POR ANDRÉ MIRANDA, CATHARINA WREDE, DANIELLE NOGUEIRA, FLÁVIO ILHA, GERALDA DOCA, HENRIQUE GOMES BATISTA, LAURO NETO E LINO RODRIGUES - O Globo
A previsão de caos aéreo durante a Copa não vingou. Cenários de filas intermináveis no saguão dos aeroportos ou congestionamento de aeronaves não foram cenas corriqueiras na primeira quinzena do Mundial. Mas não faltaram percalços nesta primeira fase do torneio, de falta de comida a dificuldades na comunicação com os turistas.
Em Cuiabá, o dia mais confuso foi terça-feira passada, dia do último jogo na Arena Pantanal, entre Colômbia e Japão. Tinha tanta gente no aeroporto que faltou comida, e a Infraero teve que providenciar às pressas um carrinho com lanches.
Em Porto Alegre e no Rio, foram tantos turistas que os aeroportos se transformaram em dormitórios. O idioma foi outro problema. Houve queixas da falta de orientação em espanhol. A falha foi percebida pela Secretaria de Aviação Civil (SAC):
— Não faz sentido não ter informação em espanhol. A maior parte dos turistas que recebemos fala essa língua — diz o ministro da SAC, Moreira Franco, que já ordenou a instalação de sinalização na língua dos hermanos.
A Infraero informou que quando é identificada alguma dificuldade de comunicação, os turistas são orientados a procurar o balcão de informações, onde ficam os empregados terceirizados bilíngues.
Acostumado ao movimento intenso do carnaval, o aeroporto de Salvador apresentou obras inacabadas. Brasília também sofreu com infraestrutura precária: os alagamentos foram recorrentes. Congonhas (SP), por sua vez, viveu uma experiência única na Copa. Com a queda das viagens de negócios, o movimento de passageiros desde o início do Mundial está 13% abaixo do mesmo período de 2013.
Pelos 20 aeroportos que atendem as cidades-sede já passaram 7,6 milhões de pessoas . O governo trabalha com uma previsão de até 11,6 milhões considerando o período de 6 de junho a 16 de julho. Com o fluxo de passageiros dentro da expectativa e com o clima ajudando — em Curitiba, até a neblina, que costuma tumultuar o tráfego aéreo nesta época do ano, deu uma trégua —, o índice de atrasos de voos nos aeroportos da Copa tem girado em torno de 7,5%, abaixo da média europeia (8,4%)
LANCHINHO NO MEIO-FIO
No Aeroporto Marechal Rondon, em Cuiabá, o dia mais cheio foi a terça-feira passada, quando aconteceu o último jogo na Arena Pantanal, entre Colômbia e Japão. Com cerca de 30 mil turistas estrangeiros na cidade, a praça de alimentação do aeroporto não foi suficiente para dar conta da fome dos passageiros. Com apenas um restaurante fast food, uma choperia, uma gelateria e uma lanchonete, a Infraero contratou emergencialmente um carrinho de lanches, que foi instalado no meio-fio do terminal de passageiros, para ampliar a oferta de alimentação.
Uma funcionária da lanchonete contou que foi confuso.
TERMINAL-DORMITÓRIO
No terminal 1 do Galeão, a Fun Zone tem videogame, mesa de totó, telão, wi-fi e máquinas de lanches. Mas o que os passageiros mais têm aproveitado nas esperas por conexões são os sofás e almofadas espalhadas pelo chão, que se tornaram camas para os cansados (foto). A qualquer momento em que se entre na Fun Zone, há alguém tirando um cochilo. Na terça-feira passada, por exemplo, um menino de cerca de dez anos dormia enrolado em uma bandeira do Chile. Quem não encontra lugar nas almofadas não faz cerimônia: dorme no chão mesmo.
