sexta-feira, 29 de setembro de 2017

'Não fiz com eles o que eles fizeram com a Dilma', diz Maia sobre impeachment


O presidente da República, Michel Temer, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia - Ricardo Moraes / REUTERS


O Globo



O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), atribuiu a integrantes do primeiro escalão do governo os rumores de que teria interesse na Presidência da República. Em entrevista ao jornal "Valor Econômico" divulgada nesta sexta-feira, Maia negou interesse no cargo ocupado pelo presidente Michel Temer e afirmou que não se movimentou pelo impeachment, ao contrário do que políticos no entorno da ex-presidente Dilma Rousseff fizeram. O PMDB era o principal partido da base da petista, e o peemedebista Temer, então vice-presidente da República, ascendeu ao poder.

— Não fiz com eles (governistas) o que eles fizeram com a Dilma. Talvez por isso essas mentiras criadas (sobre ele articular a queda de Michel Temer), para tentar criar um ambiente em que eu era o que não prestava e eles eram os que prestavam — disse o deputado, ao complementar:

— Como eles (governistas) fizeram desse jeito com a Dilma, talvez imaginassem que o padrão fosse esse. O meu padrão não é o mesmo daqueles que, em torno do presidente, comandaram o impeachment da Dilma.

Para justificar sua falta de interesse na cadeira presidencial, Maia afirma que o presidente teria sido derrubado, se não fosse por seu esforço em manter o DEM junto ao governo no momento da primeira denúncia (por corrupção passiva) contra Michel Temer.

— Vou dizer claramente, sem nenhuma vaidade: se eu tivesse deixado o DEM sair (do governo) com o PSDB, o Michel tinha caído — disse.


DESGASTE ENTRE DEM E GOVERNO

Embora diga que tenha trabalhado para manter o DEM junto ao governo, Rodrigo Maia não garante que o mesmo será feito a partir de agora. A relação entre DEM, partido do presidente da Câmara, e o PMDB, partido do presidente da República, ficou estremecida com a disputa travada pelas duas legendas para atrair deputados dissidentes do PSB.

O DEM procura ampliar sua base na Câmara. Por sua vez, Temer jantou com a líder do PSB na Casa, Tereza Cristina (MS), na tentativa de atrair ao PMDB parlamentares alinhados com as reformas do governo. O ministro de Minas e Energia, Fernado Bezerra Coelho, migrou para o PMDB, após também estar presente no jantar.

— Desesperado, Michel pediu para jantar aqui comigo para esclarecer que era mentira (a tentativa de atrair dissidentes do PSB). O presidente do PMDB (senador Romero Jucá) ligou para o presidente do DEM (senador Agripino Maia) para dizer que eles não tinham nenhum interesse nos parlamentares do PSB e o que estamos vendo é outra coisa. E o Romero, depois dessa denúncia, continuou fazendo a mesma coisa. A relação do PMDB com o DEM hoje é muito difícil — admitiu Maia.

O presidente da Câmara ainda criticou a presença de dois importantes peemedebistas na filiação de Bezerra Coelho: os ministros Moreira Franco (Secretaria Geral) e Eliseu Padilha (Casa Civil). Segundo Maia, o gesto significa uma "posição do governo".

— Como o presidente do PMDB e o próprio presidente da República falam uma coisa e o partido faz outra? E os ministros Moreira Franco e Eliseu Padilha vão à filiação do Fernando Coelho respaldar que aquilo é uma posição do governo? Eles são muito corajosos — ironizou, para depois acrescentar:

— Um deputado do DEM pode pensar: 'Por que eu vou me meter nesse desgaste se o governo quer prejudicar meu partido?'