Lula e Bolsonaro | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/PR/Shutterstock
A semeadura liberal plantada desde 2019 pela equipe econômica do governo brasileiro começa a mostrar os seus bons frutos
As eleições que ocorrerão dentro de poucos dias serão as mais importantes da nossa história e representam algo muito além de uma simples decisão dominical entre dois nomes. Desta vez, a vitória de um ou de outro candidato definirá a estrutura econômica, o arcabouço ético e moral e o esqueleto político e institucional da sociedade brasileira que serão trilhados por nós e nossos descendentes por um longo caminho.
A enorme importância do pleito deste ano não decorre somente da propalada divisão ou polarização da sociedade — fato que, costumeiramente tratado como algo indesejável, nada mais é do que a expressão salutar de um alargamento do espectro de ideias. A verdade é que, durante anos e até há pouco tempo, o Brasil foi território quase exclusivo de ideias de esquerda, com matizes um tanto diferenciadas, mas todas colocando o Estado como um pai cioso de sua missão de cuidar dos filhos, escolhendo o que acha ser melhor para os cidadãos, estabelecendo o que todos podem e o que não podem fazer.
Até pouco tempo atrás, vivíamos num país em que se dizer de esquerda ou progressista despertava admiração, e em que as pessoas sentiam acanhamento, ou mesmo vergonha, quando eram classificadas como de direita ou conservadoras, palavras que soavam como insultos e atraíam imprecações. Na economia — e sou um dos raros que podem atestar isso — era preciso, muitas vezes e em muitos ambientes, na academia, no bar e no escritório, ter coragem, determinação e bastante convicção para afirmar-se como liberal e defensor da economia de mercado. As reações dos pares, amigos e colegas de trabalho costumavam variar do deboche ao desprezo, do ar de superioridade ao descrédito, da arrogância à indignação.
Felizmente, nos últimos dez anos, graças em boa parte à internet, isso foi mudando e surgiram economistas e outros profissionais liberais sem medo de serem assim chamados, direitistas sem receio de serem identificados como tal e conservadores com a fortaleza necessária para defender valores morais imutáveis — mas que eram negados e ridicularizados em novelas, filmes e universidades. Quebrado o monopólio do pensamento, a reação da esquerda foi a de demonizar a “polarização” da sociedade, responsabilizando-a como propagadora de ódio e divisões. A esquerda, cuja essência sempre foi jogar uns contra os outros, só é democrática da boca para fora, porque não admite discordâncias. Sim, as coisas mudaram, e Bolsonaro foi e é o catalisador da transformação.
A guerra na Ucrânia vem sugerindo que o comando do mundo pode estar prestes a mudar de mãos rapidamente
Posto esse processo de acirramento de divergências, para entender mais amplamente o tamanho da responsabilidade que pesa sobre os eleitores nestes dias, é necessário pôr em pratos limpos tudo o que está em jogo. Para isso, temos de pesar e sopesar os vários e complicados elementos — internos e externos — que estão influenciando o processo eleitoral.
Três forças externas
Começando pelos componentes externos, é bastante claro que há atualmente no mundo três grandes forças com fortes interesses no resultado que sairá das urnas em 2 de outubro. A primeira é o globalismo, resumido nas proposições da Nova Ordem Mundial (NOM), liderada por megafinancistas, como Soros, as famílias Rothschild e Rockefeller, o Banco Morgan, os bilionários da high tech, entidades como o Fórum Mundial de Davos, palco do lunático Klaus Schwab, a ONU e outros organismos internacionais. Esse grupo poderosíssimo tem interesse na vitória de Lula, mesmo sabendo de seu passado repleto de ilícitos penais, — não tanto por ele, mas, sim, por causa de Geraldo Alckmin, que representa a chamada terceira via. Um eventual governo social-democrata — para surpresa dos distraídos — lhes permitirá continuar a ditar os rumos do mundo sem os arroubos mofados do lulopetismo e livres dos conservadores e liberais defensores dos costumes e do livre mercado.
