Com o encolhimento do mercado de trabalho, 1 em cada 5 brasileiros de 16 a 64 anos de idade vem procurando iniciar um negócio por conta própria. A maioria é motivada pela necessidade, mas há uma mudança animadora.
Vem crescendo rapidamente a parcela dos empreendedores considerados “fora da curva”. São aqueles que se estabelecem por opção profissional, induzidos pelo seu senso de oportunidade. Eles já representam 48,5% dos novos empreendedores, que oferecem novos produtos e serviços ao mercado, segundo a pesquisa Global Entrepreneurship Monitor (GEM) 2016, apoiada no Brasil pelo Sebrae e pelo Instituto Brasileiro da Qualidade e Produtividade.
Na comparação com outras economias de grande porte, em termos de tamanho da população e do mercado, somente os EUA (61,6% dos novos empreendedores) superam o Brasil no aspecto da inovação. Mas, diferentemente do que ocorre nos EUA, os produtos oferecidos aqui não são necessariamente aqueles da mais avançada tecnologia. Trata-se, na maior parte das vezes, de serviços e itens de conteúdo tecnológico conhecidos no mercado internacional, mas que podem ser tidos como novidade no mercado brasileiro.
O que caracteriza os empreendedores nacionais mais ousados, como disse o consultor Pedro Gonçalves, do Sebrae-SP, é a busca por um nicho para atuação com pouquíssima concorrência, pelo menos inicialmente. Como mostram os exemplos citados por reportagem do Estado, há tentativas fracassadas e erros antes de localizar o potencial de um determinado mercado, o que atrai concorrentes.
Essa nova tendência resulta de maior escolaridade dos empreendedores, mais familiarizados com os avanços tecnológicos. A LiveAd, de Porto Alegre, começou posicionando marcas em plataformas digitais, o que era feito no exterior há 15 anos. Já a Catarse, de São Paulo, introduziu no País a primeira plataforma de crowdfunding (financiamento coletivo), reproduzindo modelo internacional.
Convém notar que, principalmente entre os mais jovens, existe mais consciência sobre as transformações socioeconômicas globais nas últimas décadas, fortalecendo a economia de mercado. Assim, como diz Edgar Barki, da FGV, o País pode estar “caminhando para a profissionalização do empreendedorismo”.