quinta-feira, 20 de julho de 2017

Economia forte é comemorada por Trump


São poucas as políticas económicas de Donald Trump que estão a ser implementadas no terreno CARLOS BARRIA/REUTERS

UOL


Quando as coisas se tornam particularmente difíceis, seja com novas acusações de conluio com a Rússia seja com mais iniciativas legislativas bloqueadas no congresso, Donald Trump vira-se para a economia. É natural, porque aí tem realmente conseguido encontrar indicadores que pode apresentar como provas do sucesso da sua presidência.
Mas, se é verdade que o desempenho da economia norte-americana nos últimos seis meses dá espaço a Trump para ensaiar uma interpretação positiva dos resultados obtidos, também é bastante claro que, não só a evolução dos principais indicadores segue a tendência que já se verificava antes da entrada em funções da nova Administração, como as principais linhas de política económica definidas pelo Presidente estão ainda por passar à prática, sendo por isso difícil estabelecer com segurança uma relação de causalidade entre uma nova estratégia e os dados positivos.
Os números que Trump tem vindo a destacar, em discursos e na sua conta do Twitter, são os que saem dos mercados financeiros e do mercado de trabalho.
Na bolsa, contrariando quem temia que uma presidência Trump pudesse assustar os investidores pela sua inconstância e incerteza, tem-se assistido a uma subida quase permanente dos principais índices. Os primeiros três meses depois da eleição em Novembro foram particularmente impressionantes e, logo em Janeiro, o índice Dow Jones da bolsa de Nova Iorque ultrapassou os 20.000 pontos pela primeira vez. Desde aí, a subida tem sido mais moderada mas constante, com uma subida de 9,5% desde o momento da tomada de posse a 20 de Janeiro.
No mercado de trabalho, tem-se assistido desde Janeiro a um aumento do número de empregos e de pessoas activas no mercado de trabalho. Entre Janeiro e Junho foram criados em média mais 88 mil empregos ao mês.
Para Trump, não há dúvidas que estes resultados são a consequência da sua presidência, confirmando desde já a promessa de colocar a economia norte-americana a crescer a uma taxa pelo menos próxima de 4% ao ano, com os empregos perdidos em alguns sectores nas últimas décadas a serem recuperados.
Se no caso da bolsa, os primeiros meses de Trump revelam efectivamente um desempenho impressionante em termos históricos e uma diferença marcada face a períodos recentes, no que diz respeito aos resultados da economia real, o verdito é menos claro.
No mercado de trabalho, por exemplo, os 88 mil novos empregos ao mês gerados durante a primeira metade de 2017 são praticamente idênticos ao resultado obtido no mesmo período de 2016. E tanto em 2014 como em 2015, os números até tinham sido superiores.
Para além disso, relacionar, ao fim de seis meses, qualquer resultado ao nível do emprego com uma nova política é arriscado, principalmente quando são ainda muito poucas as políticas que estão a ser implementadas no terreno. Se se olhar para o que são as principais linhas de política económica de Trump e aquilo que já foi passado à prática, não é difícil concluir que há ainda muito por fazer.
A estratégia económica traçada pelo novo presidente durante a campanha eleitoral assentava em quatro ideias fundamentais: redução dos impostos, política proteccionista no comércio internacional, programa ambicioso de investimento de infra-estruturas e redução da regulação dos mercados.
Ao nível dos impostos, a Casa Branca já apresentou a sua proposta de reforma fiscal, que inclui uma redução drástica dos escalões do IRS, uma diminuição de taxas para todos (incluindo os mais ricos) e um alívio fiscal para as empresas. No entanto, o plano apresentado não ocupava mais do que uma página A4, sendo conhecidos pouco detalhes, e subsistem muitas dúvidas em relação à capacidade de Trump para encontrar um consenso no Congresso. Dentro do Partido Republicano ainda se está a chegar a acordo relativamente à forma como se poderá, por via fiscal, penalizar as importações de bens, podendo esse debate contagiar o resto da reforma fiscal, onde um entendimento poderia ser mais simples.
A política mais proteccionista (a que Trump chama conseguir melhores acordos comerciais com os outros países) também tem estado mais presente nos discursos do que nos actos. A nova administração decidiu sair do acordo com a Ásia e anunciou a intenção de renegociar o acordo com o México e o Canadá. Para além disso, tem vindo a pressionar a China em áreas como a produção de metais. Não foi, contudo, ainda dado um passo mais ambicioso, como a imposição de novas tarifas alfandegárias.
O plano de construção de infra-estruturas também espera pelo melhor momento para tentar passar o teste do Congresso. A este nível, Trump até pode ser capaz de encontrar apoios entre os Democratas (coisa quase impossível noutras matérias), mas dentro do Partido Republicano várias vozes têm mostrado preocupação em relação aos impactos dos novos investimentos na dívida. Para já, ainda não há sinais do estímulo à economia que essa política poderia ter.
Onde Trump tem conseguido ser mais activo é nas medidas de redução da regulação dos mercados, com vários avanços ao nível das propostas que são feitas, nomeadamente retirando os entraves introduzidos nos mercados financeiros imediatamente depois da crise de 2008. É aqui que pode estar uma explicação para a forma exuberante como nas bolsas os investidores têm estado a reagir à nova presidência.
Perante isto, o que os norte-americanos sentem, na sua maioria, é que a economia está melhor, mas subsiste uma divisão marcada sobre se isso acontece graças a Trump. Uma sondagem recentemente publicada pela Bloomberg indicava que 58% dos norte-americanos considera que as suas carreiras e aspirações em termos financeiros estavam a melhorar, o melhor resultado desde que este tipo de sondagem é realizada há quatro anos. No entanto, 46% dos inquiridos aprova o trabalho de Trump na economia, enquanto 44% desaprova.