Nos 20 anos do real, juros altos fizeram renda fixa ter ganho de 631%

O Globo

Retorno supera o oferecido pelo Ibovespa, principal índice do mercado de ações, que subiu 221%

Quem aplicou R$ 1.000,00 em títulos públicos vinte anos atrás quando o Plano Real entrou em vigor, e não mexeu nesse dinheiro, tem hoje no banco R$ 7.317,00. O ganho equivale a 631,7% e mostra que o CDI (certificado de depósito interbancário, que é referência para o investimento em títulos públicos) ofereceu o melhor retorno para quem aplicou no mercado financeiro. Já quem investiu os mesmos R$ 1.000,00 na cesta de ações representada pelo Ibovespa, o principal índice do mercado de renda variável brasileiro, tem hoje R$ 3.211,00 no bolso, se conservou a aplicação, um rendimento equivalente a 221,1%, descontada a inflação do período.

- Durante muito anos, o Brasil teve o maior juros reais do mundo. Só perdeu esse posto, quando a Selic caiu abaixo de 8%. Ou seja, quem aplicou em renda fixa de qualidade, não em poupança, teve um excelente retorno - diz o educador financeiro, Mauro Calil, da Academia do Dinheiro.

Na caderneta de poupança, o investimento de renda fixa preferido dos brasileiros, o retorno foi menor. Os mesmos R$ 1.000,00 aplicados vinte anos atrás se transformaram em R$ 2.032,00, se o investidor não mexeu nos recursos até agora, também ajustado pelo IPCA.

O levantamento foi feito pela consultoria Economática. Na prática, os números mostram o efeito dos juros altos no país, mesmo depois que a hiperinflação caiu para um dígito com a estabilização da economia. O levantamento mostra ainda que apenas quem aplicou em ações específicas de empresas, o que embute maior risco de perdas, teve retorno superior ao CDI.

- O Ibovespa é uma cesta de ações e nesse cálculo não estão incluídos os reivestimentos de dividendos, juros sobre capital próprio, por exemplo. Mas quem aplicou em papéis de empresas que souberam aproveitar o momento de estabilização econômica, reinvestindo os dividendos, teve um retorno impressionante - afirma Calil.

De acordo com o levantamento da Economática, entre as ações mais negociadas do pregão (com movimento diário acima de R$ 1 milhão), os papéis da Ambev, do setor de bebidas e alimentos, foram os que mais se valorizaram nesses 20 anos de Plano real. Ajustado pelo IPCA, dos papéis ordinários (ON, com direito a voto) foi de 4.873,4%. A segunda ação que mais se valorizou foi a ordinária da Souza Cruz, com ganho de 4.263%. Em terceiro, aparecem as ordinárias da Guararapes, alta de 3.237%, do setor têxtil.

O levantamento mostra que entre as dez ações que mais se valorizaram, descontada a inflação, estão os bancos, que também são beneficiados em cenário de juro alto. Os papéis preferenciais (PN, sem direito a voto) do Itaú Unibanco ganharam 2.671%; Itausa (controladora do banco) subiram 1.900%; Itaú Unibanco ON subiu 1.849%; Bradesco ON teve ganho de 1.811% e Bradesco PN subiu 1.648%.