Blog Ricardo Setti - Veja
COPA 2014: Na época de gigantes de verdade como Pelé e Garrincha, os jogadores eram amigos do público. Agora, são celebridades que fazem o possível para se manter longe dos fãs e da imprensa
CRAQUES NA REDOMA
Campeões mundiais andavam de Kombi, pagavam aluguel e estavam sempre à mão para atender torcedores e repórteres.
Transformados em celebridades, hoje as milionárias estrelas da bola vivem sua fama globalizada cercadas de assessores e agentes
Reportagem de Carlos Maranhão, de Fortaleza, publicada em edição impressa de VEJA
Era fácil para um repórter entrevistar Pelé quando ele reinava absoluto no futebol, consagrado com a conquista de três Copas, dois títulos de campeão mundial de clubes e já com mais de 1 200 gols no currículo. Bastava esperá-lo chegar, em torno das 4 da tarde, por uma entrada lateral do estádio da Vila Belmiro, em Santos. Ele mesmo vinha dirigindo seu Mercedes. Sozinho, sem segurança, sem ninguém para lhe abrir a porta, estacionava o carro na rua.
“Tudo bem, passa depois lá no vestiário”, ele respondia ao pedido, que nem tinha sido agendado previamente. Os autógrafos para algum fã de plantão eram assinados ali mesmo, na calçada, rapidamente mas com um mínimo de atenção. Terminado o treinamento, mal saído do banho, Sua Majestade atendia o jornalista enquanto se enxugava.
Uma cena parecida com essa seria impensável no futebol de hoje, em que os jogadores se comportam, vivem e são tratados como celebridades de difícil acesso.
Durante toda a duração da Copa, vários deles dão apenas uma ou duas entrevistas coletivas, sentados diante das logomarcas dos patrocinadores, e raramente concedem exclusivas. Quando isso acontece, falam para a televisão. No caso dos brasileiros, o privilégio, por força de contrato de direitos de transmissão, é quase sempre da Rede Globo.
Cerca de meia hora depois de terminadas as partidas, eles passam por um corredor em direção ao ônibus que os levará de volta para o hotel ou o aeroporto. É a chamada zona mista, em que repórteres credenciados se acotovelam junto a cerquinhas e às vezes imploram por rápidas declarações. Ela foi criada na Copa de 1994 e a partir daí implantada nos principais estádios ao redor do mundo.
Nenhum jogador é obrigado a parar, e muitos seguem em frente, impávidos, carregando nécessaires de grife e com os inevitáveis fones de ouvido que os protegem das perguntas.
Foi o que fez o português Cristiano Ronaldo na segunda-feira da semana passada, em Salvador, depois que sua seleção apanhou de 4 dos alemães: marchou firme em direção ao ônibus da delegação, sem se deter, como um táxi em noite de chuva.
Na terça, encerrado o jogo em que o Brasil empatou com o México por 0 a 0, na Arena Castelão, de Fortaleza, ninguém seguiu o mau exemplo de CR7. Sob o impacto de um resultado que nenhum dos comandados de Felipão previa, eles deram declarações rápidas e cuidadosas, escoltados por três assessores da CBF.» Clique para continuar lendo e deixe seu comentário
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