Segundo presidente, eleição não foi imparcial
O presidente Jair Bolsonaro fez seu último discurso no cargo nesta sexta-feira, 30. No tradicional modelo de transmissão ao vivo no gabinete do Palácio do Planalto, ele apresentou o legado econômico que deixa para o país depois de quatro anos, metade deles sob os efeitos dramáticos da pandemia. Fez questão de condenar os atos terroristas ocorridos em Brasília depois das eleições. Disse que as manifestações pacíficas e espontâneas de milhares de pessoas, insatisfeitas com o triunfo da indecência, na porta dos quartéis do Exército não serão esquecidas nem perdidas. E deixou claro que a luta do brasileiro deve ser por restabelecer a liberdade.
“Essa falta de liberdade que estamos vivendo não é de hoje e prejudica a democracia”, disse. “Se isso continuar no futuro, vai pegar todo mundo. Sempre lutamos por democracia, liberdade, respeito às leis e à Constituição. Passei quatro anos mostrando a importância da liberdade para a democracia. O oxigênio da democracia é a liberdade em toda a sua plenitude.”
Segundo o presidente, nenhum chefe de Estado no país enfrentou algo parecido com a pandemia de covid-19 e a invasão russa à Ucrânia. “Todos sofreram. As mortes foram irrecuperáveis.”
O chefe do Executivo ainda lembrou o atentado da facada que sofreu em 2018. Segundo ele, apesar do crime, conseguiu sair vitorioso daquela eleição. “Se a facada tivesse sido fatal, como estaria o Brasil hoje em dia?”, interpelou Bolsonaro. “A facada foi dada por um ex-filiado do Psol, e a imprensa não bateu nisso. Se uma pessoa faz algo errado hoje dia, é taxada de ‘bolsonarista’. Durante a campanha houve uma tragédia em Foz do Iguaçu e taxaram o homem de ‘bolsonarista’. Nada justifica o que ele fez. Assim como nada justifica esse ato terrorista que aconteceu aqui em Brasília no aeroporto.”
No domingo 1°, dia da posse do presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, Bolsonaro não estará mais no Brasil. Ele embarca para os EUA — vai passar um mês no país. A informação sobre a viagem foi publicada no Diário Oficial da União hoje. Ele terá compromissos como ex-presidente de 1° a 30 de janeiro, inicialmente em Miami. Cinco auxiliares vão acompanhá-lo, em rodízio de datas, para segurança e apoio nesse período.
‘Nada vai ficar perdido’
O presidente destacou que reconhece as manifestações que acontecem há mais de 55 dias em frente aos quartéis-generais. “Isso despertou algo na cabeça das pessoas”, disse. “Eles entenderam o que têm a perder. Começaram se preocupar com o voto responsável. Esse povo que foi para os quartéis foi pedir socorro, liberdade e respeito à Constituição. Há algo de errado nisso? Estão lutando até pelos que os oprimem.”
O chefe do Executivo ainda comparou o tratamento que a imprensa está dando aos manifestantes ao que os black blocs recebiam quando deixavam rastros de destruição nas ruas. “Durante meus 28 anos em Brasília, vi manifestações violentas por parte da esquerda, com os black blocks e o MST”, disse. “Mas isso nunca foi taxado como ato antidemocrático. Tudo o que é feito pela esquerda é bacana.”
O presidente disse que o processo eleitoral do Brasil não foi imparcial. “Se você duvidar da urna, isso se torna crime”, afirmou. Segundo ele, o governo Lula vai começar de forma “capenga” e cheio de arrependidos pelo que fizeram em outubro.
Bolsonaro, contudo, deixou uma mensagem de resiliência. “O Parlamento que vai tomar posse em fevereiro é mais conservador”, disse o presidente. “Ainda temos uma massa de pessoas que passaram a entender sobre política. O bem vai vencer.”
Bolsonaro se emocionou durante a fala e ficou com a voz embargada. Além disso, teve algumas pausas na fala. “Muito obrigado a todos vocês por me proporcionarem esses quatro anos à frente da Presidência da República”, agradeceu o presidente. “Fui compreendido por muitos e por outros não. Como foi difícil ficar dois meses calado, trabalhando e buscando alternativas. Até quieto sou atacado pela imprensa. Acredito em vocês, no Brasil e, principalmente, em Deus. Perdemos batalhas, mas não a guerra.”
Rute Moraes, Revista Oeste