quinta-feira, 29 de setembro de 2022

Brasil Paralelo esquenta semana de eleições com novo 'Teatro das Tesouras'

Diretor da empresa, Henrique Viana comenta estreia de episódio que descreve a ruptura eleitoral com Bolsonaro em 2018

Novo episódio de 'Teatro das Tesouras' trata da vitória de Bolsonaro em 2018
Novo episódio de 'Teatro das Tesouras' trata da vitória de Bolsonaro em 2018 | Foto: Divulgação

A produtora Brasil Paralelo estreia nesta quinta-feira, 29, um novo capítulo da série documental O Teatro das Tesouras, que conta a história recente das eleições presidenciais no país. Desta vez, a epopeia política vai contar a vitória de Jair Bolsonaro no pleito de 2018, em conteúdo exclusivo para assinantes da plataforma de streaming.

Oeste conversou sobre o lançamento com Henrique Viana, um dos fundadores e diretor-executivo da Brasil Paralelo, que exaltou a importância da série para o debate político do país, em semana de primeiro turno das eleições. 

A série O Teatro das Tesouras aborda o teórico antagonismo político entre PT e PSDB, com alternância de poder durante seis eleições presidenciais consecutivas, a partir de 1994. O novo capítulo pretende descrever como se deu a ruptura da hegemonia de petistas e tucanos, com o aparecimento de Bolsonaro como uma figura inesperada no jogo eleitoral.

Assista ao trailer do novo episódio de O Teatro das Tesouras:

Confira, abaixo, a conversa com Henrique Viana:

Qual a importância da série Teatro das Tesouras na história da Brasil Paralelo?

Tem uma importância grande, porque no Teatro das Tesouras a gente optou por uma linha editorial mais jornalística, o que de certa forma permite você atingir um público maior, conversar com mais pessoas. Porque você não está tocando no gosto político das pessoas, mas está retratando a histórias das eleições. Tocando em pontos mais sensíveis, com algum sarcasmo, que é a característica dessa série, mas sem usar muito juízo de valor sobre posições políticas ou ideologias, você não está construindo nenhuma tese. Quando foi lançada, a série escalou, foi muito assistida e divulgada por figuras públicas que divulgaram voluntariamente ela. Tem essa importância e nos ensinou também a dialogar com produtos mais populares.   

Você acredita que a articulação política para a eleição presidencial deste ano, com a aliança Alckmin-Lula, reforçou a importância da série?

Basicamente, confirmou o que vinha sendo construído nos outros episódios. Agora estamos lançando o episódio de 2018, ainda não é o de 2022. Mas, em 2018, já se mostra algumas coisas nesse sentido. A beleza do livre mercado é você entregar um bom produto, no momento certo. É um bom momento para lançar esse episódio, quando a atenção das pessoas está voltada a esse assunto, as pessoas renovam o interesse em lembrar das eleições passadas. Acontece muita coisa entre uma eleição e outra, é difícil recordar, e a série ajuda nesse sentido, e com algum humor, que é uma característica dos brasileiros, mesmo em momentos tensos. É um produto adequado para esse momento. 

Henrique Viana é diretor-executivo e um dos fundadores da Brasil Paralelo | Foto: Brasil Paralelo

Vocês não criaram essa tese do Teatro das Tesouras, mas foram responsáveis por difundir ela. Talvez tenha sido a grande colaboração da Brasil Paralelo para o debate político do país?

Foram muitas colaborações, é difícil dizer. Termos como marxismo cultural, que foram bem difundidos. Essa talvez seja a mais explícita, porque a gente lançou um nome, que antes não era usado. Os roteiristas da série na época que chegaram nesse nome. O que se tinha era “estratégia das tesouras”, que vinha da ciência política. A gente transformou em Teatro das Tesouras, que acabou se popularizando. A gente vive de dar contribuições ao debate público, essa talvez tenha sido uma das grandes, porque ela é simples. Talvez por isso ela seja popular. 

Há um esforço de setores que não gostam ou não conhecem o trabalho da Brasil Paralelo de colar em vocês o rótulo de bolsonaristas ou apoiadores do governo. O que vocês acham disso?

O cliente tem oportunidade hoje de buscar informação por conta própria, ele não depende de determinados jornais para formar a sua opinião, se dependessem disso teriam dificuldades. Acho que faz parte, é saudável termos críticas. O risco que a gente corre no Brasil hoje é que divergências de opinião acabem ganhando um patamar jurídico, no sentido de censura. A gente vive um período perigoso no Brasil, nesse sentido. Você quer censurar aquele que diz coisas que você não concorda. A gente vê isso com apreensão, no sentido que não é bom para o país. Mas a gente não tem sofrido grandes ataques, a gente só se preocupa com o rumo disso e valoriza a liberdade de expressão e procurar ter responsabilidade com essa liberdade. Mas críticas existem, e isso é bom. Algumas são construtivas, e a gente adere a elas. Estamos super abertos.   

Uma eventual mudança de poder, com retorno do PT à Presidência, pode impactar a operação da empresa?

De planejamento para os próximos anos, não muda nada. Em termos editoriais, evidente que muda, porque o editorial de uma empresa de mídia é sempre dinâmico. A gente está sempre avaliando o que é tema relevante ou não. Mas não tem como saber. Se houver uma troca de poder, o editorial precisa avaliar o que o público está interessado em saber. É natural que as tensões passem para outro campo, que novos fatos surjam e vão exigir novos trabalhos, novos focos. Mas, no fundo, não muda nada. É uma empresa de mídia, que não tem nenhuma ligação com partidos ou política, nada, e que vai continuar a atender um público que existe e vai continuar existindo no Brasil, independentemente de presidente X ou Y.

Bruno Freitas, Revista Oeste