sexta-feira, 30 de setembro de 2022

'Lavagem cerebral a R$ 5 mil por mês - ou mais', por Maria Amalia Bernardi

 

Ilustração: Montagem Revista Oeste/Shutterstock


Escola tradicional utiliza textos esquerdistas para ensinar português em sala de aula


OColégio Santa Cruz, fundado em 1952 por padres canadenses da Congregação de Santa Cruz, é conhecido em São Paulo como um colégio forte e sério, no que diz respeito ao ensino. Para permanecer estudando ali, seus alunos têm de se dedicar de verdade, caso contrário não conseguem acompanhar as aulas e passar de ano. Tido como de elite e sempre no topo da lista das dez melhores escolas particulares de São Paulo, o Santa Cruz afirma utilizar uma proposta pedagógica humanista, que pretende formar cidadãos críticos e atuantes. Por suas salas de aula já passaram brasileiros ilustres, como o cantor e compositor Chico Buarque, o cineasta Fernando Meirelles e o banqueiro Candido Botelho Bracher. Em suma, o Santa Cruz não fica a dever nada aos melhores colégios das grandes capitais do mundo. Mas há uma questão que está deixando indignados alguns pais de alunos: o viés esquerdista da escola.

Há bem pouco tempo, numa aula de introdução à argumentação, que faz parte da matéria de língua portuguesa do 9º ano do fundamental 2, o professor pediu que os adolescentes lessem um texto e em seguida respondessem diversas perguntas. O texto era um artigo de opinião escrito pelo sociólogo Celso Rocha de Barros, publicado no jornal Folha de S.Paulo, intitulado “Aumentou o preço do golpe”. O mote do artigo é o suposto sucesso da Carta pela Democracia, lançada em 11 de agosto por professores da USP e integrantes da Fiesp e assinada por cerca de 1 milhão de pessoas. O artigo afirma, entre outras, as seguintes teses sobre o presidente da república:

– “Há duas coisas que Jair Bolsonaro nunca fez na vida: trabalhar e entrar em briga do lado mais fraco por medo de levar porrada”;

–“Jair não decide direito se é católico ou evangélico, porque ainda não sabe qual lado vai oprimir o outro”;

– “Jair Bolsonaro tem por ídolo militar um torturador”;

– “Essa carta tornou mais difícil Bolsonaro mentir sobre o golpe de Estado que dará”.

(Veja abaixo a lição completa dada no Santa Cruz)

Para os pais que concordam com as opiniões do autor do artigo, o professor teve uma boa ideia em usá-lo num exercício de interpretação de texto. Mas os pais que não concordam obviamente ficaram irritados com a escancarada doutrinação em sala de aula. “Acho um absurdo esse massacre intelectual que estão fazendo com as crianças”, diz um deles — que pede que seu nome não seja revelado para que seus filhos não sofram represálias no colégio. “Pago uma mensalidade de mais de R$ 5 mil por cada criança, para meus filhos aprenderem conteúdos que ajudem a desenvolver a inteligência, para ganharem pensamento crítico e saírem da escola com novas habilidades. Não quero que eles tenham de aderir compulsoriamente às opiniões do professor. A escola tinha de ser apartidária.” Esse pai conta que seus filhos relatam esses episódios em casa espontaneamente, muitas vezes desgostosos e até confusos com o tipo de texto, porque são sempre de um lado só da ideologia política. “Eles nunca tiveram uma lição que usasse um texto com o mesmo teor do outro lado. E o pior é que não há abertura para os alunos se contraporem. Eles não conseguem nem retrucar.”

O Santa Cruz não é o único colégio em que os professores radicalizam e tentam incutir nas jovens cabeças os ideais da esquerda sem nem disfarçar

Colégio Santa Cruz | Foto: Divulgação

Os pais conversam entre si e muitos pensam dessa mesma forma, mas nenhum quer criar problemas para os filhos, principalmente por já ter havido um caso desse gênero, em que a escola deu um jeito de o aluno sair. Obviamente, se mantêm os filhos no Santa Cruz é porque, no cômputo geral, os pais consideram a escola boa. A preocupação é com o viés de esquerda das discussões. “O que me incomoda é que, no passado recente, tenho percebido a falta de visões diferentes em alguns debates, e aí está o espaço para o viés e o direcionamento”, diz outro pai. “Fica parecendo uma discussão isenta e intelectualmente estimulante, mas não é, pois é apresentado um lado só.”

Problema generalizado

O Santa Cruz não é o único colégio em que os professores radicalizam e tentam incutir nas jovens cabeças os ideais da esquerda sem nem disfarçar. Há poucos meses, a Avenues, escola também de altíssimo padrão localizada na zona sul de São Paulo, protagonizou um caso que deu o que falar. Durante uma palestra para cerca de 200 alunos, um professor constrangeu um estudante de 17 anos que contrapôs argumentos da índia Sonia Guajajara, ativista e atual candidata a deputada federal pelo Psol. Ela havia sido convidada a palestrar pelo próprio professor e fez ali uma série de manifestações políticas relacionadas, principalmente, à distribuição de terras e ao uso de agrotóxicos.

escola onde aluno foi humilhado
Colégio Avenues | Foto: Divulgação

Em sua palestra na Avenues, que cobra uma mensalidade de cerca de R$ 15 mil, a ativista fez várias críticas ao setor agropecuário brasileiro e a opositores políticos. Um estudante filho de uma família ligada ao agronegócio pediu a palavra para rebater o que Guajajara havia dito. Antes que ela própria respondesse, o professor Messias Moreira Basques Junior, doutor em antropologia social, interveio e constrangeu o estudante, dizendo o que segue. “Deixa eu te dizer uma coisa, meu querido: quando você entender o que é ser uma pessoa deste tamanho, vai se lembrar deste dia com muita vergonha. Então a minha recomendação é que me respeite, porque sou um doutor em antropologia. Não tenho opinião, sou especialista em Harvard. No dia em que você quiser discutir com a gente, traga seu diploma e a sua opinião fundamentada em ciência. Aí sim você discute com um especialista em Harvard”. Além da total falta de respeito do professor com o aluno na frente de todos os colegas, ele mentiu, pois não tem nenhum diploma de especialização em Harvard. Apesar de tudo, no fim das contas, a escola deu razão a ele.

Esta é a vida real em muitos colégios de elite no Brasil de hoje. Fazem lavagem cerebral sem disfarce algum nos alunos — e em troca cobram dos pais mensalidades cada vez mais caras.

Foto: Reprodução
Foto: Reprodução

Revista Oeste