Hospitais Albert Einstein e Sírio-Libanês, respectivamente | Foto: Montagem Revista Oeste/Divulgação
Arevista Newsweek publicou neste mês o mais completo ranking dos melhores hospitais especializados do mundo. A pesquisa foi realizada pela empresa de dados Statista e cobriu 11 especialidades. O levantamento escolheu os 300 melhores hospitais de 28 países com base em três critérios: recomendação dos pares (pesquisa on-line com médicos, outros profissionais de saúde), experiência do paciente (dados de pesquisa de satisfação) e indicadores médicos (como os de qualidade da assistência e segurança do paciente).
O Brasil está muito bem posicionado nesse retrato. Tirando um caso isolado do Líbano e alguns poucos da Índia, os hospitais brasileiros são os únicos representantes do chamado Terceiro Mundo. Nenhum outro país da América Latina está presente nas listas, ou da África, ou da parte mais pobre da Ásia. Podemos dizer que o Brasil é uma potência médica das nações emergentes.
Claro que muitos dos hospitais listados pela Statista/Newsweek são caríssimos, elitistas, inacessíveis à grande maioria dos próprios brasileiros. Mas existem casos como o Incor e o Hospital das Clínicas, que são gratuitos e atendem pelo Sistema Único de Saúde. A grande maioria das instituições brasileiras está na cidade de São Paulo, com algumas exceções, em Curitiba, Campinas, Rio de Janeiro e Porto Alegre.
Segundo o ranking, a medicina dos EUA permanece no topo em termos de qualidade e inovação. E a cereja do bolo é a célebre Mayo Clinic, com sede na cidade de Rochester, no Estado de Nova Iorque, considerado o melhor complexo hospitalar do mundo. A maior parte dos hospitais está em países da Europa, Japão, Coreia do Sul, Austrália, Cingapura, Canadá e Israel. E o Brasil faz bonito, como podemos ver neste resumo do ranking mostrando a colocação de cada hospital.
ONCOLOGIA
(Total: 300)
O melhor do mundo: MD Anderson Cancer Center (Houston, EUA)
Participação brasileira: 6 hospitais
16 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
43 – A.C. Camargo (São Paulo)
80 – Beneficência Portuguesa (São Paulo)
142 – Hospital das Clínicas (São Paulo)
153 – Instituto do Câncer (São Paulo)
295 – Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre)
CARDIOLOGIA
(Total: 300)
O melhor do mundo: Cleveland Clinic (Cleveland, EUA)
Participação brasileira: 10 hospitais
20 – Incor – Instituto do Coração (São Paulo)
32 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
56 – Instituto Dante Pazzanese (São Paulo)
59 – Hospital do Coração (São Paulo)
63 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
122 – Beneficência Portuguesa (São Paulo)
165 – Hospital Pró-Cardíaco (Rio de Janeiro)
208 – Hospital das Clínicas (São Paulo)
218 – Hospital do Ensino da Unifesp (São Paulo)
276 – Hospital Moinhos de Vento (Porto Alegre)
PEDIATRIA
(Total: 200)
O melhor do mundo: Boston Children’s Hospital (Boston, EUA)
Participação brasileira: 10 hospitais
29 – A. C. Camargo (São Paulo)
75 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
78 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
87 – Hospital Infantil Pequeno Príncipe (Curitiba)
103 – Hospital de Ensino da Unifesp (São Paulo)
126 – Hospital Infantil Sabará (São Paulo)
139 – Hospital e Maternidade Sepaco (São Paulo)
157 – Hospital das Clínicas da Unicamp (Campinas)
173 – Instituto de Oncologia Pediátrica (São Paulo)
180 – Hospital e Maternidade Santa Joana (São Paulo)
CIRURGIA CARDÍACA
(TOTAL: 150)
O melhor do mundo: Cleveland Clinic (Cleveland EUA)
Participação brasileira: 5 hospitais
42 – Instituto do Coração (São Paulo)
69 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
90 – Beneficência Portuguesa (São Paulo)
97 – Hospital Pró-Cardíaco (Rio de Janeiro)
118 – Hospital das Clínicas (São Paulo)
ENDOCRINOLOGIA
(Total: 100)
O melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester, EUA)
Participação brasileira: 2
69 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
71 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
GASTROENTEROLOGIA
(TOTAL: 100)
Melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester, EUA)
Participação brasileira: 3 hospitais
10 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
26 – Hospital Alemão Oswaldo Cruz (São Paulo)
64 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
ORTOPEDIA
(TOTAL: 100)
