Marisa Letícia jamais poderia imaginar que, depois de morta, seria tão útil ao marido. Acusado de ganhar de presente da Odebrecht o apartamento contíguo ao seu, em São Bernardo, Lula assegura que o proprietário é Glaucos da Costamarques, um parente do seu amigão José Carlos Bumlai. Apontado pelos procuradores da Lava Jato como “laranja”, Glaucos declarou em depoimento a Sergio Moro que Lula ocupa o imóvel desde 2011 sem pagar um níquel. Só começou a pagar aluguel no final de 2015, depois que Bumlai foi em cana.
Homem de múltiplas ocupações, Lula disse a Moro que nunca teve tempo para cuidar do ordenamento das despesas da família. Delegou a tarefa a Marisa. Foi ela quem assinou o contrato de locação. Era ela a responsável pelos pagamentos. O juiz da Lava Jato cobrou os recibos. E a defesa anexou aos autos um papelório malcheiroso.
Afora um par de recibos com datas inexistentes e meia dúzia com erros na grafia de Bernardo, de São Bernardo, o lote contém documentos que o hipotético locador diz ter assinado num único dia. Deu-se no final de 2015, quando prepostos de Lula procuraram Glaucos no hospital Sírio-Libanês, onde estava internado.
Nesta quinta-feira, o advogado de Lula, Cristiano Zanin, divulgou na internet um vídeo no qual acomoda sobre a memória de Marisa Letícia a autenticidade do papelório. (assista lá no alto)
Disse o doutor: “Acreditamos que esses recibos expressam a verdade dos fatos, pois dona Marisa sempre foi uma mulher íntegra e honesta. Os recibos estão assinados pelo proprietário do imóvel e dão quitação dos alugueis até dezembro de 2015, gerando a presunção legal de que os aluguéis foram devidamente pagos. A responsabilidade pelo documento é de quem o assina. Pequenos erros em dois dos 26 recibos apresentados não retiram a força probatória dos documentos.”
O barulhinho que se ouve ao fundo é o ruído de Marisa Letícia se contorcendo no túmulo. Não estava previsto no contrato que, além de esposa dedicada e locatária exemplar, deveria servir de álibi post-mortem.