Erosão dos emergentes baixa ânimos em Davos
- Com o reforço das preocupações sobre a retirada de estímulos nos EUA, as ações dos emergentes tiveram o pior início de ano desde 2009
DAVOS - Em um almoço na quinta-feira, David Rubenstein, co-fundador do Carlyle Group, revelou a participantes do Fórum de Davos a sua maior preocupação: ninguém parecia estar preocupado com nada. Menos de 24 horas depois, a desvalorização do peso argentino acelerou a maior venda de ativos de países emergentes em cinco anos, enervando os presentes no evento.
— Não quero nem olhar — disse Daniel Loeb, bilionário que fundou o fundo de hedge Third Point.
Após encontros dominados pelo tema das crises — do Lehman Brothers à Grécia —, esta edição do fórum tinha começado a refletir o otimismo com as economias e a recuperação dos mercados de ações. O entusiasmo evaporou com o tumulto nos emergentes exacerbando os receios de que o crescimento global estancou.
Com os sinais de desaceleração na China reforçando as preocupações sobre a retirada de estímulos nos EUA, as ações dos emergentes tiveram o pior início de ano desde 2009. O índice MSCI Emerging Markets caiu 1,5% na sexta-feira, acumulando perda de 5,3% no ano. A Argentina permitiu a desvalorização do peso para um patamar sem precedentes. A Turquia vendeu dólares para sustentar a lira, e o rand sul-africano caiu ao menor nível em cinco anos.
O presidente executivo do Goldman Sachs, Lloyd Blankfein, disse à Bloomberg TV que iria “esperar um pouco antes de dizer que há uma completa inversão” nos mercados, observando que eles estão passando por um ajuste após ter avançado tanto.
A retirada de estímulos pelo Fed (Federal Reserve, o banco central dos EUA), que até agora curava todos os males induzindo investidores a caçar retornos nos emergentes, obriga a uma reavaliação dos mercados. Com o corte nas compras mensais de US$ 85 bilhões em títulos, os gestores estão ajustando o foco nos fundamentos, punindo os que têm políticas fracas ou desequilíbrios, como grandes déficits. A mudança foi evidenciada pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que divulgou novas projeções, mostrando que neste ano os emergentes superarão o avanço dos ricos com a menor margem de diferença desde 2001.
— Os investidores têm sido complacentes demais com os emergentes - disse Davide Serra, fundador da londrina Algebris Investments, em Davos.
- Em 12 a 18 meses, com as taxas em alta nos EUA, veremos quais emergentes estiveram nadando sem roupa.
Os investidores estão olhando principalmente para os chamados “cinco frágeis”: Brasil, Índia, Indonésia, África do Sul e Turquia. A China está lutando para conter o endividamento “nas sombras”, enquanto o Brasil tenta domar a inflação, alimentada pela desvalorização de sua moeda e gastos públicos altos. Uma investigação de corrupção embaraça o gabinete do primeiro-ministro da Turquia, Recep Tayyip Erdogan, e protestos com vítimas fatais na Ucrânia e na Tailândia estão erodindo a confiança e sua estabilidade.
- Estamos numa era de volatilidade, e qualquer um que não veja isso está sendo complacente demais - disse Tim Adams, presidente do Instituto de Finanças Internacionais, com representantes em mais de 400 firmas financeiras, e ex-subsecretário para assuntos internacionais do Tesouro americano.
- A reavaliação dos riscos continuará.
Jesse Westbrook, Simon Kennedy e Elisa Martinuzzi (Bloomberg News)