Folha de São Paulo
A queda de 0,8% do PIB no terceiro trimestre do ano, divulgada na manhã desta quarta-feira (30) pelo IBGE, confirmou os piores temores do governo, dos empresários e dos economistas.
O dado comprova que a economia brasileira tem imensas dificuldades para se recuperar de uma das recessões mais longas de sua história.
RECESSÃO BRASILEIRA |
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Não há sinais de melhora neste fim de ano, o que anuncia um 2017 complicado e deixa uma angustiante pergunta sem resposta: por que está tão difícil para o Brasil sair do buraco?
Desde o impeachment de Dilma Rousseff, a política econômica sofreu uma guinada, com a indicação de uma equipe respeitada, que fez um diagnóstico correto dos problemas fiscais.
Além disso, o presidente Michel Temer dispõe de maioria no Congresso e vem conseguindo aprovar uma engenhosa proposta de emenda constitucional que limita os gastos públicos.
A mudança de rumo animou empresários e consumidores, que passaram a confiar num futuro melhor. Os investimentos chegaram até a crescer 0,5% no segundo trimestre.
Mas ainda não foi dessa vez. De julho a setembro, os investimentos caíram 3,1% e atingiram o menor patamar em 13 anos. Indústria, serviços e até a agropecuária estão em queda. Não há nenhum motor de crescimento para o PIB.
Em discursos recentes, Temer continua jogando a culpa nos incontáveis erros da administração Dilma, que, sem dúvida, deixaram uma pesada herança para o país. Mas já está na hora de o atual governo reconhecer o seu quinhão de culpa.
Um dos motivos da economia não melhorar é a persistência da crise política, que levou o presidente a perder seis ministros em seis meses.
Os auxiliares mais próximos de Temer —e talvez até ele próprio— correm o risco de serem arrastados pela delação premiada da Odebrecht. Sem falar do potencial explosivo de uma eventual colaboração do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha.
Os empresários sabem que, se isso ocorrer, o governo pode ficar inviável e, por isso, não investem. Não querem correr o risco de perder mais dinheiro se o país for novamente jogado no caos político.
Se quiser realmente recuperar a economia, está na hora de o presidente deixar de qualificar como "fatozinhos" as graves acusações de tráfico de influência que rondam seu governo e se cercar de auxiliares respeitáveis em todas as áreas, e não apenas na economia.