O melhor do mundo: Hospital for Special Surgery (Nova Iorque, EUA)
Participação brasileira: 3 hospitais
24 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
44 – Instituto Jamil Haddad Nacional de Traumatologia e Ortopedia (Rio de Janeiro)
59 – Hospital das Clínicas (São Paulo)
NEUROLOGIA
(TOTAL: 100)
Melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester, EUA)
Participação brasileira: 3 hospitais
25 –- Hospital das Clínicas (São Paulo)
57 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
89 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
NEUROCIRURGIA
(TOTAL: 100)
Melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester, EUA)
Participação brasileira: 4 hospitais
31 – Beneficência Portuguesa (São Paulo)
64 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
80 – Hospital das Clínicas (São Paulo)
93 – A. C. Camargo (São Paulo)
PNEUMONOLOGIA
TOTAL: 100
Melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester, EUA)
Participação brasileira: 0
UROLOGIA
(TOTAL: 100)
Melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester EUA)
Participação brasileira: 2
17 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)
82 – Hospital Israelita Albert Einstein – (São Paulo)
OS 150 HOSPITAIS MAIS AVANÇADOS EM TECNOLOGIA
O melhor do mundo: Mayo Clinic (Rochester EUA)
Participação brasileira: 2
40 – Hospital Israelita Albert Einstein (São Paulo)
78 – Hospital Sírio-Libanês (São Paulo)>
DNA de qualidade
Esses dados são surpreendentes para quem imagina que o Brasil só se destaca internacionalmente pelo sucesso do nosso agronegócio. A medicina é uma área que exige qualidade, pesquisa e atualização de forma dramática. É, literalmente, uma questão de vida ou morte. Para um país que ainda luta com problemas primários, como o saneamento básico, e tem um sistema de educação precário, ver hospitais entre os melhores do mundo é uma ótima notícia. Mas, para os especialistas, não é uma surpresa.
“Essa boa posição no ranking não é nova”, diz o médico Wladimir Taborda, consultor do Banco Mundial. “É reflexo da modernização e de uma gestão muito profissional. Vejo os resultados do Brasil como uma tendência natural, comparados aos melhores do mundo. Os hospitais brasileiros, há muito tempo, vêm se diferenciando. O Einstein recebeu o primeiro certificado de qualidade da Joint Commission International, no início dos anos 2000, que é líder mundial em certificação de organizações de saúde”.
Apesar da centralização dos serviços na capital paulista, grandes hospitais já estão de olho em outras praças
Segundo Taborda, o ranking da Statista/Newsweek é para ser levado a sério. “Usa métricas internacionais, é estruturado. Hospitais credenciados pela Joint Commission, como Einstein e Sírio, atendem a padrões idênticos aos de hospitais norte-americanos e europeus. O levantamento utiliza parâmetros bem definidos para avaliar a qualidade assistencial, a taxa de mortalidade, a permanência no hospital e os custos”.
Os hospitais brasileiros têm outras razões para estar bem colocados. O consultor Wladimir Taborda explica um fenômeno que vem ocorrendo no país. “Está havendo uma espécie de gentrificação — concentração de hospitais de qualidade em grandes grupos. Além da verticalização, que consiste em manter o doente dentro de uma estrutura hospitalar única, o que facilita o controle de custos.” Outro fator destacado pelo especialista é o investimento maciço na área. “Muito capital estrangeiro está sendo aplicado nessa área, que é muito competitiva. Além de ser lucrativa a questão dos medicamentos, da incorporação tecnológica, todas as empresas estão aqui, a indústria está aqui. Isso favorece hospitais que já têm DNA de qualidade e faz com que evoluam muito rapidamente.”
O povo do toque
Como qualquer atividade econômica, os hospitais seguem a lei de mercado. “Está havendo tendência de crescimento de hospitais de grande porte”, segundo Taborda. “Quem faz mais faz melhor. Quanto maior a escala, menor o custo para produzir determinada coisa.” Outro motivo para nosso sucesso: “Os médicos no Brasil são muito bons, são bem treinados. Infelizmente, a maioria vai para o setor privado, raramente querem trabalhar no setor público.” Mais um diferencial — a humanização. “O atendimento nos hospitais brasileiros não é tão duro quanto nos norte-americanos. Existe um componente de humanização e de atenção, que faz toda a diferença.”
