Acusado no Comitê de Direitos Humanos da ONU de cometer arbitrariedades na Lava Jato, o juiz Sérgio Moro deu uma lição de tática a Lula, seu detrator. Contra a vontade da Procuradoria da República, o doutor mandou soltar o marqueteiro do PT João Santana e a mulher dele, Mônica Moura.
Representante de Lula na ONU, o advogado Geoffrey Robertson, um australiano que se estabeleceu no Reino Unido, tachou de “primitivo” o sistema penal brasileiro. Declarou que “o juiz tem o poder de deter indefinidamente até obter uma confissão e a delação premiada.”
Pois bem. Sem ter firmado nenhum acordo de delação, Santana e Mônica já confessaram ter recebido US$ 4,5 milhões em verbas ilegais por serviços pretados ao comitê Dilma-2010. Ganharam o meio-fio sem tornozeleira. Devem virar delatores em liberdade. Longe das grades, entregarão Dilma —guiçá o próprio Lula— em troca de redução da pena.
Moro deixou claro que a pena virá. E pode ser dura. O juiz não comprou o álibi do caixa dois. “…Não é provavelmente verdadeiro e ainda que o fosse não elimina a responsabilidade individual'', anotou num despacho. Acrescentou: “Se um ladrão de bancos afirma ao juiz como álibi que outros também roubam bancos, isso não faz qualquer diferença em relação a sua culpa.''
De resto, a maleabilidade de Moro revelou-se seletiva. O magistrado liberou Santana e Mônica. Mas manteve presos, a título de fiança, R$ 31,5 milhões. Lula que se vire para explicar na ONU por que “não sabia'' que os responsáveis pelo marketing das campanhas presidenciais do PT haviam se transformado em clientes tão prósperos do sistema penal “primitivo”.