O Estado de S.Paulo
Apesar do confuso quadro sobre a disputa presidencial do ano que vem, é bom prestar atenção no surgimento de uma dupla que, se vingar, vai fazer barulho dentro do grupo que está no poder. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), estão cada vez mais afinados na defesa de uma severa política fiscal, das reformas da Previdência e tributária e do controle das contas públicas. Do que falam pode-se entender o esboço de um programa de governo.
Como os dois não negam suas pretensões e o desejo de chegar à Presidência da República, torna-se mais claro, a cada dia, a tentativa de ocupar o espaço no campo político liberal do governo, que alguns chamarão de centro-direita. Eles sabem que uma chapa Meirelles-Maia teria grande chance de receber apoio de parte do mercado e do setor produtivo. Haveria dificuldades para conquistar a Fiesp, que faz oposição forte a Meirelles e tende a apoiar o governador Geraldo Alckmin, do PSDB.
Como Meirelles sabe que não terá nenhuma acolhida por parte dos tucanos, que têm candidato à Presidência, e trabalham seriamente para voltar ao Palácio do Planalto em 2019, a grande oportunidade do ministro da Fazenda é a aliança com o DEM de Rodrigo Maia. Meirelles é filiado ao PSD de Gilberto Kassab.
Alckmin já percebeu a aproximação de Meirelles com o DEM. No início da semana, ele tentou arrancar dos líderes do Democratas o compromisso de apoio à sua candidatura à Presidência, na tentativa de reviver a aliança dos tempos do governo Fernando Henrique Cardoso. Mas ouviu somente apelos para que não abandone o governo Michel Temer.
Meirelles e Maia, que nos últimos meses têm se encontrado com muita frequência, principalmente para falar de reformas e da estabilidade do governo, querem manter a unidade da aliança que apoia Michel Temer pelo menos até o mês de abril, quando os candidatos que ocupam cargos no Poder Executivo terão de se afastar por exigência da legislação eleitoral. Caso de Meirelles, ministro da Fazenda, e de Alckmin, governador. Rodrigo Maia, por ser deputado, não tem de se licenciar do mandato.
O interesse da dupla Meirelles-Maia na governabilidade de Temer tem tudo a ver com os sonhos deles de formar uma chapa para disputar a Presidência da República. Eles acreditam que a economia dará sinais mais fortes de recuperação ainda neste ano. Desde que a aliança que apoia Temer fique unida, salve o mandato do presidente, rejeitando todas as denúncias da Procuradoria-Geral da República, e volte a tratar da reforma da Previdência. Feito isso, Meirelles e Maia teriam uma bandeira a apresentar ao eleitor.
Apareceriam como a dupla responsável pelo ajuste fiscal que levou à recuperação da economia herdada em ruínas do governo Dilma Rousseff. Meirelles, por ter chefiado a equipe econômica que restabeleceu a confiança no governo, resistiu aos ataques especulativos contra ele e contra a política econômica e que, para evitar o desastre, teve até de recorrer ao aumento de impostos; Maia, por ter comandado na Câmara a trincheira dos defensores do ajuste e ter rechaçado as tentativas de flexibilização da política fiscal até por parte do PMDB, liderado pelo presidente do partido, Romero Jucá (RR).
Como o discurso de Meirelles e Maia terá como ponto central a severa política fiscal e as reformas, Alckmin procura um jeito de, se não neutralizá-lo, pelo menos se apossar de parte dele. Ele acredita que a economia vai mesmo melhorar por causa das ações tomadas pelo governo. Por isso, tem repetido que não se deve ficar apenas na questão fiscal, mas também em outras reformas, como a da Previdência e a tributária. Para se diferenciar de Meirelles e Maia, e chamar a atenção como adversário preferencial de Lula e do PT, até criou um bordão: “Ficou rico na política, é ladrão”.