Felipe Duarte Silva, gerente de Pacientes Internados e Práticas Médicas do Hospital Sírio-Libanês, também destaca essa característica brasileira: “Somos um povo do toque, do acolhimento. A hospitalidade e a hospedagem contam bastante, o brasileiro valoriza muito isso”, diz Silva. “O atendimento no Brasil tem calor humano. Doença é uma questão física, mas o processo de adoecimento está muito ligado à forma como nos relacionamos. Precisamos cuidar da pessoa, não só da doença.”
Entre os sucessos brasileiros no ranking, duas especialidades se sobressaem: a cardiologia e a pediatria, com dez hospitais indicados em cada uma. “Cardiologia é uma tradição no Brasil”, diz Taborda. Além da formação médica em excelentes centros, como o Hospital das Clínicas e o Incor, as doenças cardíacas são as que mais matam no mundo. “Isso atrai muita pesquisa, o desenvolvimento de medicamentos e procedimentos novos”.
Já a pediatria é considerada uma surpresa para o consultor Wladimir Taborda. “É uma especialidade que vem diminuindo. As populações dos países estão ficando cada vez mais velhas, a pediatria sempre foi uma área menos ocupada nos hospitais”, explica. “Minha impressão é que entra na avaliação o fator de humanização. Como por exemplo os hospitais do câncer infantil.”
Felipe Duarte da Silva, gerente do Sírio-Libanês, ressalta que a presença do Sírio no ranking de pediatria “reforça o veio para a filantropia e a responsabilidade social” da instituição. E explica uma característica própria da especialidade no hospital: “O grosso do atendimento pediátrico do Sírio não está só aqui dentro. Temos as unidades e UTIs pediátricas. Mas existem os projetos de áreas sociais que viabilizam o atendimento de alta complexidade para a população, em parceria com o SUS, para garantir atendimento complexo a essas crianças carentes.”
A cidade dos hospitais
Um dos aspectos mais visíveis do ranking é a concentração geográfica. O Brasil registra um total de 39 menções no ranking — 34 das clínicas estão em São Paulo (incluindo Campinas), o que equivale a 87% das menções.
“O universo hospitalar é supercomplexo e caro”, explica Wladimir Taborda. “Por isso, Estados com dinheiro terão melhores estruturas. A principal razão de os melhores serviços estarem em São Paulo é porque 40% do PIB do Brasil está aqui”, diz o especialista. “Além de recursos, existem instituições, entidades que podem gerenciar isso, como Einstein, Sírio, além de unidades filantrópicas. O plantel de hospitais privados em São Paulo é comparado ao dos melhores do mundo.”
Apesar da centralização dos serviços na capital paulista, grandes hospitais já estão de olho em outras praças. O Sírio-Libanês abriu um centro em Brasília — o Distrito Federal registra a maior renda média domiciliar per capita do país, segundo o IBGE. No ano passado, o Einstein abriu em Goiânia sua primeira unidade própria fora do Estado de São Paulo.
Mesmo assim, muitos pacientes ainda preferem se deslocar até a capital paulista. São Paulo é hoje o principal destino voltado ao turismo de saúde do país — gente que visita a cidade com o objetivo de realizar tratamentos médicos e cirúrgicos. É um turismo interno (de outras regiões do Brasil) e mesmo externo, que atrai pacientes de países onde os custos hospitalares são proibitivos. O Sírio-Libanês informou por meio de nota que realiza mais de mil atendimentos mensais em suas unidades, considerando tanto pacientes estrangeiros quanto brasileiros com apólices de seguro de saúde internacionais e que disponibilizam cobertura no hospital. “No Sírio, o setor que mais traz pacientes de fora, principalmente da América Latina, é a oncologia. É uma referência”, diz Silva. “Pessoas que vêm buscar uma segunda opinião ou mesmo realizar tratamento oncológico aqui.” A cirurgia plástica também atrai muitos estrangeiros, por ser uma área que o Brasil “faz bem e faz barato”, afirma Taborda.
O ranking da Statista/Newsweek é motivo de orgulho para os brasileiros. E uma lembrança que nosso país pode, quando quer, ser muito maior que suas limitações.
Revista Oeste