A produtora Brasil Paralelo estreia nesta quinta-feira, 29, um novo capítulo da série documental O Teatro das Tesouras, que conta a história recente das eleições presidenciais no país. Desta vez, a epopeia política vai contar a vitória de Jair Bolsonaro no pleito de 2018, em conteúdo exclusivo para assinantes da plataforma de streaming.
Oeste conversou sobre o lançamento com Henrique Viana, um dos fundadores e diretor-executivo da Brasil Paralelo, que exaltou a importância da série para o debate político do país, em semana de primeiro turno das eleições.
A série O Teatro das Tesouras aborda o teórico antagonismo político entre PT e PSDB, com alternância de poder durante seis eleições presidenciais consecutivas, a partir de 1994. O novo capítulo pretende descrever como se deu a ruptura da hegemonia de petistas e tucanos, com o aparecimento de Bolsonaro como uma figura inesperada no jogo eleitoral.
Assista ao trailer do novo episódio de O Teatro das Tesouras:
Confira, abaixo, a conversa com Henrique Viana:
Qual a importância da série Teatro das Tesouras na história da Brasil Paralelo?
Tem uma importância grande, porque no Teatro das Tesouras a gente optou por uma linha editorial mais jornalística, o que de certa forma permite você atingir um público maior, conversar com mais pessoas. Porque você não está tocando no gosto político das pessoas, mas está retratando a histórias das eleições. Tocando em pontos mais sensíveis, com algum sarcasmo, que é a característica dessa série, mas sem usar muito juízo de valor sobre posições políticas ou ideologias, você não está construindo nenhuma tese. Quando foi lançada, a série escalou, foi muito assistida e divulgada por figuras públicas que divulgaram voluntariamente ela. Tem essa importância e nos ensinou também a dialogar com produtos mais populares.
Você acredita que a articulação política para a eleição presidencial deste ano, com a aliança Alckmin-Lula, reforçou a importância da série?
Basicamente, confirmou o que vinha sendo construído nos outros episódios. Agora estamos lançando o episódio de 2018, ainda não é o de 2022. Mas, em 2018, já se mostra algumas coisas nesse sentido. A beleza do livre mercado é você entregar um bom produto, no momento certo. É um bom momento para lançar esse episódio, quando a atenção das pessoas está voltada a esse assunto, as pessoas renovam o interesse em lembrar das eleições passadas. Acontece muita coisa entre uma eleição e outra, é difícil recordar, e a série ajuda nesse sentido, e com algum humor, que é uma característica dos brasileiros, mesmo em momentos tensos. É um produto adequado para esse momento.
Vocês não criaram essa tese do Teatro das Tesouras, mas foram responsáveis por difundir ela. Talvez tenha sido a grande colaboração da Brasil Paralelo para o debate político do país?
Foram muitas colaborações, é difícil dizer. Termos como marxismo cultural, que foram bem difundidos. Essa talvez seja a mais explícita, porque a gente lançou um nome, que antes não era usado. Os roteiristas da série na época que chegaram nesse nome. O que se tinha era “estratégia das tesouras”, que vinha da ciência política. A gente transformou em Teatro das Tesouras, que acabou se popularizando. A gente vive de dar contribuições ao debate público, essa talvez tenha sido uma das grandes, porque ela é simples. Talvez por isso ela seja popular.
Há um esforço de setores que não gostam ou não conhecem o trabalho da Brasil Paralelo de colar em vocês o rótulo de bolsonaristas ou apoiadores do governo. O que vocês acham disso?
O cliente tem oportunidade hoje de buscar informação por conta própria, ele não depende de determinados jornais para formar a sua opinião, se dependessem disso teriam dificuldades. Acho que faz parte, é saudável termos críticas. O risco que a gente corre no Brasil hoje é que divergências de opinião acabem ganhando um patamar jurídico, no sentido de censura. A gente vive um período perigoso no Brasil, nesse sentido. Você quer censurar aquele que diz coisas que você não concorda. A gente vê isso com apreensão, no sentido que não é bom para o país. Mas a gente não tem sofrido grandes ataques, a gente só se preocupa com o rumo disso e valoriza a liberdade de expressão e procurar ter responsabilidade com essa liberdade. Mas críticas existem, e isso é bom. Algumas são construtivas, e a gente adere a elas. Estamos super abertos.
Uma eventual mudança de poder, com retorno do PT à Presidência, pode impactar a operação da empresa?
De planejamento para os próximos anos, não muda nada. Em termos editoriais, evidente que muda, porque o editorial de uma empresa de mídia é sempre dinâmico. A gente está sempre avaliando o que é tema relevante ou não. Mas não tem como saber. Se houver uma troca de poder, o editorial precisa avaliar o que o público está interessado em saber. É natural que as tensões passem para outro campo, que novos fatos surjam e vão exigir novos trabalhos, novos focos. Mas, no fundo, não muda nada. É uma empresa de mídia, que não tem nenhuma ligação com partidos ou política, nada, e que vai continuar a atender um público que existe e vai continuar existindo no Brasil, independentemente de presidente X ou Y.
Bruno Freitas, Revista Oeste