramente maior no comércio internacional.
De 2015 para 2016, a participação do Brasil nas exportações mundiais de produtos manufaturados subiu de 0,59% para 0,61%, porcentual que, nas estimativas da CNI, foi mantido em 2017. O indicador interrompeu a trajetória de queda observada desde 2012, mas ainda está muito abaixo da marca do início da década de 1980, quando o Brasil participava de mais de 1% do comércio internacional de produtos manufaturados. Com exceção da Argentina, a fatia das exportações brasileiras está abaixo dos principais parceiros comerciais. A inserção do México, por exemplo, é de 2,61%.
“Para recuperar sua importância no mundo, o País precisa melhorar a competitividade. Essa melhora envolve a superação de gargalos antigos, como a baixa qualidade da infraestrutura e o complexo sistema tributário e, ao mesmo tempo, o enfrentamento de desafios novos, como a inserção na Indústria 4.0”, diz Renato da Fonseca, gerente-executivo do departamento de pesquisas e competitividade da CNI.
Eduardo Laguna, O Estado de São Paulo