Marília Carrera - Veja
Menos estado, menos gastos públicos, inflação baixa e mais investimentos em infraestrutura fazem do Chile campeão — pelo menos fora dos gramados
Dilma Rousseff com a presidente eleita do Chile, Michelle Bachelet (PR)
O confronto entre Brasil e Chile neste sábado pelas oitavas de final da Copa do Mundo promete ser acirrado, mas na corrida pelo desenvolvimento econômico, o país andino segue (muito) à frente. Segundo dados do Fundo Monetário Internacional (FMI), a economia chilena deve crescer 3,6% este ano, enquanto a brasileira deve avançar não mais que 1,6% no mesmo período. Para 2015, a expectativa é de uma expansão do Produto Interno Bruto (PIB) do Chile de 4%, acima da previsão de alta de 2,6% para o Brasil. Tal desempenho não é um ponto fora da curva ou um pico de aceleração provocado pela alta dos preços das commodities. O crescimento médio anual do PIB chileno na última década é de 4,7%, mesmo quando se leva em conta a retração econômica de 2009, que fez sua economia recuar 0,9%. Tal ritmo é justamente o que o Brasil precisa para conseguir avançar, mas não consegue porque lançou mão de um modelo econômico que freia o crescimento: o modelo que prevê o aumento do tamanho do estado na economia e o protecionismo. O Chile segue a receita inversa. E tem dado certo.
O sucesso da economia chilena tem origem na política de austeridade fiscal implantada na ditadura de Augusto Pinochet, e que foi mantida durante o processo de redemocratização. Além de prever uma menor participação do estado na economia, tal política tinha como pilar a realização de altos superávits com o objetivo de acumular reservas para períodos de crise. As exportações de cobre, responsáveis por 40% do PIB chileno, tiveram papel crucial nesse modelo. Com o boom das commodities no início da década de 2000, o governo chileno criou fundos soberanos para administrar as receitas trazidas pela estatal de cobre, a Codelco. Quando houve o terremoto que abalou o país em 2010, os estragos avaliados em mais de 15 bilhões de dólares não corriam o risco de derrubar a economia do país. O Chile tinha em caixa 12% de seu PIB em fundos soberanos para usar em emergências — cerca de 20 bilhões de dólares. Ainda assim, para não ficar completamente descoberto, o governo realizou emissões de dívida e aumentou impostos sobre a indústria de tabaco para se capitalizar. Como resultado, naquele mesmo ano, a economia avançou 5,7%.
O Brasil, por sua vez, fez o contrário. Criou um fundo soberano polpudo em 2008 para tentar suavizar os efeitos da crise, mas o esvaziou no final de 2012 para estancar a sangria provocada pelo aumento dos gastos do governo e ajudar a cumprir a meta fiscal. “Nos últimos dez anos, o Chile optou por uma política de maior abertura ao mercado, priorizando o controle dos gastos públicos e uma maior eficiência e crescimento da economia. A questão, agora, é saber se o país conseguirá sustentar suas conquistas. Já o Brasil, preferiu manter um caminho mais estatista, talvez por isso os resultados não tenham sido tão bons”, diz o economista da Tendências Consultoria, Silvio Campos Neto. Prova disso é que os gastos do governo brasileiro devem ficar em torno de 40% do PIB entre 2014 e 2015, quase o dobro do que o governo chileno, que prevê gastos de 23% do PIB.
Com o maior Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) da América Latina, a renda per capita do Chile também deve continuar superior à do Brasil nos próximos anos: de 14.856 dólares em 2014 e 15.736 dólares em 2015, ante 11.080 dólares em 2014 e 11.607 dólares em 2015 no caso do Brasil. No caso da inflação não é diferente. Dados do FMI mostram que ambos os países devem encerrar o ano com índices de preços ao consumidor dentro do teto da meta. Ainda assim, no curto prazo, o cenário doméstico chileno permanece mais favorável que o brasileiro, com uma inflação de 3% ao ano, abaixo dos 6,4% projetados para o Brasil este ano.