sábado, 28 de junho de 2014

‘Os melhores produtos ainda não foram desenvolvidos’, diz fundador da rede Wizard

Raphaela Ribas - O Globo

De desempregado a bilionário, Carlos Wizard vende empresa, tira ano sabático e avisa que já volta: para ele, o Brasil é o país do presente e tem muito espaço para empreender


Foi difícil conseguir o encontro. Apesar de ter se disposto a realizar um ano sabático, Carlos Wizard Martins, de 57 anos, raramente tem agenda livre. Mais novo bilionário listado pela Forbes, em dezembro passado Martins vendeu, por US$ 720 milhões à rede de ensino britânica Pearson, o Grupo Multi, composto por escolas de idiomas e profissionalização, entre eles a que fundou e que leva o seu nome, a Wizard. Mas, nessa quarta-feira, lá estava ele, no Rio, no desembarque do Aeroporto Santos Dumont, aguardando nossa equipe, com a camisa da seleção brasileira, com seu nome nas costas.

Apesar de, com sua mochila nas costas, parecer um homem simples, uma limusine branca moderninha o esperava para levá-lo ao Copacabana Palace, de onde se prepararia para mais tarde ir ao Maracanã ver o jogo França e Equador. Lá fomos nós. O Brasil ganha?

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— Com este time, acho que não — opina o empresário que não voltará aqui na final, já que, durante o ano, ele, seu seis filhos e 15 netos se dividem entre Campinas e Estados Unidos.

Nasceu em Curitiba, mas só como ‘Carlos Martins’. O Wizard veio depois quando a franquia já era forte no país. Filho de um caminhoneiro e uma costureira, não sonhava em morar em outro país, até que aos 12 anos, a família se converteu à Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os mórmons. Através da ajuda dos missionários, aprendeu inglês e cursou uma faculdade nos Estados Unidos. Começava aí a breve carreira de executivo. Após a graduação, conseguiu sem primeiro emprego por lá mesmo e em seguida foi transferido para o Brasil, onde mais tarde veio a ser demitido.

Neste período, Carlos dava aulas de inglês na sala de casa, e o que era para complementar a renda acabou sendo a inspiração, segundo ele divina, para investir no próprio negócio e ampliá-lo. Mais tarde, por influência dos filhos, passou a focar em aquisições de novas redes de ensino e assim surgia o grupo. Empresário de olhar pioneiro, ao contrário do que se diz por aí, de que não há mais espaço para inovações, afirma:

— O melhor ainda não foi lançado. Os melhores produtos ainda não foram desenvolvidos, os melhores serviços ainda não foram apresentados e os melhores conceitos ainda estão por ser lançados.

Com os filhos mais velhos lhe dando todo o suporte, o professor que virou empresário bem que tenta dar uma pausa em 2014, mas, já está de olho em 2015:

— Somos eternos caçadores de oportunidades. Estamos analisando o mercado e, certamente, no início de 2015, devemos anunciar alguma aquisição de uma rede de franquias com atuação nos principais estados do país.


1) Você lançou o livro “Desperte o milionário que há em você”, onde conta alguns fundamentos que o guiaram. Como foi o seu despertar?
Carlos Wizard Martins — Minha história começa em Curitiba, onde nasci. Quando tinha 12 anos de idade e meus pais buscavam uma religião para educar a mim e aos meus seis irmãos. Assim, conhecemos os missionários da Igreja de Jesus Cristo dos Santos dos Últimos Dias, os mórmons. Eu já tinha vontade de estudar inglês, mas não tínhamos condições. Meu pai era caminhoneiro, e minha mãe costureira. A partir daquele momento, nossas vidas tomaram outro rumo. Primeiro, porque aqueles jovens trouxeram as respostas espirituais que meus pais buscavam e, segundo, porque abriram meu pensamento para o mundo, me mostrando que existia a possibilidade de algum dia eu fazer uma faculdade e no exterior. Eu passei a acreditar naquele sonho que, até então, era impossível, e, alguns anos depois, através deles, estudei na Universidade Brigham Young, em Utah, nos Estados Unidos. Quando fui para lá, estava casado já com a Vânia e tinha dois filhos. Sem saber o que estava por vir, eu dei aulas de português nesta universidade...


2) Qual foi o divisor de águas?
Eu estava realizado: casado, formado, morando nos Estados Unidos, com meus filhos, mas, ao mesmo tempo frustado... Não era bem aquilo que eu queria. Aos 30 anos, depois que me formei e consegui meu primeiro emprego nos Estados Unidos, fui transferido para o Brasil e algum tempo depois, demitido. Este foi o divisor. Naquela época, eu dava aulas de inglês à noite na sala de nossa casa para complementar a renda. Quando isso aconteceu, pensei “Estou na pior... mas Deus tem algo melhor para mim”. Um dia, orando e pedindo a Deus um rumo na minha vida, veio a ideia de abrir uma escola. E logo veio à minha mente que seriam muitas. Veja, a fé é importante na vida das pessoas. No meu caso, é em Deus, mas não importa em quem você acredite, ela ajuda a ter uma vida mais organizada, otimista e nos relacionamentos.


