Após um primeiro ano de governo com resultado decepcionante na economia – retração de 2,3% no PIB e inflação na casa dos 40% em 2016 –, o presidente da Argentina, Mauricio Macri, começa a respirar aliviado. Impulsionada por obras públicas e pelo agronegócio, a economia de seu país avançou 1,6% no primeiro semestre deste ano e os preços subiram de forma mais moderada: 12%. Em julho, o FMI elevou a estimativa de crescimento da Argentina para este ano de 2,2% para 2,4%; o governo projeta 3%.
Caso essa expansão se concretize, Macri poderá dizer que suas reformas colocaram o País novamente na rota de crescimento, mesmo em um período em que seu principal parceiro comercial – o Brasil – puxou a recuperação para baixo. Entre as mudanças adotadas pelo presidente estão o fim do controle do acesso ao dólar, a redução dos subsídios a serviços como transporte, gás e eletricidade, a negociação do pagamento da dívida com os fundos abutres (que compraram os títulos do governo após a Argentina quebrar em 2001) e a desvalorização do peso em cerca de 40%.
Até agora, o desempenho mais positivo vem da construção civil. No segundo trimestre, o PIB do setor avançou 9,7% na comparação com o mesmo período de 2016, após uma alta de 2% entre janeiro e março. Esse crescimento acelerado é puxado pelas obras em infraestrutura e decorre também do fato de a base de comparação ser bastante baixa; em 2016, a construção havia recuado 11% no país.
O presidente da Câmara Argentina da Construção, Gustavo Weiss, lembra que as licitações para obras do governo pararam no início do ano passado, período em que Macri (que assumiu a Presidência em dezembro de 2015) colocou em dia contas atrasadas de sua antecessora, Cristina Kirchner. Desde o fim de 2016, porém, os investimentos em infraestrutura foram retomados.
Com 60% de seus trabalhos concentrados no setor público, a construtora Chediack aumentou seu quadro de funcionários de 1,5 mil para 1,8 mil neste ano e projeta crescer 20%, após retração de 4% em 2016. A empresa também pretende ampliar sua atuação no setor privado, depois de o governo ter criado um novo modelo de crédito imobiliário. Até o ano passado, diante dos altos índices de inflação do País, os financiamentos eram praticamente inexistentes. Agora, criou-se um pacote para incentivar o crédito, que vem crescendo a uma taxa de 8% ao mês.
“A indústria de imóveis deve ser retomada no próximo ano, quando os bancos começarem a liberar os créditos para as construtoras”, diz Weiss. “Não tenho dúvidas de que esse setor vai crescer muito. A Argentina tem um déficit de 3 milhões de casas”, acrescenta Chediack.
Agronegócios. Após anos de enfrentamento com Cristina Kirchner – que taxava as exportações de alimentos –, o setor de agronegócios vive uma lua de mel com Macri. A redução – e, em alguns casos, a eliminação – dos impostos cobrados do exportador de produtos agrícolas foi uma das primeiras medidas adotadas pelo presidente. “O governo Macri nos colocou em condição de igualdade com o resto da economia argentina”, diz o presidente da Sociedade Rural Argentina, Luis Miguel Etchevehere.
Segundo ele, como resposta à medida do governo, o setor agropecuário investiu US$ 58 bilhões até agora. O resultado desses aportes foi uma alta de 28% na safra de grãos deste ano. O PIB do setor cresceu 4,8% e 4,9% no primeiro e no segundo trimestre, respectivamente.
Produtor de milho, soja e trigo nas províncias de Buenos Aires e Córdoba, Santos Zuberbühler conta que ampliou em 25% suas áreas de cultivo de trigo, cujos custos são mais elevados que os da soja, porque agora pode exportar o grão a preços internacionais. O número de funcionários fixos de suas fazendas, que somam dez mil hectares, passou de 10 para 18. “Agora vamos trabalhar para aumentar a produtividade por hectare.”
Desafios. O economista-chefe do BTG Pactual na Argentina, Andres Borenstein, destaca que, apesar da alta do PIB e da melhora do panorama econômico em geral, o modelo de crescimento do país ainda não está claro. “A partir do ano que vem, o governo buscará atrair investimentos por meio de parcerias público-privadas (PPP). Esses investimentos não estão garantidos”, diz. Borenstein afirma ainda que há uma preocupação com a consolidação desse crescimento nos anos seguintes. “A Argentina sempre cresce em um ano e perde no seguinte. Se houver dois anos consecutivos de expansão (2017 e 2018), os investidores poderão se animar e injetar mais recursos no país.”
O economista Lorenzo Sigaut, da consultoria Ecolatina, afirma que a retomada da economia está em um ritmo mais lento do que se esperava quando Macri assumiu. “Algumas medidas que o presidente adotou no começo do mandato tiveram impacto inicial negativo, como a desvalorização do peso (que acelerou a inflação em 2016). Agora, a economia está mais ordenada, mas ainda não voltamos ao patamar de 2015.”