Em Porto Alegre, cerca de 400 torcedores argentinos que não tinham reserva em hotéis dormiram no terminal Salgado Filho, acomodados em sacos de dormir ou nas poltronas da área de desembarque. A Infraero autorizou a permanência dos turistas durante a madrugada do dia 25 e não registrou tumultos.
FULECO, O REI DAS VENDAS
Na loja de lembranças de Paulo François, no aeroporto de Porto Alegre, chegou a faltar mercadoria. Um dos itens mais vendidos foi o boneco do mascote Fuleco: mil até ontem de manhã.
— Os argelinos gastaram bastante aqui. Holandeses também, mas os franceses se encolheram. Quero ver os alemães, tidos como os mais ricos da Europa — brincou.
No Galeão, havia fila em um quiosque de produtos licenciados da Fifa. Os itens mais procurados são as camisas do Brasil e os bonecos do Fuleco, a R$ 99.
No aeroporto paulista de Congonhas, com a redução do número de viagens de negócios, as lojas perderam vendas. O encarregado da LaSelva, Claudinei Martins (foto), diz que a loja registrou queda de 20% nos primeiros dez dias de Copa:
— Esperamos que o movimento melhore depois dos jogos, no finzinho das férias.
DESCULPE, ESTAMOS EM OBRAS
Com apenas uma das novas alas operando e o restante das obras de ampliação suspenso por causa da Copa, o aeroporto de Brasília (foto) enfrentou problemas hidráulicos, mas os passageiros saíram ilesos. Esta semana, pela terceira vez em menos de um mês, o aeroporto da capital teve problemas de alagamento. Uma tubulação se rompeu, e a água que desceu pelo teto inundou a área de desembarque doméstico, danificando caixas eletrônicos.
O aeroporto de Salvador passou por uma reforma para a Copa, mas as obras não terminaram a tempo, o que deixa visíveis vigas e tapumes em sua área externa, logo na saída do desembarque. Mas, internamente, o local parece funcionar bem. A capital paranaense foi outro local onde as obras não ficaram prontas. Os turistas que desembarcaram no terminal da Infraero ouviram o barulho das obras e viram tapumes e escadas.
FALE BEEEEEEEM DEVAGAR
Em uma Copa lotada de turistas hermanos, muitos reclamam da dificuldade de obter informações em espanhol nos aeroportos.
— Só entendo um pouco de português se a pessoa falar beeeem devagar. Quase não havia gente que falasse espanhol para nos dar informação — disse o colombiano Oscar Roa, no Galeão. — O problema foi ainda maior em Guarulhos (SP). Na área doméstica não tinha ninguém mesmo.
Coordenadora de uma equipe de voluntários no aeroporto de Porto Alegre, Cristiane Grahl Baptista relatou que até em algumas companhias aéreas pediram ajuda para dar informações.
Funcionária de uma lotérica no aeroporto de Brasília, Maria Elineuza Ribeiro passou apuros para atender um francês que queria um chip de celular. Compra feita, ele não conseguia fazer a ligação e não entendia os motivos.
— Viramos um balcão de informações — diz ela.
A FILA ANDA
Nos dias das partidas Holanda x Espanha e Alemanha x Portugal, houve mais gente chegando a Salvador do que no carnaval. Foram mais de duas mil corridas de táxi em cada dia. Mas a espera não passou de 20 minutos, com o reforço de motoristas auxiliares e táxis de fora da cooperativa.
Em Guarulhos (foto), a situação também era de tranquilidade. O coordenador de táxis Carlos Henrique de Sousa, contratado para reforçar o efetivo durante os jogos da Copa, estava satisfeito:
— Está tudo funcionando certinho. Aqui não teve caos, nem tumulto, ou congestionamento de filas como muitos falaram que ia ter — afirmou, lembrando que a empresa de táxis do aeroporto colocou 700 veículos e deixou outros 300 de reserva.
Em Manaus, turistas conseguiram pegar táxis e ônibus sem maiores transtornos — auxiliados, principalmente, por voluntários atenciosos.