segunda-feira, 31 de julho de 2017

Para reduzir endividamento, Petrobras pretende se desfazer de campos históricos




Aposta. Campo de Guaricema, em Sergipe: início da exploração no mar - Arquivo/15-1-1969

Ramona Ordoñez - O Globo


No caminho para equilibrar as finanças, a Petrobras está se desapegando até mesmo de parte de sua história. Com foco na redução da dívida — de R$ 364,8 bilhões no primeiro trimestre — e em projetos que oferecem retorno mais rápido, a estatal incluiu na sua lista de ativos à venda campos de petróleo que marcaram a trajetória da companhia.

A estatal pretende se desfazer de sete conjuntos de campos de petróleo em águas rasas, num total de 30 concessões. Entre eles, está o de Guaricema, no litoral de Sergipe, a primeira descoberta de petróleo no mar no Brasil, em 1968, onde foram testadas as primeiras tecnologias voltadas para campos marítimos.


META DE LEVANTAR US$ 21 BI

Como a própria Petrobras destaca na exposição que marcou os 60 anos da companhia, investir na exploração do campo foi, na época, uma decisão estratégica, pois o país importava petróleo a baixo custo (US$ 3 por barril). No mesmo ano, porém, foi criada a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep), e o cenário para o produto começou a mudar, com alta de preços.

Na lista, consta ainda o Campo de Enchova, o primeiro a iniciar a produção de petróleo na Bacia de Campos, com exploração comercial a partir de 1977, com uma produção de dez mil barris por dia numa plataforma flutuante. A exploração de petróleo na região completa 40 anos em 2017.

A exploração de petróleo no Campo de Enchova também é marcada por um dos maiores acidentes numa plataforma da Petrobras. Em agosto de 1984, um incêndio destruiu a plataforma e uma das embarcações de emergência despencou ao ter o cabo rompido. O acidente, que matou 37 pessoas, foi causado por um vazamento de gás num poço que estava sendo perfurado.

Em comunicado ao mercado na noite de sexta-feira, a Petrobras explicou que enviou informações (teasers) a potenciais interessados nos sete conjuntos de campos de águas rasas, que envolvem um total de 30 concessões para cessão de exploração e desenvolvimento da produção. O objetivo é contribuir para que a companhia atinja a meta de levantar US$ 21 bilhões com a venda de ativos no biênio 2017-2018.

‘BOM PARA PETROBRAS E MACAÉ’

Na avaliação de Adriano Pires, diretor do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE), a estratégia da Petrobras é correta pois os campos estão em declínio natural. De acordo com o especialista, para recuperar sua produção é necessário o uso de tecnologia específica e de custo elevado, o que não compensaria para uma petroleira de grande porte. O especialista cita empresas como Schlumberger e Halliburton como potenciais interessadas nesse tipo de ativo.

— Faz muito sentido vender esses campos que estão produzindo mais água do que petróleo e estão com a curva de produção em declínio. Eles precisam de uma operadora que entenda desse negócio e coloque dinheiro lá porque para uma companhia de grande porte, como a Petrobras, é desperdício. Ela tem de focar no desenvolvimento de campos grandes no pré-sal. Será bom para a Petrobras vender esses campos e para Macaé, que terá novos investimentos de outras empresas — disse Pires.

Em outro sinal de mudança no setor de petróleo, segundo o colunista do GLOBO Lauro Jardim, em junho, a produção de petróleo do pré-sal chegou a 1,352 milhão de barris, superando a do pós-sal, de 1,321 milhão.

A parcela da Petrobras na produção média de petróleo e gás natural dos campos à venda no primeiro semestre foi de 73 mil barris de óleo equivalente por dia. No comunicado ao mercado a Petrobras informou que é operadora de todas as 30 concessões, com 100% de participação, exceto nas dos campos de Pescada e Arabaiana, onde é operadora com fatia de 65%, em parceria com a Ouro Preto Óleo e Gás. Nestes casos, o parceiro pode optar por exercer o direito de preferência na aquisição.