Governo considerou 'ingratidão' as manifestações de junho, diz Carvalho
Secretário geral da Presidência afirmou que houve o sentimento de 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'
Elder Ogliari - O Estado de S. Paulo
O secretário geral da Presidência da República, ministro Gilberto Carvalho, disse nesta sexta-feira, 24, que algumas esferas do governo consideraram 'ingratidão' a realização das manifestações populares de junho, quando milhares de pessoas foram às ruas por melhorias nos serviços públicos. Segundo ele, o sentimento era de que 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'".
As avaliações foram apresentadas à plateia de uma das atividades do Fórum Social Temático Crise Capitalista, Democracia, Justiça Social e Ambiental, em Porto Alegre, durante a conferência "Contra o Capital, Democracia Real". Além de Carvalho, também participaram, como palestrantes, o governador do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT) e representantes de organizações não governamentais do Brasil, França, Marrocos e África do Sul.
"Houve quase que um sentimento de ingratidão, de dizer 'fizemos tanto por essa gente e agora eles se levantam contra nós'", recordou. O ministro destacou, no entanto, que o governo fez o esforço de compreender a realidade, de dialogar com a nova cultura que surgia, e respondeu com programas de melhorias da mobilidade urbana.
Na opinião do secretário, o governo e os movimentos sociais aliados ficaram "perplexos" com os protestos de junho. Segundo ele, a direita "inicialmente fez festa" por entender que as manifestações se configuravam como contrárias à administração federal.
As políticas de distribuição de renda e estímulo ao consumo do governo federal, segundo Carvalho, não foram acompanhadas na mesma velocidade por um debate sobre um modelo de desenvolvimento diferenciado.
Mas eram necessárias porque a população padecia sem acesso a produtos básicos, como geladeiras e equipamentos domésticos. "É evidente que, junto com melhor emprego e melhores salários vem a consciência de novos direitos", observou, para avaliar que, depois dessas conquistas, muitos brasileiros perceberam que têm direitos e passaram a reivindicá-los.
"Não podemos ter medo, temos de romper barreiras, nos aproximar e conversar", afirmou. "O problema, para infelicidade da direita, é que esse gosto do mais e do mais não cabe na cartilha do sistema; a explosão dessa demanda de direitos não cabe no sistema capitalista e nos marcos daquilo que é hoje o mundo globalizado em seus sistemas de produção, distribuição e consumo", comentou.