3) A fé é muito importante, mas também há um lado prático que é a visão de oportunidades. Quais são as bases para empreender com êxito, ou como senhor publicou, ser um milionário?
Há fatores tanto da ordem emocional quanto racional que contribuem para este caminho. Primeiro, é preciso ter uma ideia que te inspire — é importante ter o desejo de prosperar; depois, transformar esta ideia num plano de ação comercial em grande escala; executar o plano, saber a ordem que vai realizar, com começo, meio e fim; terceiro é executar o plano. Você vai perceber que algumas coisas dão certo e outras não; aí vem o próximo passo que é analisar o projeto e ver o que vai ser perpetuado, abandonado e corrigido; por último, é retornar à estratégia. Outra regra importante é saber ganhar e poupar. Até hoje dou o dízimo. As pessoas às vezes dizem que vão dar o dízimo quando tiverem uma renda maior, mas a fidelidade começa na pobreza.


4) É possível ser um milionário sendo empregado?
Sim, mas é mais restrito. Apenas 5% dos 30 novos milionários que surgem diariamente no Brasil são frutos de grandes empresas. Elas já têm uma política e carreira e salários, então, é mais difícil.


5) Há mais espaço para novidades nos dias de hoje? E no ensino?
O melhor ainda não foi lançado. Os melhores produtos ainda não foram desenvolvidos, os melhores serviços ainda não foram apresentados e os melhores conceitos ainda estão por ser lançados. Ainda temos muitas possibilidades pela frente e uma das apostas é o setor de serviços. No Brasil, lamentavelmente, o serviço é muito pobre, então, qualquer empresa, que tenha como foco o atendimento e satisfação do cliente, vai ter imediatamente um destaque, um diferencial perante o mercado. Então, se você tem um projeto comercial do setor de serviço, pense em algo que você pode atingir o mercado em grande escala. O Brasil hoje é o país do presente. Por mais turbulento que seja, apesar do Pibinho, da falta de infraestrutura, da nossa carga tributária altíssima e das nossas leis trabalhistas antigas, todos os dias temos 30 novos milionários surgindo no país. Isso não acontece em muitas outras partes do mundo. É no Brasil mesmo. Independentemente de toda esta burocracia que temos ao nosso redor, ainda temos muitas oportunidades. Em relação ao ensino, hoje a tendência é trazer a tecnologia para sala de aula sem perder o presencial, que ainda é muito importante. Nas aulas pela internet, os estudantes ficam, em média, três meses apenas. Já na presencial, três anos.


6) Qual o maior empecilho?
Brasileiros são pobres no desejo, geralmente. Tem um autoestima baixa e não acreditam que podem. Eu penso justamente ao contrário, a pessoa tem chance e pode prosperar, sim. No Brasil, ainda tem gente que acredita que há virtude na pobreza e que a riqueza vem pelo roubo ou atividades ilegais. Eu descobri na prática que existe a riqueza ilícita, mas há também a lícita. Outra coisa é que as pessoas são muito desconfiadas e isso as impede de investir e treinar os outros. Eu acredito que o sistema de franquias é o mais seguro e rentável de abrir o próprio negócio, porque já se tem um produto que foi testado. Mas isso também significa que o empregador precisa ter confiança nas pessoas, capacidade de instruir de capacitar e treinar para que ela possa reproduzir este sistema que já foi feito. E talvez este seja o empecilho do sucesso para muita gente, pois, na maioria das vezes eu percebo que as pessoas não confiam umas nas outras. Ficam desconfiadas, achando que serão trapaceadas ou roubadas, mas eu descobri que tem mais pessoas honestas do que desonestas no mundo.


7) O senhor vendeu o grupo. O que faz agora?
Este ano eu estou me dando a satisfação de um ano sabático. Vendemos 100% do Grupo. Hoje, tenho investimento em imóveis comerciais em alguns estados e na Vale Presente, que são cartões pré-pagos da Mastercard, e que atualmente está avaliada em R$ 500 milhões. Esta migração é influência dos meus filhos, que estão sempre apresentando novas ideias e tendências de mercado. Tenho me dedicando às aulas diárias de chinês, eu tenho um envolvimento ativo e forte na igreja Mórmon. Também despendo bastante tempo com minha família. Mas, naturalmente, somos eternos caçadores de oportunidades. Portanto, é um ano que nós estamos analisando o mercado e, certamente, no início de 2015 devemos anunciar alguma aquisição de uma rede de franquias com atuação nos principais estados do país.