A segunda força externa é o Partido Comunista Chinês (PCC), que obviamente também apoia a campanha de Lula e da esquerda raivosa. Poder-se-ia cogitar uma união dos globalistas com o PCC, mas é visível que essa combinação é instável, devido às desconfianças de lado a lado, que também prevalecem na aliança entre o petista e o ex-tucano. Não há dúvida de que, caso a chapa saia vitoriosa, em alguns dias, traidores de ambos os lados — e não serão poucos — estarão mostrando os dentes, motivados pelas divergências internas ou pelas existentes entre essas duas forças mundiais. Na verdade, não existe uma China, mas pelo menos duas: a dos Brics, com Xi Jinping à frente, e a do PCC, em permanente disputa pelo poder. Isso significa que, em termos de China, o grupo que apoia Lula não é o mesmo que apoia Alckmin. As lâminas das tesouras lá de fora são diferentes das tupiniquins.
E a terceira força externa significativa é a dos soberanistas, formada por altas patentes das Forças Armadas dos Estados Unidos e de alguns Estados da Europa, pelos republicanos liderados por Trump e por poucos governos de direita de países europeus, como o da Polônia, o da Hungria e o da Itália — depois da estrondosa vitória de Giorgia Meloni e da coalizão de centro-direita no último domingo. Este terceiro grupo também tem interesse no fortalecimento dos Brics e apoia Bolsonaro. O discurso que o presidente brasileiro fez na ONU há poucos dias foi mais uma confirmação de que o Brasil se alinha a essa força.
O jogo mundial está mudando
A guerra na Ucrânia vem sugerindo que o comando do mundo pode estar prestes a mudar de mãos rapidamente. O boicote imposto à Rússia patrocinado pelo governo medíocre de Joe Biden e pelos europeus foi um tiro que saiu pela culatra: cumprindo as ordens dos seus senhores globalistas, esses governos de fantoches imaginaram punir a Rússia congelando suas reservas em dólares e proibindo suas exportações, especialmente de petróleo e gás. Só que deixaram de considerar o fato elementar de que a Europa, literalmente, depende do petróleo e do gás da Rússia. Cometeram o erro infantil de colocar o dedo na tomada e ainda estão sentindo o choque, que é forte.
A administração de Biden — uma espécie de escritório dos globalistas — perdeu rapidamente a capacidade de comandar o mundo e, consequentemente, o respeito. O resultado dessa péssima escolha é que a NOM — que, além do governo Biden, controla o Reino Unido, a Inglaterra, a França, o Canadá, a Austrália e a Nova Zelândia, além de outros países — vem perdendo poder e relevância.
Por outro lado, a importância dos Brics vem aumentando. Para começar, é preciso atentar para o fato de que a população total dos seus cinco países representa perto de 42% da população mundial, sua extensão territorial ocupa algo em torno de 25% de todo o planeta e três de seus membros, a saber, Rússia, China e Índia, possuem poderio nuclear.
Além disso, no embalo da questão da Ucrânia — acirrada pelos governos de Biden e de países europeus —, a liderança da Rússia foi crescendo em resposta às sanções que esses governos dominados pelos magnatas autoritários da NOM impuseram. Sobreveio, então, uma espécie de insubordinação internacional, desde que o país de Putin decidiu que apenas continuaria a vender petróleo, óleo e gás para os europeus se as suas exportações fossem pagas em rublos e lastreadas em ouro. Em seguida, intensificaram-se as relações comerciais dos russos com os chineses e com os indianos, fazendo surgir o embrião de um novo sistema internacional de pagamentos. Apareceram, então, os primeiros indícios de possíveis ameaças à velha hegemonia do dólar, que, como se sabe, desde 1971, é uma moeda sem lastro. Em adição, a inflação e a recessão nos Estados Unidos e na Europa estão fragilizando, respectivamente, o dólar e o euro e abalando negativamente as bolsas de valores, além de, paralelamente, enfraquecerem suas economias. O desastre aumenta com os efeitos catastróficos sobre a produção de alimentos e a oferta de energia decorrentes das sanções à Rússia, das políticas econômicas expansionistas catastróficas adotadas pelos governos dominados pelos globalistas durante a pandemia e do seu culto irresponsável ao “deus-clima”, uma crendice que os acabou levando a reautorizar o carvão a entrar na Europa pelo elevador social.
