sexta-feira, 7 de agosto de 2020

As 5 ações do setor elétrico que custam menos de R$4 na Bolsa

 

  • Existem pelo menos cinco ações do setor elétrico que podem ser compradas por menos de R$4, conforme levantado pela plataforma Economática
  • Aparecem na lista os papéis da Renova Energia, AES Tietê e Equatorial Energia Pará
  • Especialistas ressaltam que, no geral, os papéis do setor elétrico estão baratos
O setor de energia elétrica na B3 tem histórico de baixa volatilidade e resiliência, mesmo em tempos de crise como a do coronavírus. Por isso, os papéis das empresas que compõem o segmento são considerados defensivos e costumam ser indicados por especialistas do mercado financeiro.

“Mesmo na crise, a energia continua chegando na sua casa, sinal de que essas empresas estão funcionando”, explica Caio Fernandez, consultor  da CVM e CEO da Ivest. “Não são papéis que vão ter grandes saltos ao longo do tempo, mas tem caráter de proteção e não vão dar grandes problemas ao investidor.”

Apesar de ser um setor essencial e forte, existem pelo menos cinco ações de companhias de energia cotadas por menos de R$4 na Bolsa. É isso que mostra o levantamento exclusivo feito pela plataforma Economática a pedido do E-Investidor. Seria esse um indício de que as companhias não vão tão bem quanto o esperado?

PapelPN/ONCotação (R$)
RNEW4PN2,88
TIET4PN2,9
TIET3ON3,05
RNEW3ON3,19
EQPA3ON3,36

O primeiro passo é avaliar a empresa para entender que nem sempre preço baixo quer dizer ação barata, e ter cotação baixa não é necessariamente um indicativo de que a situação da companhia esteja ruim. “O que temos que ver é o valor de mercado dessa empresa em comparação ao valor de todas as ações”, explica Fernandez.

Essa também é a opinião de Ricardo França, analista da Ágora Investimentos. “Temos que analisar caso a caso e ver outras métricas para entender a situação das empresas”, afirma. Vistas as observações, fomos buscar respostas para as cotações de cada papel na lista.

Renova Energia (RNEW4 e RNEW3)

Entre os cinco papéis que fazem parte do ranking, dois são da empresa de energia renovável Renova Energia. O RNEW4, negociado a R$2,88, é a ação do setor que possui a cotação mais baixa. Já o RNEW3, negociado por R$3,19, é o 4º título da lista.

De acordo com Fernandez, da Ivest, a Renova é uma companhia com problemas societários, o que torna o investimento uma grande ‘aposta’. “É difícil recomendar o investimento enquanto não for resolvida a situação em governança”, diz. “Por questões internas, não conseguimos analisar os dados da empresa.”

No final de 2019, a distribuidora de energia Light, que tinha 17% de participação na Renova, vendeu suas ações ao fundo CG1 pelo valor simbólico de R$1. A reação veio após o fracasso na tentativa de venda de um parque eólico à AES Tietê, segundo jornal Extra. No início de julho, a companhia protocolou dois pedidos de recuperação judicial.

“Os números são muito ruins, é uma empresa pequena, com margem operacional negativa. Quem compra Renova, está comprando uma dívida”, afirma Mario Goulart, analista de Investimentos da Polyface. O especialista alerta ainda que os papéis RNEW4 e RNEW3 não são os mais negociados da companhia. “As operações são feitas mais frequentemente pelo ticket RNEW11, cotado a R$9”, diz.

AES Tietê (TIET4 e TIET3)

Outros dois papéis na lista das cotações mais baixas do setor elétrico são o TIET4, negociado a R$2,9 e em 2º lugar no ranking, e o TIET3, precificado em R$3,05 e na 3ª colocação. Ambos são ações da empresa de geração de energia AES Tietê.

“Eu recomendaria a AES Tietê, especificamente a TIET3, porque a ação realmente está barata em relação ao valor de mercado da empresa”, afirma Fernandez. “Se for levar em consideração o balanço patrimonial e os dados contábeis, os papéis deviam valer R$4,77.”

Na última quarta-feira (5), a companhia anunciou lucro líquido no segundo trimestre de R$119 milhões, resultado 236% maior que o mesmo período do ano passado. “Ela tem uma boa margem operacional, boa geração caixa, e uma relação dívida líquida e patrimônio líquido mais administrável”, aponta Goulart.

O fato de ela ser uma distribuidora de energia ajuda na constância dos resultados, mas também existem riscos no setor. De acordo com os analistas, o segmento de energia é muito exposto à ingerência governamental.

“Quando a Dilma tentou baixar as tarifas elétricas na canetada, por exemplo, as distribuidoras sofreram um pouco, porque as empresas têm custos fixos”, explica Goulart. “Mas são empresas que mantém a resiliência, de um modo geral.”

Os papéis da AES Tietê também são apontados como bons pagadores de dividendos. “O nível de dividendos ao ano é de 6,4%, até melhor que alguns papéis de renda fixa”, analisa o especialista da Polyface.

Entretanto, a recomendação não é unanimidade. Para França,apesar de ser boa pagadora de dividendos, a companhia não indicaria a compra no momento. “Ela nos parece bem precificada.”

Equatorial Pará (EQPA3)

No último lugar da lista está o papel EQPA3, cotado em R$3,36, da distribuidora e transmissora de energia Equatorial Energia Pará. Na visão de Goulart, trata-se de uma firma pequena, que não é destaque no segmento. “Em vez de comprar ações da filial Equatorial Pará, eu recomendaria comprar logo a Equatorial Energia (EQPL3)”, explica.

A empresa ainda não se recuperou totalmente da crise. No início do ano, os papéis estavam cotados em R$3,44, atingiram o pico de R$5 em janeiro, e depois caíram novamente na faixa dos R$2. “Ainda não voltou aos patamares, mas a dívida está controlada, a geração de caixa também é razoável”, pontua Goulart.

Já para Fernandez, o papel é até uma opção, mas a preferência seria pelas ações da AES Tietê. “É uma firma com uma gestão melhor, que está com as ações baratas, mas se fosse para enumerar, TIET3 estaria em primeiro lugar.”

Quais são as outras oportunidades no setor?

Fora desse ranking, existem muitas outras empresas cujos papéis tiveram melhor performance no ano e que são mais recomendados pelos especialistas. A maioria dessas recomendações se concentram em companhias de transmissão de energia elétrica.

“Transmissão é um segmento mais estável ainda, com empresas que são boas pagadoras de dividendos e que não precisam mais investir tanto no negócio”, declara Goulart. “Alupar e TAESA, são alguns exemplos”, diz. Atualmente o ALUP11 e o TAEE11 estão cotados em R$24,79 e R$28,37, respectivamente, e não recuperaram os patamares pré-crise.

Essas firmas também estão entre as recomendações de Fernandez. “Adicionaria a Engie Brasil (EGIE3) e Energias do Brasil (ENBR3)”, diz. “No geral, eu diria que o setor elétrico está barato.”

Os papéis de companhia Eletrobrás (ELET6) e Energisa (ENGI11), cotadas a R$39,91 e R$50,14, são indicações de França. “Estamos com essas no radar.”

Jenne Andrade, O Estado de São Paulo