Clara Becker e Mariana Moreira - Veja
Exílio no quadrado – A rotina franciscana do senador Roger Pinto Molina, dez meses após a arriscada viagem que o trouxe à capital
Depois de percorrer 1 600 quilômetros em 23 horas, faltavam apenas 200 metros para cruzar a fronteira entre Porto Quijarro, na Bolívia, e Corumbá, em Mato Grosso do Sul, quando acabou a gasolina do carro que trazia o senador Roger Pinto Molina e o diplomata brasileiro Eduardo Saboia. O plano emergencial já havia sido traçado. Caso algum policial os parasse, Saboia, o motorista e os fuzileiros navais que os acompanhavam desceriam pelo lado direito do veículo e armariam um escândalo.
Molina sairia pelo lado esquerdo e atravessaria a divisa a pé. Não foi necessário. Após o abastecimento, o carro cruzou a fronteira diante de um policial que, entretido com um sanduíche, não fez a revista de praxe. Esse foi apenas o desfecho de uma operação cheia de riscos, como atravessar a província de Chapare, reduto eleitoral do presidente Evo Morales, denunciado por Molina por envolvimento com o narcotráfico.
Durante todo esse tempo, funcionários da embaixada brasileira em La Paz simulavam a presença do senador no cubículo que habitou por 454 dias, asilado depois de receber constantes ameaças. Como todos os movimentos do parlamentar eram monitorados, foi preciso manter on-line seu perfil no Facebook, acender e apagar as luzes, o aparelho de som e a TV, além de responder a mensagens no celular pessoal.