terça-feira, 1 de novembro de 2016

Preferido nos bairros pobres, Crivella surpreende e vence também em Ipanema

O mapa eleitoral do segundo turno no Rio é um bloco de Marcelo Crivella (PRB), um naco de Marcelo Freixo (PSOL) na zona sul e no centro e uma lasca dentro desse naco onde Crivella predominou: o bairro de Ipanema.

Lá, o bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus superou o socialista e levou 52,2% dos votos válidos, contra 47,8% de Freixo. No primeiro turno, foi lá que Crivella teve seu pior desempenho, 6,9% dos votos.

Ipanema também foi a zona eleitoral com a maior taxa de votos brancos e nulos do Rio: 24,2%.

"Foi uma eleição muito definida por classe social", afirma o professor de direito da FGV Michael Mohallem.

"Crivella teve vitória maciça nas áreas mais pobres. Freixo venceu com folga em bairros de classe média e média-alta, como Laranjeiras. Já bairros da classe mais rica ficaram sem candidato de centro-direita, em quem costumam votar, se viram entre um religioso e um socialista. Os que votaram, saíram divididos, com números próximos entre os dois."

Mohallem não descarta que o fato de Ipanema ter áreas mais pobres, como a favela do Cantagalo, possa também ter tido peso.

Ele acha que a associação de Freixo com o PT foi o fator que afastou a parcela identificada com os candidatos Carlos Osório (PSDB), e Índio da Costa (PSD). No primeiro turno, Osório teve seu melhor desempenho em Ipanema.

"Quando Freixo fez discurso, depois de passar para o segundo turno, chamando o impeachment de golpe, alienou muita gente, ainda que o PRB tenha, na verdade, uma relação muito mais próxima com o PT do que o PSOL. Crivella conseguiu se dissociar, mas Freixo, não."

Na opinião dele, isso foi mais importante do que a tentativa de Crivella de se distanciar da igreja.

"Votei no Crivella porque o Freixo é o PT, o partido que destruiu este país", diz Ludmilla Milito, moradora de Ipanema, que votara em Osório no primeiro turno.

"Seria um suicídio, a curto prazo, ter ele na prefeitura. A longo, Crivella também é terrível, com a associação à igreja, mas daqui a quatro anos a gente se livra dele."