sábado, 19 de janeiro de 2019

Demissão por mau desempenho está nos planos do governo para ajustar funcionalismo

Integrantes da equipe comandada pelo ministro da Economia, Paulo Guedes, afirmam que não está nos planos do governo do presidente Jair Bolsonaro acabar com a estabilidade dos servidores públicos. O governador do Rio, Wilson Witzel, defendeu nesta sexta-feira que o assunto precisa ser discutido e repensado como forma de dar maior margem aos gestores. O governo federal, porém, pretende fazer ajustes no funcionalismo.
Técnicos ouvidos pelo GLOBO dizem que a estabilidade é um direito garantido na Constituição e que seu fim provocaria um desgaste político muito grande junto ao Congresso Nacional. A mudança demandaria uma emenda constitucional e enfrentaria muita resistência do lobby dos próprios servidores. O que está nos planos de reestruturação das carreiras públicas é regulamentar duas situações: o direito de greve e a possibilidade de demitir servidores por mau desempenho.
- Simplesmente acabar com a estabilidade seria muito desgastante, uma vez que esse é um direito que foi assegurado ao funcionalismo federal e aos estados pela Constituição. Existe uma outra forma de dar maior eficiência ao funcionalismo — disse um integrante da equipe de Guedes, acrescentando: — Hoje, por exemplo, é muito difícil demitir um servidor por incompetência. Falta uma regulamentação. Quem é demitido acaba conseguindo voltar, depois que entra na Justiça. Isso tem que ser aperfeiçoado e pode ser feito por lei complementar.
Ele citou ainda o problema gerado pela falta de regulamentação do direito de greve. Ele lembrou um exemplo recente criado pela falta de uma regra clara. Policiais militares - que não podem fazer paralisações por exercerem uma função essencial para a população - acabaram de retornar aos quadros no Espírito Santo por causa de uma lei de anistia. A categoria fez uma greve em 2017, que provocou uma série de transtornos à população, e vários policiais chegaram a ser demitidos. O governador Renato Casagrande, no entanto, sancionou esta semana uma lei que foi aprovada pela Assembleia Legislativa do Espírito Santo para anistiar esses servidores.'
Em reunião com o presidente Bolsonaro, no fim do ano passado, governadores eleitos, entre eles Witzel, João Dória (São Paulo) e Ibaneis Rocha (Distrito Federal), leram uma carta na qual defendiam uma série de medidas que ajudariam a resolver a crise financeira nos estados. Entre as medidas, estava a revisão da estabilidade dos servidores públicos. A carta defendia ainda a necessidade de aprovação do projeto de securitização das dívidas ativas dos estados e uma alteração na Constituição que permita aos governos regionais explorar portos, infraestrutura aeroportuária e instalações de energia elétrica, hoje nas mãos da União.
No caso dos servidores, a orientação da equipe econômica para os estados envolve outras propostas. Em documento publicado esta semana, direcionado aos novos governadores, o Tesouro sugere como medidas de ajuste fiscal, por exemplo, a suspensão de novas contratações, a privatização de estatais e o aumento de alíquotas de impostos.
Na esfera do funcionalismo federal, está nos planos do governo fazer uma reestruturação, reduzindo o número de carreiras, criando mais degraus para se chegar ao topo e equiparando os salários iniciais aos pagos no setor privado. Os técnicos apontam que o excesso de carreiras torna difícil a mobilidade de servidores de um órgão para outro, o que aumenta a pressão pela realização de concursos públicos, e também faz com que o governo enfrente mais pressões por reajustes salariais. O governo federal precisa negociar com mais de 200 sindicatos que representam as diferentes carreiras.

Martha Beck, O Globo