Após aumento do IOF, faltam dólares e euros em casas de câmbio
Turistas trocam cartões pré-pagos para uso no exterior por papel-moedaDanilo Fariello - O Globo
Faltaram dólares e euros em espécie nas últimas semanas em casas de câmbio de Porto Alegre, Recife, Vitória, Goiânia e Manaus, devido à maior procura por papel-moeda desde o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) de 0,38% para 6,38% em cartões pré-pagos para uso no exterior, anunciado no fim de dezembro. A demanda de turistas pelo cartão — que respondia por 12% do mercado nos três últimos meses — caiu dois terços neste ano, segundo a Associação Brasileira das Corretoras de Câmbio (Abracam). Tulio Ferreira dos Santos Junior, presidente da entidade, disse que essa procura migrou para as moedas em espécie.
— Antes eu levava pouco dinheiro e mais no cartão, inclusive tenho o cartão ainda, mas agora estou levando só papel-moeda — disse nesta quarta-feira o dentista Humberto Alves, de 54 anos, ao comprar dólares em Brasília para fazer um cruzeiro com a família até a Argentina na próxima semana. — Foi covardia do governo mudar a regra do jogo de imediato, no fim do ano.
Como as casas de câmbio não costumam trabalhar com estoques elevados de dinheiro em espécie, e o governo tem restrições para a circulação de moeda por avião no país, acabou faltando dólar e euro em regiões mais afastadas das grandes metrópoles, disse Santos. Algumas das maiores corretoras, como Confidence e Cotação, reconhecem que tiveram de fazer rearranjos logísticos, levando papel de uma unidade para outra, além de aumentar seus estoques em moeda.
O presidente da Abracam disse que as corretoras têm procurado estimular a demanda por cartões, que são “mais interessantes para elas”, porque têm menores custos de logística e promovem maior fidelização de clientes. Por isso, a diferença entre as cotações da moeda em espécie e do pré-pago, que em novembro e dezembro era menor do que R$ 0,01, segundo o Banco Central (BC), agora subiu para até R$ 0,04, conforme pesquisa do GLOBO, confirmada pela Abracam. Nesta quarta, corretoras ofereciam o dólar no cartão pré-pago a R$ 2,48 e a moeda em espécie a R$ 2,52. O preço promocional não compensa o aumento do imposto sobre os cartões pré-pagos.
A Cotação S.A. tem oferecido desconto de 1% para a aquisição de câmbio em cartão. Em outubro e novembro, o cartão pré-pago já tinha uma cotação R$ 0,02 menor a cada dólar. Hoje, essa diferença é de R$ 0,025. Alexandre Fialho, diretor da corretora, disse que o movimento é para manter os clientes no pré-pago.
— Aumentamos o desconto porque o produto pré-pago fideliza mais o cliente e sabemos que vai ser melhor para ele. Além disso, é mais barato para a empresa — disse Fialho.
Fluxo começa ano negativo
O BC disse que acompanha permanentemente as taxas e afirmou que valores em “patamares destoantes” daqueles praticados pelo mercado ou em operações que configurem formação artificial ou manipulação de preços podem ser punidas conforme as regras do Conselho Monetário Nacional (CMN). A autoridade monetária destaca que o regime vigente é o de livre flutuação da taxa de câmbio, que é acordada entre corretores e bancos com seus clientes, variando segundo a operação pretendida.
Nos primeiros 17 dias úteis do mês, o país registrou a saída de US$ 1,9 bilhão, já descontada a entrada de moeda americana t para aplicações no mercado financeiro e para pagar as exportações de produtos. O fluxo cambial no vermelho é consequência da retirada dos estímulos à economia dos EUA e da queda de confiança no Brasil. Segundo dados do BC, o déficit no mês é causado praticamente pelas transações no mercado financeiro. A saída líquida chega a US$ 1,8 bilhão. Os importadores gastaram US$ 112 milhões a mais do que ganharam os exportadores.
Colaborou Gabriela Valente