Recuo da curva de juros junto com PIB mais forte do que o esperado fez companhias ligadas ao mercado interno dispararem
O Ibovespa fechou em leve alta de 0,81% nesta quinta-feira (1), aos 110.405 pontos. O principal índice da Bolsa brasileira performou melhor do que seus pares americanos, impulsionado, principalmente, por ações ligadas ao mercado interno. Em destaque na agenda doméstica, estiveram os dados do PIB, que superaram as projeções ao subir 1,2% no 2º trimestre e levaram a revisões para cima da economia para este ano.
Em Nova York, Dow Jones, S&P 500 subiram, respectivamente, 0,46% e 0,30%. O Nasdaq, porém, caiu 0,26%, dando sequência ao bear market instaurado desde a fala de Jerome Powell no simpósio de Jackson Hole, na última sexta.
“O dia começou, lá fora, com aversão ao risco. Investidores estão cautelosos quanto à divulgação do Payroll nos Estados Unidos, que é amanhã. O mercado chegou a cair bem, apesar de ter fechado com leve tendência de alta” diz Luiz Souza, operador de renda variável da SVN Investimentos.
Os treasuries yields para dez anos, com os temores, voltaram a avançar, subindo 13,1 pontos-base, a 3,263%. Os para dois anos foram a 3,512%, com alta de 6,2 pontos-base.
“Um dado importante divulgado hoje foi o número de pedidos iniciais por seguro-desemprego nos EUA, que veio abaixo do esperado, mostrando que o mercado de trabalho está forte, que é risco para a inflação e que reforça o temor sobre a magnitude da próxima alta da taxa de juros”, complementa Leandro Petrokas, diretor de research da Quantzed.
Na semana encerrada no dia 27 de agosto, o número de novos pedidos por seguro desemprego nos EUA ficou em 232 mil, ante 248 mil do consenso. O dado ajudou a reforçar a cautela quanto à publicação do Payroll, sendo que especialistas projetam, em media, a criação de 300 mil postos de trabalho em agosto.
O clima de aversão ao risco, com o temor de uma alta mais forte dos juros nos EUA e também na Europa, fez o dólar se fortalecer frente a outras divisas mundiais. O DXY, índice que mede a força da moeda americana frente a pares de países desenvolvidos, bateu sua máxima em 20 anos, aos 109,73 pontos. Frente ao real, a valorização foi de 0,71%, negociado R$ 5,237 na compra e a R$ 5,238 na venda.
Além da pressão provinda dos Estados Unidos, o temor de menor crescimento global foi fortalecido pelas noticias envolvendo a China, segunda maior economia do mundo. O gigante asiático impôs um novo lockdown na cidade de Chengdu, que conta com mais de 21 milhões de habitantes.
“É preciso destacar também as ações da Vale (VALE3), que chegaram a cair 4% durante o dia, isso porque continuam a crescer as preocupações com a China”, explica Petrokas. “O Brasil sente a quedas das commodities. As metálicas recuam bem, assim como as energéticas e as agrícolas”.
O minério de ferro negociado na bolsa de Dalian caiu 1,17%, a US$ 97,99, uma vez que o país asiático é o maior consumidor da commodity. O petróleo também fechou em queda considerável, com o barril Brent a US$ 91,94, recuando 3,87%. As ações ordinárias da Vale caíram 0,95% e as da CSN (CSNA3), 1,55%. As ordinárias e preferenciais da Petrobras (PETR3;PETR4), no entanto avançaram 1,83% e 1,87%.
Se a queda das commodities pesou em algumas ações, ela, em parte, ajudou a tirar ainda mais pressão da curva de juros brasileira, que já vem fechando há algum tempo. Os DIs para 2023 viram suas taxas caírem dois pontos-base, a 13,72%, e os para 2025, 21 pontos, a 11,79%. Os DIs para 2027 perderam 23 pontos, a 11,58%, e os para 2029, 20 pontos, a 11,76%. O DI para 2031, por fim, teve seu rendimento recuando 18 pontos, a 11,89%.
Nicolas Merola, analista da Inv, destaca que o recuo das taxas de juros fez o índice de small caps performar melhor do que o restante da Bolsa brasileira.
O setor de construção civil também foi destaque pelo mesmo motivo – entre as maiores altas, as ordinárias da MRV (MRVE3) ganharam 7,59%, as da Cyrela (CYRE3), 6,92% e as da JHSF (JHSF3), 5,16%.
Além do fechamento dos DIs, as companhias ligadas ao cenário brasileiro se destacaram após o produto interno bruto (PIB) do segundo trimestre ter avançado 1,2%, surpreendendo positivamente.
Vitor Azevedo, InfoMoney