quarta-feira, 16 de janeiro de 2019

Porta-voz, general terá de unificar comunicação no governo Bolsonaro

A chegada do general Otávio Santana do Rêgo Barros ao reformulado posto de porta-voz de Jair Bolsonaro (PSL) visa não só dar uma voz ao Palácio do Planalto, mas também tentar acabar com a cacofonia que marcou as turbulentas duas primeiras semanas do novo governo.
A figura do porta-voz foi esvaziada ao longo dos anos, sendo ocupada cada vez mais por figurantes da corte palaciana. Rêgo Barros chega com a missão de unificar a comunicação de Bolsonaro, e não apenas para ler comunicados.

General Otávio Santana do Rego Barros, que será porta-voz de Jair Bolsonaro
General Otávio Santana do Rego Barros, que será porta-voz de Jair Bolsonaro - Divulgação/Exército
Não é casual que ele seja um general de divisão, ostentando três estrelas do segundo maior nível da hierarquia da Força no ombro. Ele seguirá na ativa, agregado à função civil, podendo inclusive ser promovido no Exército.
Chefe de Comunicação Social do Exército desde 2014, Rêgo Barros ainda não teve a nomeação publicada e deve ajudar a coordenar sua sucessão antes de assumir o cargo.
O general afirmou que não poderia falar ainda sobre seus planos sem estar nomeado, além de ter de inteirar-se da realidade à sua espera.
Em 15 dias coalhados de recuos do presidente e falas desencontradas, como o anúncio do aumento de impostos logo descartado na semana retrasada, Bolsonaro ouviu assessores do seu núcleo militar e concordou com a ideia de botar ordem na casa.
Há a preocupação da sobrecarga de funções sobre o chefe da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, não conhecido exatamente pela suavidade quando colocado sob pressão por jornalistas —ele já abandonou entrevistas e deu respostas atravessadas algumas vezes.
Como acontece em quase todas as áreas do governo, no aperto o Planalto olhou para a corporação de origem do presidente, aumentando uma militarização que é vista com reserva por parte da cúpula das Forças Armadas.
Aliados de Bolsonaro dizem que essa dependência não deve ser confundida com tutela, como afirmam políticos em Brasília ao analisar a invasão de oficiais das três Forças em cargos diversos da administração federal. E o general está lá para cumprir a hierarquia determinada pela Constituição, sustentam.
Rêgo Barros tem familiaridade no trato com a imprensa. Isso o coloca, involuntariamente ou não, em posição diversa da conduta geral do governo —a começar pelo presidente e seus belicosos filhos, em especial o vereador fluminense Carlos (PSC) e o deputado federal reeleito por São Paulo Eduardo (PSL).
No centro do grupo de oficiais servindo ao governo está o principal conselheiro de Bolsonaro, o general da reserva Augusto Heleno.
Ele agora terá ao seu lado no Gabinete de Segurança Institucional o ex-comandante do Exército Eduardo Villas Bôas, que deixou o cargo na semana passada. Ele avalizou a escolha de Rêgo Barros, seu escudeiro durante todos os seus quase quatro anos à frente da Força.
Integrantes do núcleo militar do governo vinham demonstrando preocupação com os desencontros na comunicação de governo e, muito reservadamente, com o papel da atividade feérica dos filhos de Bolsonaro nas redes sociais, palpitando sobre diversos temas do Executivo.
Enquanto isso, o Planalto seguia sem um canal, e o presidente tem sua comunicação direta sob influência de Carlos, o mais agudo dos críticos da imprensa em sua família.
Como diz um deputado aliado do governo, é uma situação de explosão iminente.
Rêgo Barros responderá diretamente a Bolsonaro, não à Secom (Secretaria de Comunicação de Governo), que continua sob os cuidados de um indicado dos filhos do presidente, Floriano Barbosa.
O órgão seguirá com contratos de publicidade, que estão sendo também avaliados pelo general Carlos Alberto dos Santos Cruz na Secretaria de Governo, e com a comunicação institucional do Planalto.

Igor Gielow, Folha de São Paulo