Danilo Verpa - 28.set.2014/Folhapress | |
Luciana Genro, que foi candidata à presidência da República pelo PSOL |
BERNARDO MELLO FRANCO - Folha de São Paulo
Última candidata do PSOL ao Planalto, a ex-deputada Luciana Genro acusa Lula e o PT de fingirem interesse na queda de Michel Temer. Ela afirma que o ex-presidente e seu partido preferem prolongar o desgaste do presidente até as eleições de 2018.
"O PT não tem interesse em derrubar Temer agora. Eles querem deixar o governo sangrar e fazer os ajustes para quem assumir depois", diz.
Luciana está cética quanto à chance de afastamento do presidente, denunciado sob acusação de corrupção. "Eu teria esperança se houvesse uma grande mobilização popular empurrando a Câmara a abrir o processo."
A ex-deputada sustenta que a cúpula petista não se mexeu para evitar o esvaziamento das ruas. Ela diz que PT e PMDB já haviam se unido para barrar a cassação da chapa Dilma-Temer no Tribunal Superior Eleitoral. "Ali o Temer poderia ter caído, havia clima político para isso."
Na semana passada, Lula criticou o PSOL e disse que o partido precisa vencer uma eleição para parar de "frescura". "Eles vão perceber que não dá para a gente nadar teoricamente. Entra na água e vai nadar, porra", afirmou o ex-presidente, em entrevista ao programa "Na Sala do Zé".
A provocação irritou a ex-deputada. "Lula entrou tanto no mar que se afundou, porque mergulhou na lama da corrupção", rebate.
"O problema do Lula é que ele não pode suportar a ideia de que a sua autoridade moral está sendo questionada. Ele se coloca num patamar superior ao dos mortais. Mas ficou evidente que ele estabeleceu relações promíscuas com as empreiteiras", ataca.
Apesar de defender que o ex-presidente tenha o direito de concorrer em 2018, Luciana diz que ele perdeu as condições de se apresentar como um candidato de esquerda.
"Quando empreiteiras pagam milhões a um metalúrgico, ele deixa de pertencer à sua classe de origem. Vira um agente dos interesses do andar de cima", afirma.
A ex-deputada contesta a tese de que o ex-presidente seria vítima de perseguição judicial. Suas declarações a favor da Lava Jato já irritaram colegas do PSOL.
"Apoio a Lava Jato e defendo que ela vá até o fim, doa a quem doer."
"Setores do PT já disseram que a operação seria uma manobra do imperialismo americano para destruir a esquerda brasileira. Se esse discurso tivesse prevalecido, não teríamos Eduardo Cunha preso, Temer denunciado e políticos do PSDB sendo investigados", acrescenta.
LIVRO
A ex-deputada escreveu um artigo sobre os governos do PT para o livro "Cinco Mil Dias "" O Brasil na Era do Lulismo", organizado por Gilberto Maringoni e Juliano Medeiros (editora Boitempo, R$ 49,00, 400 págs.).
No texto, ela sustenta que a política econômica do petismo "se apoiou numa aliança do Estado com o grande capital privado, os banqueiros e o agronegócio".
Luciana afirma que Lula apostou na "cooptação de trânsfugas da ditadura, como Sarney e ACM, e na gestão da massa fisiológica de parlamentares através de cargos e dinheiro". "O mensalão foi parte desta gestão, algo que a Lava Jato mostrou ser apenas a ponta do iceberg", diz.