RICARDO BONALUME NETO - Folha de São Paulo
Em 2015, o final da Segunda Guerra Mundial (1939-1945) completou 70 anos.
Datas redondas aparentemente são boas para editar livros. A safra internacional de 2015 começou a aparecer agora em traduções brasileiras.
Mas não é só isso. Mesmo sem efemérides, o nazismo continua na moda, tanto para o bem quanto para o mal.
Existem jovens neonazistas em Paris, no sul dos EUA, mesmo em Juiz de Fora ou Tel Aviv. Mas é crescente o conhecimento acerca desse fenômeno espúrio na história da humanidade. Como foi possível que a Alemanha, um dos países mais refinados e cultos do velho continente, tenha descambado para tal barbárie?
Vale a pena ler primeiro um livro editado pouco antes da nova safra, "Nazismo e Guerra" (Objetiva), de Richard Bessel. O historiador britânico foi além das aparências, da época e do pós-guerra. Seu livro abala diversos mitos.
"A guerra nazista não era apenas o palco do genocídio, o contexto em que se poderiam executar campanhas de homicídio em massa. Em si, a guerra era a expressão do nazismo aplicado do regime. A guerra nazista era luta racial; a luta racial nazista era a guerra."
Ou seja, sem nazismo não haveria guerra, e a derrota foi o resultado óbvio. Pois a condução da guerra pelos alemães foi irracional, privilegiava a ideologia e deixava de lado considerações práticas.
Os ucranianos estavam fartos do regime comunista dominado pela Rússia. Teriam sido valioso aliado para os alemães. Mas a ideologia que pregava o desprezo dos eslavos foi mais forte, e a população da Ucrânia, depois de inicialmente receber os alemães com flores, logo passou a tratá-los com balas e explosivos.
Até o final do conflito os nazistas perseguiram o que chamavam de raças inferiores, apesar de afetar o próprio esforço de guerra. Em vez de usar trens para transportar tropas, continuavam até o fim sendo usados para levar judeus a campos de extermínio.
Foram quase 6 milhões de judeus mortos, 27 milhões de mortos russos e de outras nacionalidades da antiga União Soviética.
Entre a miríade de interpretações, está também a tese de Lewis H. Lapham, editor emérito da revista americana "Harper's Magazine", de que o pecado original germânico foi o azar de o país não ter sido civilizado por Roma. Os romanos nunca tomaram toda a Germânia, só uma parte pequena, produtiva e útil como defesa do resto do império.
Roma não tinha interesse em domesticar bárbaros peludos em florestas sombrias.
Abriu-se remotamente o caminho que levaria ao poder o demagogo Adolf Hitler e seu partido Nacional Socialista dos Trabalhadores Alemães.
LACUNA
O tema do genocídio foi bem trilhado pela historiografia. E é uma surpresa constatar que faltava um livro importante, "Ravensbrück - A História do Campo de Concentração Nazista pra Mulheres" (Record), de Sarah Helm.
Ela narra a história de um campo de concentração relativamente pequeno campo; por ali passaram cerca de 130 mil mulheres em seis anos de atividade. Morreram entre 30 mil e 90 mil –não há consenso sobre as estimativas da maior guerra da história.
Ravensbrück explicita a ideia nazista de que a sociedade deveria extirpar pessoas "indesejáveis" –lésbicas, drogadas, comunistas etc.
E praticamente tudo que Adolf Hitler fez estava descrito em seu livro ("Minha Luta"). Quem teve paciência de ler um livro chatíssimo antes da guerra não se espantou com o que nazistas fizeram.
(No Brasil, editoras foram proibidas de publicar a obra porque ela fomenta a intolerância –diz a Justiça do Rio; na Alemanha, uma edição comentada entrou na lista de mais vendidas; na internet, a obra é encontrada com facilidade.)
DROGAS
A literatura da guerra inclui pontos polêmicos, como em "High Hitler - Como o Uso de Drogas pelo Führer e pelos Nazistas Ditou o Ritmo do Terceiro Reich" (Planeta), de Norman Ohler.
O autor diz que drogas derivadas do ópio foram fundamentais para o sucesso das primeiras campanhas da guerra, notadamente as invasões da Polônia em 1939 e da França em 1940. "As drogas faziam os soldados terem menos medo, e precisarem menos de sono", afirmou ele à Folha.
Substâncias teriam sido particularmente importantes para tripulantes de tanques, mas a relevância parece exagerada. Em combates entre tanques, parâmetros técnicos como espessura da blindagem, poder de fogo e velocidade eram bem mais importantes.
Ainda mais crucial foi o fato de que as torres de tanques alemães tinham três tripulantes –comandante, atirador e municiador– em vez de ter só os dois primeiros como era comum nos modelos aliados do início do conflito.
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NAZISMO E GUERRA (ótimo)
AUTOR Richard Bessel
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 47,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
AUTOR Richard Bessel
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 47,90 (256 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
RAVENSBRÜCK (ótimo)
AUTORA Sarah Helm
EDITORA Record
QUANTO R$ 83,50 (924 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
AUTORA Sarah Helm
EDITORA Record
QUANTO R$ 83,50 (924 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
HIGH HITLER (bom)
AUTOR Norman Ohler
EDITORA Planeta
QUANTO R$ 33,90 (384 págs.)
AVALIAÇÃO Bom
AUTOR Norman Ohler
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SOLDADOS - SOBRE LUTAR, MATAR E MORRER (ótimo)
AUTOR Harald Welzer e Sönke Neitzel
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 44,90 (528 págs.)
AVALIAÇÃO Ótimo
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O AMIGO ALEMÃO (muito bom)
AUTOR Adam Makos e Larry Alexander
EDITORA Geração Editoral
QUANTO R$ 43,40 (408 págs.)
AVALIAÇÃO Muito bom
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A FORTALEZA DE INVERNO (muito bom)
AUTOR Neil Bascomb
EDITORA Objetiva
QUANTO R$ 38,20 (464 págs.)
AVALIAÇÃO Muito bom
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AVALIAÇÃO Muito bom