A economia no Brasil e no mundo
É nesse contexto geopolítico que estamos assistindo a um aumento considerável da importância do Brasil no novo arranjo mundial que parece estar se configurando. E, se olharmos apenas para a economia, o despertar do gigante verde e amarelo torna-se mais evidente, porque a semeadura liberal plantada desde 2019 pela equipe econômica do governo brasileiro começa a mostrar os seus bons frutos, mesmo tendo enfrentado a chuva da pandemia, a seca dos golpes baixos da velha imprensa, as cochonilhas de uma oposição não propositiva e os pulgões de um poderoso grupo de togados com vocação política.
Efetivamente, ao compararmos um a um o desempenho dos indicadores econômicos do Brasil com os mundiais, quando examinamos os dados da nossa economia, sacudimos várias vezes a cabeça para cima e para baixo em sinal de aprovação e, quando olhamos para os outros países, abanamo-la da direita para a esquerda, sinalizando reprovação. Aqui, inflação em queda, lá, em ascensão. Aqui, PIB em alta sustentada, lá, recessão. Aqui, vultosos investimentos privados esperando o resultado da eleição para ingressarem no Brasil, lá, o capital internacional em polvorosa. Aqui, mercado, lá, governo.
Depois de todas essas considerações, percebe-se que a reeleição de Bolsonaro fortalecerá a posição dos soberanistas e enfraquecerá ainda mais os globalistas e o totalitarismo da NOM, uma vez que o decorrente crescimento estrutural da economia brasileira, com baixa inflação, tenderá a fortalecer o real. Se Bolsonaro vencer, teremos de olhar para a possibilidade de sermos protagonistas na formação de um novo desenho financeiro no mundo. Nesse contexto, commodities como petróleo, fertilizantes, soja, minério de ferro, carne, milho, etc., bem como processadores de computadores e semicondutores, seriam comercializados em moedas dos Brics, a saber, o iuane chinês, o rublo russo, a rúpia indiana e o rand sul-africano, além do próprio real, o que tenderá a valorizá-las.
Isso significa maior escassez e inflação nos Estados Unidos e na Europa, quebras de grandes fundos de investimentos e a eventual destruição, para o bem da humanidade, dos illuminati da NOM. A velha lógica pós-Segunda Guerra Mundial, baseada no conflito entre capitalismo e socialismo, assim como a hegemonia norte-americana e o reinado dos petrodólares, poderá ir por água abaixo e naufragar de vez. Acrescentem-se os fatos de que hoje o Brasil supre alimentos para cerca de 20% do mundo, que é um país abundante em recursos naturais e que o poder mundial não é mais uma questão só de ter ou não mais armamentos, mas também de deter matérias-primas.
Por tudo isso — fora outros fatores que a limitação de espaço impõe —, entende-se o desespero dos globalistas. Apavorados com a possibilidade de que o Brasil passe a ser efetivamente um líder mundial importante, empenham seus imensos recursos na campanha do principal inimigo de Bolsonaro nas eleições, E bancam coisas do arco da velha, desde que possam impedir a reeleição do presidente: ataques e mentiras de todos os tipos, manipulação de pesquisas de intenções de votos, dinheiro para o consórcio da velha imprensa e para qualquer um disposto a desempenhar o papel de pica-pau da arca de Noé. Não é para estranhar que banqueiros e empresários brasileiros estejam tentando furar a barca com seus bicos de ouro. São globalistas. Amigos, nunca foi tão fácil escolher.
Ubiratan Jorge Iorio é economista, professor e escritor.
Instagram: @ubiratanjorgeiorio
Twitter: @biraiorio
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